Segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), 800 mil pessoas se suicidam todos os anos no planeta. Esse dado traz outro igualmente alarmante: a cada 40 segundos uma pessoa tira a própria vida.
A campanha Setembro Amarelo, amplamente divulgada e que recebe apoio de diversos setores da sociedade, tem ampliado o diálogo em relação ao tema. No entanto, embora o apoio de voluntários à campanha seja essencial, é preciso ter cautela ao relacionar o voluntariado à prevenção da depressão ou do suicídio.
O voluntariado é uma manifestação da vontade individual de participação no processo de promoção de valores humanos positivos. E, claro, por trás disso há a questão do propósito, da causa, ou seja, o que nos motiva à ação. Ao buscarmos uma associação do voluntariado com a questão da depressão e o suicídio, por exemplo, parece essencial ter cautela, pela gravidade e complexidade da doença e atitude expostas. Creio, no entanto, que o voluntariado, ou ainda mais claramente, o protagonismo ético, pode, sim, contribuir para o fortalecimento do encontro e nutrição de nossos propósitos – entendendo como protagonismo ético o comportamento que busca vontade de agir, pela clareza das causas, para além dos programas sociais nos quais nos envolvemos de forma mais pontual ou com baixa recorrência. O que se pode afirmar, aí sim, com base em pesquisas, é que a clareza em relação aos nossos propósitos pode ampliar as chances de bem-estar subjetivo.
Em todos os programas socioculturais promovidos pelo Canto Cidadão, ONG que ajudei a fundar há 16 anos, nossa missão é a promoção de bons encontros, especialmente por meio da arte, em hospitais e escolas públicos. Cremos, sim, que os bons encontros, que valorizam a vida do voluntário e do público beneficiado, possam contribuir para o acolhimento e a sensação de pertencimento de todos os envolvidos.
O voluntariado no Canto Cidadão cada vez mais é devoto da escuta ativa, que é a vontade lúcida e competente de construir pontes para a interação sincera com as pessoas beneficiadas.
Cada vez mais tenho a convicção de que é esse o grande tesouro do nosso trabalho: a construção de laços invisíveis, mas sensíveis e perceptíveis, de gente que se importa com a história do outro.
Acredito que pela arte criamos a permissão de sair da realidade um instante rumo à descompressão, ou ainda, de permanecer na realidade com um estímulo que traz mais cor, beleza, lembrança das potências humanas que afirmam a vida. Como bem disse a pensadora estadunidense, Stella Adler, “às vezes a vida bate e estraçalha a alma da gente; daí vem a arte e nos lembra que temos uma”.
Neste mês, que é dedicado a investir ainda mais esforços no combate ao suicídio, defendo que é preciso lembrar a importância da atenção à vida, em todas as suas instâncias. O voluntariado é uma declaração de atenção, zelo e cuidado com a vida, à nossa e à do outro.
*Felipe Mello é empreendedor social e Diretor Fundador da ONG Canto Cidadão
Ao buscarmos uma associação do voluntariado com a questão da depressão e o suicídio, por exemplo, parece essencial ter cautela, pela gravidade e complexidade da doença e atitude expostas