A soja acaba de se tornar, mais uma vez, persona non grata nas lavouras no Estado do Paraná. Isso ocorre sempre que decretados os 90 dias de vazio sanitário da oleaginosa, período em que o principal cereal plantado no Estado e líder em produção no oeste do Paraná passa da condição de grãos de ouro à preocupação sanitária.
Até 15 de maio, toda soja no Paraná tem de estar colhida ou dessecada. As plantas vivas precisam ser eliminadas das lavouras até 9 de junho, véspera do período legal do vazio sanitário que se iniciou no dia 10 e vai até 10 de setembro.
A medida é para proteger o cultivo comercial na safra de verão, assim como o bolso dos agricultores, de um fungo de difícil controle que se alastra agressivamente e pode dizimar plantações inteiras, reduzindo drasticamente a produtividade.
À exceção de cultivos de pesquisa científica, devidamente comunicados à Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná), as plantas de soja já estão proibidas no Estado. Áreas onde o cereal for encontrado, seja ele planta voluntária ou cultivada, vai render autuação e multa ao dono do terreno.
Sobre o fungo
O Paraná é o estado que abre o calendário do vazio sanitário da soja, período de 90 dias em que nenhuma planta deve ser deixada no ambiente, para reduzir as chances de sobrevivência do fungo Phakopsora pachyrhizi, causador da doença conhecida como ferrugem-asiática.
Sem pé de soja, sua principal hospedeira, o fungo, que é transmitido em esporos que viajam pelo ar, morre em no máximo 50 dias.
Técnicos e agricultores sabem que a doença é traiçoeira. Somente na região oeste do Paraná, no último cultivo, foram mais de cem registros em lavouras comerciais, uma vez que as condições climáticas foram bastante favoráveis à proliferação da doença, favorecida pelas baixas temperaturas ao amanhecer e à noite, umidade excessiva, calor durante o dia e ventos que levam o fungo pela deriva.
Surgimento
Quando surgiu no Brasil, em 2001, o prejuízo na quebra da safra foi de US$ 125 milhões. Nos anos seguintes, a cifra saltou para US$ 737 milhões e depois para US$ 1,22 bilhão. Desde então, o controle da ferrugem da soja, por meio de pulverizações de defensivos agrícolas combinados, vem custando aos agricultores cerca de US$ 2 bilhões por ano.
O que torna a ferrugem da soja ainda mais perigosa é o fato de, no médio prazo, não haver previsão de surgimento de novas moléculas eficazes contra o fungo. A ferrugem da soja causa desfolhamento da planta e prejudica a formação e o enchimento dos grãos. O controle atual é feito com base num tripé: o plantio dentro da janela de tempo do zoneamento agrícola, o vazio sanitário e o uso de uma combinação de defensivos agrícolas.
No Paraná, o vazio sanitário foi antecipado este ano em cinco dias em relação a estados vizinhos, como Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul. A medida é para ganhar tempo para o plantio precoce da safra de verão, aumentando a janela subsequente para o cultivo da safra de inverno.
A portaria do governo do Estado que regulamenta o assunto prevê que as concessionárias de rodovias e ferrovias, e até mesmo donos de terrenos baldios, podem ser multados caso não destruam plantas de soja que nasçam em suas propriedades ou faixas de domínio. A multa inicial varia de R$ 300 a R$ 16,5 mil, a depender de fatores atenuantes e agravantes que forem levantados durante o processo administrativo.
Na região oeste são mais de 1 milhão de hectares agricultáveis. Técnicos da Adapar farão a fiscalização, mas quem encontrar soja em cultivo também pode denunciar no telefone (45) 2101-4998.