A Rede de Estudos Genômicos do Paraná iniciou um novo projeto para o mapeamento genético de cepas circulantes do novo coronavírus no Estado. A iniciativa permitirá a análise mais acurada dos impactos epidemiológico e clínico da covid-19, de acordo com cada linhagem do vírus Sars-Cov-2.
Pesquisadores das sete universidades estaduais fazem parte da Rede de Estudos Genômicos, que reúne mais de 200 pesquisadores de instituições de ensino e de pesquisa, públicas e privadas. O novo projeto conta com aporte de recursos financeiros da ordem de R$ 525,6 mil, viabilizado pelo Governo do Estado, por meio de repasse da Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior para a Fundação Araucária.
O coordenador da Rede de Estudos Genômicos do Paraná e coordenador da pesquisa, professor David Livingstone Alves Figueiredo, da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), explica que para identificar as variantes será realizado o sequenciamento genético de mil amostras coletadas de pacientes diagnosticados com a doença em diferentes cidades do Paraná.
“Inicialmente, essa ação vai permitir entender, de maneira muito rápida, quais cepas foram predominantes nesse período de grande evolução da pandemia, no primeiro semestre do ano”, afirma Figueiredo, que também coordena do curso de Medicina da Unicentro.
Ele diz que se trata de um estudo de corte prospectivo multicêntrico, cujas amostras serão selecionadas em duas etapas: 500 amostras coletadas em março (primeira fase) e 500 amostras coletadas em maio (segunda fase). As linhagens (cepas) identificadas serão associadas às informações clínicas dos casos estudados, cujas amostras abrangem todas as faixas etárias. Os resultados finais serão divulgados em julho deste ano.
O professor Livingstone destaca que nos próximos meses, depois de outra etapa desse amplo sequenciamento, será possível compreender a evolução das variantes do novo coronavírus, principalmente no período pós-vacina. “Analisar amostras de pacientes infectados depois da vacinação da população é importante para identificar as cepas que continuam infectando as pessoas mesmo depois de imunizadas”, ressalta.
O surgimento de novas linhagens do vírus vem alertando a comunidade científica para concentrar esforços no rastreamento de cepas circulantes, principalmente devido ao potencial de infecção e de disseminação nos grupos mais vulneráveis da população.
TOPO – Para o superintendente de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Aldo Nelson Bona, essa iniciativa deve posicionar o Estado no topo do ranking de vigilância genômica e monitoramento do novo coronavírus no Brasil.
“A identificação das cepas predominantes é importante para apoiar as estratégias de enfrentamento da pandemia. O Paraná é um dos estados que mais realiza testes de diagnóstico e, a partir desse projeto, estará entre os que mais sequenciaram o vírus e que, em consequência, detém adequada informação epidemiológica”, afirma.
O Brasil vem enfrentando uma escalada da pandemia e, por isso, é fundamental identificar variantes de linhagens do vírus e os efeitos nos pacientes. Nessa perspectiva, a iniciativa paranaense de sequenciamento genômico assume um caráter de projeto epidemiológico, indo além de um projeto de pesquisa e conhecimento científico.
PROJETO INICIAL – Em outubro do ano passado, o Paraná começou os trabalhos de sequenciamento genômico do novo coronavírus e do exoma de pacientes infectados, com o objetivo de entender o potencial de gravidade dos casos, a partir de alterações genéticas. Inicialmente, foram estudadas 158 amostras de material genético do vírus Sars-Cov-2 e de pacientes acometidos pela Covid-19, envolvendo casos leves, moderados e graves da doença.
Segundo o professor, o sequenciamento do exoma, que consiste na identificação de um grande conjunto de genes (mais de 25 mil), encerrou neste mês, passando agora para a etapa de análises do material genético. “Resultados preliminares apontam indícios de relação de algumas cepas com a gravidade da doença, porém a análise do exoma vai evidenciar informações mais assertivas para essa questão clínica de resposta pelos pacientes”, diz o pesquisador.
Ele explica que foram identificadas 11 linhagens virais circulantes no território paranaense, desde outubro de 2020, incluindo as variantes P1, descoberta no Amazonas, e P2, identificada no Rio de Janeiro. As cepas mais frequentes foram B.1.1.28 (33,5%) e B.1.1.33 (33,54%).
Para investigar essa diversidade de linhagens do Sars-Cov-2 e as diferentes características clínicas nos pacientes diagnosticados com a Covid-19, a pesquisa utilizou técnica de sequenciamento genético de última geração, em larga escala.
REDE DE ESTUDOS GENÔMICOS – Lançada em julho do ano passado, a Rede de Estudos Genômicos do Paraná tem como objetivo contribuir para o avanço e desenvolvimento de metodologias aplicadas ao diagnóstico e prevenção de patologias de base genética, tais como doenças oncológicas e a própria Covid-19, infecção causada pelo novo coronavírus.
Instituída no âmbito do Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação em Genômica (Napi Genômica), a rede paranaense reúne mais de 200 pesquisadores de instituições de ensino superior e de instituições de pesquisa científica e tecnológica, públicas e privadas. No mês passado, passou a integrar a rede nacional, denominada Rede Corona-ômica Brasil, vinculada à Secretaria de Pesquisa e Formação Científica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.