Após muitos atrasos, o telescópio James Webb, o maior e mais potente já lançado, vai iniciar sexta-feira (24) sua “viagem” ao espaço, de onde vai captar a luz das primeiras estrelas.
O lançamento do James Webb, que tem um instrumento calibrado pela astrônoma portuguesa Catarina Alves de Oliveira e a segurança das operações supervisionada por engenheiros do ISQ – Instituto de Soldadura e Qualidade -, está previsto para sexta-feira, às 12h20 (hora de Lisboa), a bordo do foguetão de fabricação europeia Ariane 5, da base de Kourou, na Guiana Francesa.
O telescópio, que tem o nome de um antigo dirigente da agência espacial norte-americana Nasa, que lidera o projeto, é uma “empreitada” com mais de 30 anos e sua história é marcada por recordes de engenharia, orçamento e prazos de lançamento.
O James Webb esteve para ser lançado em 2007, mas, ano após ano, os adiamentos foram se sucedendo. O mais recente ocorreu em meados de dezembro devido a um problema de comunicação entre o telescópio e o foguetão, na véspera do lançamento.
Os custos, estimados inicialmente em US$ 500 milhões, superaram os US$ 10 bilhões.
Não obstante as derrapagens, o James Webb é o maior e mais potente telescópio espacial, destronando o seu antecessor, o “velhinho” Hubble, há 31 anos em órbita, a 570 quilômetros da Terra.
O espelho principal do Webb tem 6,5 metros de diâmetro (mais 4,1 metros do que o do Hubble) e é composto por 18 segmentos hexagonais que funcionam como um todo, melhorando a sua sensibilidade (100 vezes superior à do Hubble).
“Em astronomia, o tamanho de um telescópio é fundamental. Quanto maior, mais fotões podem ser colhidos e, por isso, podemos ver objetos tênues e distantes, como as primeiras galáxias que existiram no universo”, disse a astrofísica Elisabete da Cunha, do Centro Internacional de Investigação em Radioastronomia da Universidade da Austrália Ocidental.
Depois de “viagem” pelo espaço durante um mês, em que vai “desdobrando” os componentes para adquirir a configuração final, o James Webb ficará posicionado a 1,5 milhão de quilômetros da Terra.
O telescópio vai captar a luz de corpos celestes mais longínquos, de 13,5 bilhões de anos, quase a idade do universo (de acordo com a teoria do Big Bang, o universo terá 13,8 mil milhões de anos).
O “mais longe” que o Hubble “recuou” foi 12,5 bilhões de anos, quando as estrelas e galáxias são jovens, registrando a luz difundida por corpos celestes no visível, no ultravioleta e parte do infravermelho (invisíveis).
O Webb, além de observar as primeiras estrelas e galáxias, vai permitir “olhar para dentro” de nuvens de gás e poeira onde se formam estrelas, galáxias e sistemas planetários mais “recentes”.
Com o novo telescópio, Elisabete da Cunha espera “conseguir, pela primeira vez, fazer um mapa da distribuição das estrelas” em galáxias distantes, “verdadeiros monstros cósmicos que estão formando centenas e até milhares de novas estrelas por ano”.
“Essas galáxias distantes são das que formam estrelas mais rapidamente no universo mas, por terem quantidades enormes de poeira cósmica, até agora nunca foi possível observar diretamente as suas estrelas”, assinalou, acrescentando que vai “desenvolver modelos computacionais que possibilitem medir as propriedades físicas das galáxias” a partir das observações com o Webb, como a massa e a quantidade de poeira.
Os astrônomos poderão ainda descobrir e estudar melhor planetas extrassolares e suas atmosferas, “chegar” a zonas obscuras do sistema solar, compreender de forma mais afinada as origens da vida e procurar sinais de vida extraterrestre.
O James Webb está capacitado para registrar a luz infravermelha (luz invisível) emitida por corpos celestes com sensibilidade sem precedentes.
Os seus instrumentos científicos, quatro ao todo, decompõem a luz nos seus diferentes comprimentos de onda e focalizam-na em um detector para formar um espectro.
As propriedades de átomos e moléculas deixam assinaturas no espectro, que revela características dos corpos celestes, como temperatura, composição química, idade, densidade e movimento.
O novo telescópio resulta de uma parceria entre a Nasa e as agências europeia (ESA) e canadense (CSA).
Todos os Estados-membros da ESA, incluindo Portugal, contribuem com o James Webb por meio do Programa Científico.
Os cientistas europeus terão direito a 15% do tempo de observação do telescópio assim que estiver operacional, o que se espera que aconteça seis meses após o lançamento. Os primeiros dados científicos são aguardados em meados de 2022.
Apesar de ser o maior e mais potente telescópio espacial, o James Webb tem uma limitação: não pode ser reparado em órbita, ao contrário do Hubble, devido à sua distância da Terra, e por isso sua “esperança de vida” é curta, de cinco a dez anos.
(ABR)