Motoristas gastam mais de R$ 700 somente com as tarifas
Foz – Não é de hoje que os caminhoneiros, principalmente os autônomos, reclamam do preço pago pelo pedágio. Em média, segundo o presidente do Sindicam (Sindicato dos Caminhoneiros Autônomos de Cascavel e Região), Jeová Pereira, a tarifa cada vez mais cara não condiz com o real cenário das rodovias que cortam o Paraná.
“É uma situação bastante constrangedora aos caminhoneiros, pois o frete é baixo, o óleo diesel e o pedágio cada vez mais altos, e as pistas, além de mal conservadas não são duplicadas”, relata Pereira.
Para se ter uma ideia do quanto os preços do pedágio implicam na renda dos motoristas, que levam 80% de tudo que é produzido na região até o Porto de Paranaguá, o diretor-presidente da Coopavel, Dilvo Grolli, demonstrou em recente evento de lançamento do Pelt (Plano Estratégico de Logística e Transporte), em Cascavel, números que comprovam o rombo das tarifas no bolso do trabalhador. Conforme ele, um caminhão de sete eixos (a média da região) carregado com 600 sacas de soja paga aproximadamente R$ 770 só em tarifas para ir de Foz do Iguaçu a Paranaguá. É o mesmo que dizer que são deixadas 12 sacas de soja nas praças de pedágio até que o caminhão chegue ao destino final.
NA PONTA DO LÁPIS
Levantamento da Agepar (Agência Reguladora do Paraná), por meio do Pedagiômetro – ferramenta virtual que atualizada diariamente a arrecadação das praças de pedágio paranaenses -, mostra que de janeiro até sexta-feira (14) foram arrecadados R$ 1,19 bilhão com as concessões rodoviárias do Anel de Integração do Estado. Somente nos trechos de abrangência da Ecocataratas a soma chega a R$ 165.171.626,80, com um tráfego de 7,4 milhões de veículos. A extensão da concessionária segue de Cascavel até a fronteira entre Brasil e Paraguai (145,8 quilômetros) e de Cascavel a Guarapuava (241,3 quilômetros).
Ser caminhoneiro hoje é também um desafio. Ao colocar todas as despesas na ponta do lápis, Pereira comenta que a profissão já não é mais viável. No Oeste, a maioria dos caminhões que segue até Paranaguá é de sete eixos, com capacidade para 37,5 toneladas. A cada tonelada são pagos até R$ 70, o que significa que a cada viagem o motorista recebe o valor bruto de R$ 2.625 de frete.
“Não tem como trabalhar assim. Se todos soubessem como é difícil a realidade do caminhoneiro muita coisa poderia mudar. Sem falar que por falta de fiscalização, o valor do pedágio é embutido no frete, o que não é permitido”, lamenta o presidente do Sindicam. O ideal, segundo Jeová, era de que as transportadoras pagassem no mínimo R$ 110 por tonelada, o que daria em média R$ 4,1 mil por trecho. Além disso, seriam pagas a parte as despesas com pedágio.
Hoje, grande parte dos motoristas recebe o valor do frete em postos de combustíveis, onde trocam a carta-frete, uma ordem de pagamento praticada há mais de 50 anos e que foi extinta por lei em 2010. “Isso já é ilegal, mas a ANTT [Agência Nacional de Transporte Terrestre] não fiscaliza e a prática continua. Esse é o cenário que vivenciamos e uma amostra de como o transporte rodoviário está abandonado no País”, acrescenta.
Insegurança
Outra situação enfrentada pelos caminhoneiros é a falta de segurança nas estradas. O presidente do Sindicam, Jeová Pereira, diz ainda que não há assistência aos motoristas nas rodovias concessionadas, nem pontos de parada para almoço, janta, banho e descanso e reforço policial. “A rodovia pedagiada ficou pior, a Polícia Rodoviária Federal deixou de fazer o monitoramente constante por conta dos carros das concessionárias que deveriam fazer esse serviço. Não temos poder de polícia para repreender o crime na estrada”, diz. A categoria pede mais fiscalização inclusive nos postos de combustíveis às margens da rodovia. (MK)