Cotidiano

Dorina estreia show em homenagem aos 70 anos de Aldir Blanc

2016 915115046-201606091856417190.jpg_20160609.jpg RIO – Aldir Blanc completa 70 anos no dia 2 de setembro, mas o carisma e o sucesso do músico e escritor tijucano fizeram com que as comemorações começassem bem antes. Hoje e amanhã, a sambista Dorina, radicada na Tijuca há seis anos, se reencontra com o palco e o público do bairro no Teatro Ziembinski, após mais de uma década, para a estreia do show ?Sambas de Aldir e ouvir?, em um repertório que reúne sucessos e músicas inéditas.

Dorina apresentará canções como ?Imperial?, parceria de Aldir com Wilson das Neves, e ?Casa de marimbondo? e ?Navalha?, compostas com João Bosco. As novidades são ?Pretinho básico?, feita exclusivamente para a intérprete, e ?Gordo?, homenagem ao compositor Maurício Tapajós, morto em 1995. Dorina se emocionou com a alegria de Aldir quando ela decidiu cantar a música, rechaçada por vários intérpretes por conter um sonoro palavrão.

? Eu estava pensando em cantar essa música, até porque o show tem outras duas composições feitas em parceria com ele, e quando comentei com Aldir, a reação foi maravilhosa: ele disse que seria o homem mais feliz do mundo se eu decidisse cantar. Neste ponto, já era um caminho sem volta. Se era tão importante para ele, é claro que eu cantaria ? afirma.

Mais identificada com os sambas de roda e partido-alto, a sambista mudou um pouco a roupagem de seu trabalho para se adequar à dinâmica do espaço onde, em 2002, promoveu o circuito ?O samba vai ao teatro?. A escolha do local tem a ver com a identificação do homenageado com a Tijuca.

? Aldir merece ser reverenciado por tudo o que representa para a música e para a cultura brasileiras. Faz parte da nossa crônica urbana, com suas letras, valores e textos publicados nos páginas de ?O Pasquim?. Para dar conta disso, o público verá uma Dorina diferente, porque este é um divisor de águas para a minha carreira, com foco no samba pesado ? afirma Dorina, torcedora do América e da Portela.

Uma surpresa reservada às apresentações é o cenário, inspirado na decoração dos anos 60 e 70 do século passado. Ela garante que o formato vai sensibilizar o público:

? Estreia dá sempre um nervoso, um frio na barriga, mas vai dar tudo certo. Aldir só tem coisa boa, tudo está lindo. Fiz intensa preparação vocal, para mostrar um trabalho cantado com mais refinamento, em ambiente intimista, diferente das rodas de samba nas quais me apresento com grupos maiores.

Satisfeito com a homenagem, o salgueirense Aldir Blanc não poupa elogios à cantora, a quem conheceu nas ruas da Muda, durante ensaios de seu bloco Não Muda Nem Sai de Cima?.

? Estamos vivendo uma época de farsantes: falsos membros da velha guarda invadem as escolas de samba, evangélicos que se escudam na religião para roubar os pobres etc. O que mais me encanta na Dorina, em sua criatividade, em suas interpretações, é que ela é de verdade, é autêntica. E isto, no Brasil de hoje, vale mais que ouro. É uma homenagem comovente por todos esses motivos. Não existe nada pior do que falsidade, e o que vem dela vem do coração ? afirma o compositor.

Quando os elogios pareciam ter alcançado o limite, Aldir evoca a leitura de ?Nove vidas”, do escritor e historiador escocês William Dalyrmple, para uma reflexão sobre a atitude da cantora perante a música.

? Há uma passagem sobre um bailarino dalit (indiano). Ele diz sobre sua arte, após anos de difícil aprendizado: ?Você pode ensaiar a maquiagem, os passos, a história e a fantasia, mas não pode treinar um transe?. Essas palavras são perfeitas para definir o que acontece quando Dorina canta. Ela recebe o que há de mais nobre dos sambistas ancestrais e deixa fluir. Não finge, não falseia, segue a tradição de grandes cantoras brasileiras, de Dalva de Oliveira a Maria Bethânia e Elis Regina. É tudo verdadeiro, sofrido, lindo. E não é uma arte destituída de risco quando autêntica: pode matar a mensageira ? avalia.

A emoção parece ser mesmo a tônica do show. No intervalo entre cada bloco, serão apresentados áudios, nos quais Aldir declamará trechos de poemas, crônicas como ?O tijucano?, na qual revela seu amor pelo bairro, e reflexões críticas sobre a contemporaneidade. Junto com Dorina, subirá ao palco o trio formado por Paulão 7 Cordas, diretor do espetáculo; Ramon Araújo (violão), e o percussionista Rodrigo Reis. Aldir garante não ter feito qualquer exigência ou sugestão na escolha do repertório do show.

? Fiz questão de não interferir em nada. Com o resultado, fica provada a integridade da Dorina, ao escolher músicas inéditas. É preciso ter talento e coragem para incluir na lista novas músicas, desconhecidas do público, que não são fáceis da cantar. Mas, com o valente Paulão no apoio, tudo fica mais tranquilo ? conclui.

Ainda sem saber dos elogios, Dorina mostra felicidade pelas reações do homenageado, que voltou a produzir especialmente para o show.

? Ele me mandou várias mensagens dizendo que está muito feliz e a minha felicidade vem disto. Ele acabou voltando a gravar e a compor para essa homenagem, e isso não tem preço ? conclui.