Curitiba – A série de projetos de lei de autoria do Poder Executivo do Paraná enviados à Assembleia Legislativa do Paraná não foi bem recebida por importantes setores da sociedade civil organizada do Paraná. Entre as propostas enviadas no “pacotão”, está à privatização da Copel (Companhia Paranaense de Energia), a criação de nove secretarias estaduais e de 493 cargos na estrutura do governo; aumento da alíquota de ICMS; terceirizações no sistema penitenciário e vinculação de repasses do Índice de Participação dos Municípios ao desempenho na área de educação e da criação de um Fundo de Desenvolvimento da Infraestrutura Logística. As propostas que tramitam em regime de urgência.
O projeto que mais causou polêmica foi o PL 498/2022 que pretende criar o FDI-PR (Fundo de Desenvolvimento da Infraestrutura Logística no Paraná), pois, de acordo com o texto, na prática, a proposta irá taxar o agro paranaense para garantir a manutenção do novo fundo. (Oeste reage, confira matéria na página 7)
De acordo com a proposta, o FDI-PR será vinculado à Secretaria de Estado da Fazenda, destinado a financiar o planejamento, estudos, execução, acompanhamento e avaliação de obras e serviços de infraestrutura logística em todo o estado. Contudo, parte da fonte de custeio do fundo seria produtores do agronegócio beneficiados pelo diferimento do ICMS nas operações internas com produto agrícolas, ou seja, pela proposta, serão taxadas todas as operações de milho, soja, trigo, cana-de-açúcar, mandioca, toras, gado, suíno e frango.
O governo do Paraná justifica o projeto informando que a proposição tem “objetivo de atender a políticas públicas de estímulo à expansão, manutenção e melhoria da infraestrutura logística estratégica do estado, de forma a conferir maior competitividade aos estabelecimentos produtores, indispensável diante o avanço da integração dos mercados e, consequentemente, do acirramento concorrencial.”
O governador ainda sustenta que a contribuição ao Fundo de Infraestrutura não tem caráter tributário. Quem optar por não financiar o fundo voltará a pagar o ICMS de forma integral e antecipada em relação aos contribuintes da iniciativa. “A opção pela contribuição ao FDI-PR é condição essencial para fruir do diferimento do ICMS, ensejando, na sua falta, a exigência integral do imposto incidente na operação”, diz o projeto de lei.
Além disso, informa que a instituição do FDI-PR visa a necessidade de um maior direcionamento de recursos e de execução pública de estimulo à expansão, manutenção e melhoria da infraestrutura logística.
Tramitação
Os projetos do pacote do governador Ratinho Junior já começaram a ser discutidos da Comissão de Constituição e Justiça da Alep. Ainda na segunda-feira (21), foi realizada uma discussão extraordinária, que acabou adiada, por conta de pedidos de vista coletivos. Os projetos retornaram à pauta na sessão de ontem (22), alguns já foram aprovados e seguiram para a comissão de Finanças e outros tiveram novos pedidos de vistas e retornam a discussão na sessão de hoje (23) para finalizar os debates.
REAÇÕES
A principais entidades do setor produtivo do Paraná, em especial as ligadas ao agronegócio se mostraram desagradadas com a proposta. A FAEP (Federação da Agricultura do Estado do) emitiu nota de repúdio contra o Projeto de Lei. Segundo a entidade, o setor não foi chamado para participar do debate sobre o tema. Além disso, afirmaram que foram pegos de surpresa pela medida. “A FAEP se posiciona contrária ao Projeto de Lei que acaba taxando os produtores rurais do Paraná. A realidade no campo exige respeito e cautela, não pensando em mais custos e sim procurando estímulos para a produção e apoio aos produtores rurais. Em nenhum momento o setor foi ouvido, gerando ainda mais surpresas. Estudo preliminar aponta que o custo total ficaria entre 1.5 e 2 bilhões de reais. Pedimos que, nesse momento, os produtores rurais procurem os deputados estaduais e reforcem o pedido para que tal projeto de Lei não seja aprovado.”
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Base defende propostas do Governo
O deputado estadual Guto Silva (PP), que deverá ser secretário do Planejamento no segundo mandato de Ratinho Junior (PSD), confirmou que os recursos do FDI-PR terão origem num percentual sobre a produção agrícola paranaense. “Esse percentual será sobre a modelagem: soja, óleo, frango e suínos; tem um percentual sobre cada categoria”.
De acordo com Guto Silva, o fundo já funciona em outros estados e tem por base a demanda do agronegócio por infraestrutura. “É uma forma de financiar esse novo modelo, podendo devolver e dar mais entregas ao agro e à população do Paraná com obras estruturantes na área rural e, naturalmente, rodovias e projetos que vão atender grande parte do nosso agro”.
Segundo o parlamentar, os valores serão utilizados para financiar infraestrutura no interior. “Para rodovias vicinais, rodovias que carecem de acostamento, terceiras faixas, da infraestrutura do interior para poder abastecer o agro e melhorar essa infraestrutura de escoamento e logística no Paraná”.