A greve dos caminhoneiros escancarou um problema que há anos o Brasil tenta jogar para debaixo do tapete: o errado e caro sistema logístico, dependente do transporte rodoviário.
Em países desenvolvidos, os caminhões são usados para pequenos fretes, deslocamentos de curto espaço. A produção é praticamente toda escoada pelos trilhos e até por hidrovias, sistemas muito mais baratos e até menos poluentes.
E, apesar dos problemas evidenciados com a greve de maio, não há perspectivas de que o modelo mude no curto prazo. Estudo da Fundação Dom Cabral divulgado ontem, intitulado Plataforma de Infraestrutura em Logística de Transportes, revela que o Brasil seguirá dependente de caminhões por pelo menos 20 anos.
O diagnóstico feito a partir de dados públicos, de órgãos governamentais e de concessionárias de rodovias revela que, com o atual portfólio de projetos federais mantém o País fora dos trilhos e com um custo extremamente alto pelo menos até 2035.
A instituição estima que o custo total do País com transporte tenha atingido R$ 166 bilhões em 2015, sendo 70% consumido nas rodovias. Em 2035, esse custo subirá para R$ 233,3 bilhões, ao passo que a participação das rodovias nos custos se manterá praticamente igual, em 68%.
Embora argumente que não tem dinheiro, o governo federal também não avança nas PPPs (Parcerias Público-Privadas). O Paraná, por exemplo, tem em andamento estudo para elaboração de um novo traçado de ferrovia, que ligaria o Mato Grosso do Sul ao Porto de Paranaguá, passando pelo oeste do Paraná, especificamente na base da Ferroeste em Cascavel. A obra está estimada em R$ 10 bilhões. Ainda sem prazo para sair do papel.
Outra estrutura estacionada nas gavetas do poder público é o Aeroporto Regional, também no oeste, cujo projeto prevê um terminal de cargas. São obras que demandam menos de uma década e que, se já tivessem sido iniciadas quando o setor produtivo pediu, a realidade seria muito diferente.