Cascavel – Afora a tentativa de politizar e ganhar palanque com o caos que se instalou na saúde pública de Cascavel, a reunião de ontem de manhã na Câmara de Vereadores resultou em quase nada. Pior que isso só as declarações do chefe da 10ª Regional de Saúde, Miroslau Bailak, que prometeu punir os servidores que estão retendo as macas do Samu e do Siate nas UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento) porque não têm mais onde colocar os pacientes. Miroslau sugere que se coloque os pacientes em colchonetes, se não existem mais macas disponíveis. E, propositadamente, ignorou que o problema ocorre justamente pela demora na transferência de pacientes para os hospitais, de responsabilidade do Estado. Em alguns casos, os pacientes ficam mais de 20 dias nas UPAs clicados na Central de Leitos à espera de internamento hospitalar. Pela lei, esse prazo não poderia passar de 72 horas.
Em outra fala “esclarecedora”, Miroslau atribuiu o problema aos motoristas: “530 acidentes em 80 dias? Isso é um absurdo. Vocês [motoristas] são culpados disso! Você que sai bêbado para dirigir, cruzando nas avenidas. Se reduzir três acidentes dia, vai reduzir a ocupação de um leito”, disse.
O chefe da 10ª Regional de Saúde foi convocado para ajudar a resolver o problema, mas apenas encontrou culpados, e ainda se usou como exemplo. “É proibido reter macas em ambulâncias. Essa decisão é do Comitê de Urgências e Emergências. É uma prática abusiva. Vamos notificar os gestores responsáveis. Já fui coordenador do pronto-socorro do HU [Hospital Universitário] por dois anos e jamais retive maca. (…) Já cheguei a colocar paciente encima da pia, mas não retive macas”.
A questão é que, sem leitos, já que as três UPAs têm capacidade máxima para 20 pacientes em observação cada uma, na sexta-feira chegaram a atender simultaneamente 95 pessoas, das quais 49 deveriam ir para um hospital. Sem condições de atender, as UPAs seguraram as ambulâncias que chegavam com novos pacientes e o atendimento era feito dentro do veículo, que virava “leito”.
O médico regulador do Samu, Rodrigo Nicácio, deu um panorama da gravidade da situação: “Na UPA Veneza até a capela abriga pacientes. Temos um setor para empréstimo de seis a oito macas”.
O caos ficou ainda mais grave nos últimos 15 dias. Uma ambulância do Siate chegou a ficar seis horas parada numa UPA aguardando vaga para o paciente.
Internamentos
O secretário municipal de Saúde, Rubens Griep, falou sobre o problema, confirmou a retenção das macas e disse que Cascavel deveria ter um saldo mensal de 1,8 mil internações pelo SUS. Só que, em função da demanda regional, em média 600 vagas de AIHs (Autorizações de Internações Hospitalares) vão para moradores de cidades vizinhas que procuram atendimento em Cascavel.
Rubens justifica que a ação de reter macas e ambulâncias foi a medida emergencial encontrada para não deixar o paciente sem atendimento. “A situação das macas não é capricho. É necessidade. Se o Comitê de Urgências e Emergências autorizar, coloco o paciente no chão. Todos os demais hospitais podem ser portas fechadas, mas a UPA não… É preciso que entendam: UPA não é depósito de gente”, declarou.
O secretário aponta ainda uma morosidade da Central de Leitos em conseguir vagas aos pacientes do Município: “Tenho mais médicos preenchendo documentos para a burocracia para liberar leitos do que em atendimento. São várias solicitações que parecem ter o propósito de aumentar o tempo de espera para liberação do leito”.
Município vai “emprestar” servidores para o HU abrir leitos
O promotor de Saúde Pública, Ângelo Mazzuchi, cobrou o reitor da Unioeste, Paulo Sérgio Wolf, o Cascá, quanto à abertura de 30 leitos da Ala G2, que, inclusive, já teriam sido pactuados pelo Comitê Tripartite. “O HU se comprometeu em iniciar o funcionamento da enfermaria a partir de fevereiro deste ano, já houve inclusive a inauguração sem a estrutura funcionar”, disse o promotor.
A enfermaria foi inaugurada em novembro passado, só que continua fechada.
Ao fim de uma reunião realizada à tarde na sede do Ministério Público, comandada pelo promotor Ângelo, com representantes do HU, da 10ª Regional, da Secretaria Municipal de Saúde, do Consamu e da Câmara, ficou decidido que o Município cederá dez técnicos de enfermagem para que seja viabilizada a abertura de dez leitos na Ala G2 no HU, que no total tem 30 leitos. Segundo o secretário Rubens Griep, a cessão dos servidores foi autorizada pelo prefeito Leonaldo Paranhos.
"O Município já está fazendo muito além da sua parte, atendendo com as UPAs em sua capacidade máxima e vamos fazer esse esforço a mais para que consigamos reduzir a superlotação das UPAs e evitar que as macas do Samu e do Siate fiquem retidas porque não conseguimos a transferência dos pacientes que estão nas UPAs para um leito hospitalar", disse o prefeito.