Marrakech – A eleição de um presidente americano que chamou o aquecimento global de uma “farsa” gerou indagações nesta quarta-feira sobre o envolvimento dos Estados Unidos no Acordo de Paris ? e sobre o futuro do próprio tratado.
Conforme o sol nasceu sobre a Cordilheira do Atlas, notícias sobre a vitória de Trump começaram a se espalhar na 22ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-22) em Marrakech, no Marrocos, onde representantes de quase 200 países ? incluindo os Estados Unidos ? se encontram pela primeira vez desde que o acordo histórico entrou em vigor.
A primeira reação oficial veio de uma aliança de pequenas nações insulares que temem desaparecer com a elevação dos mares. Em uma declaração diplomática, o ministro de Energia das Maldivas, Thoriq Ibrahim, que lidera a aliança, parabenizou Trump e afirmou que sua administração terá que enfrentar o desafio do aquecimento global e a transição para energias mais limpas.
? Os Estados Unidos liderou esta transformação tecnológica e pode continuar a gerar trabalhos e oportunidades nesta área ? algo que pode beneficiar pessoas de todos os lugares ? afirmou Ibrahim.
Ativistas pelo meio ambiente estavam desolados com o resultado da eleição ? líder do grupo 350.org, May Boeve chamou a vitória de Trump um “desastre”.
? Trump vai tentar frear as ações voltadas ao clima, o que significa que temos que colocar todo o peso no acelerador. Nos Estados Unidos, os movimentos ambientalistas vão ter que se manter na linha para proteger todo o progresso que promovemos e continuar a buscar ações robustas ? alertou Boeve.
Em contraste com Barack Obama, que fez da contenção às mudanças climáticas uma política de governo chave, Trump chamou o aquecimento global de “farsa”, nas redes sociais, e pediu, em maio, que o Acordo de Paris fosse “cancelado”.
Mais de 100 países, incluindo os Estados Unidos, aderiram formalmente ao tratado, que orienta a redução nas emissões de gases do efeito estufa e busca auxiliar países vulneráveis à elevação dos oceanos, entre outras mudanças climáticas.
Nos termos do acordo, o processo de desvinculação de um país duraria quatro anos ? um mandato presidencial inteiro. Mas Trump poderia também simplesmente ignorar a adesão da administração de Obama ao tratado, em que os Estados Unidos se comprometeram a reduzir suas emissões de 26% a 28% até 2025, tendo como base os valores para 2005. As metas são determinadas pelos próprios países, e não há punição àqueles que não cumprem os objetivos.
Não é claro o que aconteceria com o acordo com uma eventual saída dos Estas Unidos, no entanto, representantes americanos já afirmaram, antes da eleição, que acreditavam que os outros países seguiriam em frente porque têm interesses nacionais na transição para energias limpas.
? Me parece o resultado em um pleito americano mais desastroso em termos de gestão do clima. O mundo pode fazer esta gestão sem os Estados Unidos? Ele tem que fazê-lo ? pontuou o especialista em geleiras na Dinamarca e na Groenlândia Jason Box.
A conservadora Aliança Americana pela Energia acolheu a vitória de Trump, destacando que os americanos estariam cansados de verem seus interesses ficarem em segundo plano, atrás dos interesses especiais em Washington D.C..
? A eleição de Trump apresenta uma oportunidade para redefinir as políticas energéticas nocivas da última geração. Ele disponibilizou um plano energético que coloca as necessidades das famílias americanas e dos trabalhadores em primeiro lugar ? argumentou Thomas Pyle, presidente do grupo.