Curitiba – Em interrogatório à Justiça Federal, três ex-executivos da empreiteira Odebrecht confirmaram o pagamento de R$ 4 milhões para o caixa dois da campanha de reeleição de Beto Richa (PSDB) ao governo do Paraná no ano de 2014. Os depoimentos foram prestados na terça-feira (7) no âmbito de uma ação penal em trâmite na 23ª Vara Criminal de Curitiba e ligada à Operação Piloto. Todas as pessoas ouvidas na terça-feira – cinco dos dez réus do processo – são colaboradores da investigação. Outros interrogatórios ocorreram ontem.
Presidente da Construtora Norberto Odebrecht em 2014, Benedicto Barbosa da Silva Júnior – conhecido como BJ – confirmou que aprovou uma doação eleitoral via caixa dois para Beto Richa atendendo a um pedido feito pelo engenheiro civil Luiz Antônio Bueno Júnior, que na época era diretor-superintendente da construtora das regiões São Paulo-Sul.
Luiz Bueno foi quem, naquele ano, teve contato com Deonilson Roldo, então chefe de Gabinete de Beto Richa, por conta do interesse da Odebrecht na PPP (Parceria Público-Privada) proposta pelo governo para duplicação da PR-323.
No seu depoimento terça-feira, Luiz Bueno contou que perguntou a “Deo” sobre possíveis concorrentes na licitação da PPP e que, ao saber sobre o interesse da empresa Contern, tentou convencê-la a não oferecer proposta em troca de uma participação de 10% nas cotas da Odebrecht na obra do Paraná. Ele também disse que, ao fim de uma conversa com “Deo” sobre a PPP, ouviu do então chefe de Gabinete que a campanha de reeleição “contava com o apoio” da Odebrecht.
O apoio
Outro ex-executivo da Odebrecht explicou como o “apoio para a campanha eleitoral” teria sido concretizado. O engenheiro civil Luciano Ribeiro Pizzato – que em 2014 era diretor de contratos da Odebrecht em Curitiba – revelou à Justiça Federal que estava presente nas reuniões entre “Deo” e Luiz Bueno e que, tempos depois, foi procurado por Jorge Atherino, que se apresentava como “interlocutor na captação de recursos para a campanha eleitoral”.
“Em junho de 2014 eu fui procurado por Jorge Atherino no escritório da Odebrecht e ele foi me questionar se a companhia contribuiria para a campanha de Beto Richa conforme sinalizado pelo Luiz Bueno ao Deonilson Roldo lá em fevereiro de 2014. Eu disse que não era o meu papel e que levaria isso ao conhecimento do meu superior. Falei com o Luiz Bueno e ele disse que iria conversar com o BJ. Conversou com BJ e ele disse que o valor seria de R$ 4 milhões, mas em caixa dois. Pediu que eu levasse isso a Atherino para saber se eles estariam de acordo com a forma de contribuição. Procurei Atherino e pedi para ele verificar com o partido. Depois, estivemos juntos novamente e ele disse que o partido tinha dado ‘ok’. Pedi para o Atherino um endereço em São Paulo e foram feitos os R$ 4 milhões de repasses. Toda entrega ele me confirmava se tinha dado certo”, relatou Pizzato, na terça-feira à Justiça Federal.
As reuniões
Pizzatto também dá detalhes sobre como teriam sido as reuniões entre Deonilson Roldo e Luiz Bueno. Ele relata que “Deo” aceitou agir para beneficiar a Odebrecht na licitação: “Agendei uma reunião em janeiro de 2014 a pedido do Luiz Bueno [que atuava em São Paulo] com o Deonilson Roldo. Ele externou a Deo que a Odebrecht tinha investido grandes recursos nos estudos e tinha interesse na conquista do projeto e perguntou a Deo se ele poderia apoiar e interagir com possíveis interessados para que não ofertassem proposta na licitação. Deo não esboçou reação no momento. Disse que iria avaliar. Em fevereiro houve uma segunda reunião, bastante curta, no gabinete do Deo, e ele disse que atenderia a solicitação do Luiz Bueno. E, no final, Deo comentou se poderia contar com a Odebrecht na campanha do Beto Richa”, descreveu.
Réus
Tanto Jorge Atherino quanto Deonilson Roldo são réus no processo e seriam interrogados ontem (8). Embora seja investigado, Beto Richa ainda não foi denunciado pelo MPF no caso. Os três rejeitam as narrativas do MPF.
Entre os agentes públicos que figuram na ação, apenas o ex-diretor do DER (Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná) Nelson Leal aderiu à colaboração premiada e contribuiu para a confirmação da maioria das informações prestadas pelos executivos da Odebrecht e para o esclarecimento do esquema criminoso.
Lava Jato prende executivos de banco
A Operação Lava Jato deflagrou na manhã dessa quarta-feira (8) uma nova fase, na qual foram presos executivos do Banco Paulista, sob acusação de facilitar a lavagem de dinheiro de propina que era distribuído pela Odebrecht.
Nessa etapa, a 61ª, chamada Disfarces de Mamom, os alvos dos mandados de prisão são três executivos do Banco Paulista: Paulo Cesar Haenel Pereira Barreto, Tarcísio Rodrigues Joaquim e Gerson Luiz Mendes de Brito. Também foram executados 41 mandados de busca e apreensão em sedes do banco.
Na época dos crimes, os executivos atuavam, respectivamente, como funcionário da mesa de câmbio, diretor da Área de Câmbio e diretor-geral do banco. Os mandados foram expedidos pela 13ª Vara Federal de Curitiba.
Segundo o MPF-PR, investigações revelaram que ao menos R$ 48 milhões repassados pela empreiteira no exterior a seis executivos acusados de corrupção foram lavados entre 2009 e 2015 por meio da celebração de contratos falsos com o banco no Brasil.
Outros repasses suspeitos a empresas aparentemente sem estrutura, na ordem de R$ 280 milhões, também são objeto da apuração, segundo o MPF.
O esquema
Segundo a Procuradoria, os funcionários do Banco Paulista contratavam empresas de fachada que emitiam notas fiscais e contratos fictícios para justificar serviços não prestados e assim camuflar pagamentos feitos e recebidos pelo banco no exterior.
Após o pagamento, as empresas, com ajuda de doleiros, remetiam numerário para exterior por meio de operações tipo dólar-cabo, conferindo assim aparência de legalidade às operações e obtendo, deste modo, dinheiro em moeda estrangeira com aparência legal.