RIO – As medidas de estímulo à economia foram recebidas com desconfiança por analistas. Para Fábio Silveira, sócio-diretor da MacroSector, os pontos apresentados têm efeito limitado e servem apenas para evitar que mais empresas quebrem no ano que vem. Ele defende que uma recuperação só será possível quando os juros básicos da economia caírem mais fortemente.
? São medidas tópicas, visando trazer algum fôlego para que as empresas consigam iniciar 2017 e não quebrarem. Crescimento mesmo só vai ter quando juros caírem. Enquanto estiverem nesse patamar estratosférico não tem crescimento ? avalia o analista, que espera um início da retomada a partir do segundo semestre de 2017.
Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio e ex-diretor do Banco Central, também não vê saída sem queda de juros.
? Medidas como essas são boas em qualquer circunstância. Mas para alavancar uma recuperação mais rápida, não. Com taxas de juros desse tamanho, é impossível ? afirma.
Para ele, faltou no pacote uma ação mais direta para facilitar a renegociação de dívidas de empresas e famílias. Ele defende, por exemplo, a liberação de compulsórios (recursos que os bancos precisam deixar depositados no Banco Central) para reestruturar os débitos. Para isso, seria necessário que o dinheiro fosse “carimbado”, ou seja, liberado com a condição de que as instituições financeiras usassem exclusivamente para viabilizar essa reestruturação.
? Existem esses mecanismos, mas o BC tem dificuldade de aceitar isso, porque exige muita fiscalização e controle. Mas o banco tem que usar o dinheiro próprio para fazer a renegociação, em vez do trabalhador sacar o FGTS para quitar ? diz o especialista, em referência à proposta que o governo acabou deixando de lado nesse primeiro momento.
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, avalia que as medidas mostram que a equipe econômica não se rendeu à tentação de fazer medidas de curto prazo.
? (O Refis) é a única parte do pacote mais geral de socorro de curto prazo. mas essa é uma medida dentre inúmeras outras mais interessantes e que visam a melhora de longo prazo da economia. Ter resistido às mágicas pedidas por algumas pessoas foi bastante positivo. São medidas de longo prazo, dentro da visão da atual equipe ? afirma.
Claudio Frischtak, economista da Inter B. consultoria, avaliou as medidas anunciadas como um sinal de que o governo tem um diagnóstico mais pessimista da economia ? e, por isso, anunciou medidas que considera agressivas.
? Quando o governo adota essas medidas é que ele está possivelmente vendo é que a situação da economia é mais frágil do que aparenta ser. As medidas são necessárias, e a maneira que eu interpreto é que o governo está vendo uma fragilidade adicional que o mercado não está enxergando ? afirma o economista. ? São medidas fundamentalmente para conter a possibilidade de recessão em 2017.