O PSDB nasceu sob o signo da mudança, da competência, da ética. Após três décadas e feitos notáveis – o Plano Real é o fato mais relevante dos últimos 50 anos -, virou mais “um” partido preocupado com conveniências, a ponto de ter refugado a liderança, historicamente sua, pela aprovação da reforma previdenciária. A ponto de não elevar a voz nem mesmo quando projetos econômicos positivos são obstaculizados por uma oposição sectária e uma base governista inodora.
O PSDB de Covas, Montoro e Fernando Henrique dava orgulho na militância. Seus congressos e convenções eram festas democráticas, das quais saíam propostas ousadas para a nação, que as recebia com respeito.
Partidos podem perder popularidade – fenômeno que vai, mas pode retornar. Não devem é perder credibilidade que, quando se esvai, dificilmente revisita o ponto anterior. O PSDB, infelizmente, não tem cuidado do seu patrimônio.
Tal qual o PMDB, do qual se originou, meu partido também se promiscuiu entre os demais, que são dezenas, ávidos pela realização de projetos pessoais, distantes das reformas de que carece a vida dos brasileiros.
São 30 anos de realizações brilhantes e fracassos contundentes. O líder das lutas por reformas parece saciado em seus gabinetes, inserido no jogo baixo que o subverte, afronta e violenta.
O episódio Aécio Neves foi exemplar. Uma coisa teria sido garantir-se ao senador amplíssimo direito de defesa, questionando-o oficialmente e o instando a exercer seu mandato, até um eventual momento de condenação. Outra, bem diferente, é fingir que não houve nada e que política é oferecer respostas que soem como "suficientes" e "hábeis".
Onde está nossa Comissão de Ética? Que relatório poderia apresentar de sua atuação nos últimos cinco anos? Quem foi julgado absolvido diante da nação? Ou condenado, após peleja acompanhada pela sociedade?
Somos um jovem adulto de 30 anos, numa nação em que partidos costumam morrer tão cedo quanto, em fartos casos, não deveriam ter nascido. São as manhas do "tempo de televisão", de "deixar as reformas para depois do pleito", da realpolitik só de meios, quase nunca de fins.
O PSDB era respeitado até pelos adversários. Daí o choque da sociedade com a face dúbia que tem exibido.
Seu desafio é recomeçar. Ganhando ou perdendo eleições. Amparado em ideias, em projetos factíveis para o Brasil, em espírito público.
Nas democracias, é normal vencer ou ser batido nas urnas. Nelas, derrotados não se rendem aos vitoriosos. Afinal, seu dever é fiscalizar os que prevaleceram no jogo do voto.
O PSDB tem uma postura a recuperar, uma vida a retomar, uma estrada de espinhos a percorrer. A outra perspectiva seria tornar-se irrelevante, mero sobrevivente.
A "moda" tem sido a "confecção" de partidos sem "P". Cirurgia plástica!
O recaminho do PSDB não estará jamais em burlas assim, que subestimam um povo indisposto com os partidos que lhe são oferecidos.
O PSDB precisa falar obstinadamente a verdade. Sobre suas mazelas, sobre o que pensa do Brasil de 2019, de 2030. Seus equívocos, que trazem mais desilusões que os erros dos que nunca despertaram esperanças, de certa forma, abrem espaço para aventuras de oportunistas e autoritários.
Não aparece nome convincente do "centro"? Puxa! Era para ser, clara e logicamente, o nome do PSDB.
Meu partido precisa mostrar – e sentir – amor pelo povo. Sem populismo, sem esnobismo. Precisa mergulhar no coração do Nordeste e do Norte, reafirmar-se no Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Precisa ser brasileiro: simples, trabalhador, ético, sincero.
Reviver com honra ou deixar de existir. Eis a questão.
Arthur Virgílio Neto é ex-deputado federal, ex-senador, ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência (2001-2002, governo FHC); prefeito de Manaus pela terceira vez, no cargo desde 2013