Três noites após a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o acampamento de vigília permantente no bairro Santa Cândida quadruplicou de tamanho. Segundo o Movimento Sem Terra (MST), cerca de mil pessoas ocupam o entorno da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, em sua maioria sem-terra, mas há também sindicatos e movimentos de esquerda.
Acontece, porém, que muitos moradores da região não estão gostando nada do que está acontecendo, reclamando da falta de sosssego e de uma suposta infestação de ratos nas casas que seria resultado da sujeira deixada pelos manifestantes.
"São pessoas aposentadas que moram aqui, com mais de 80 anos, numa rua que era pacífica", reclama Vivian Comin. "Estamos pedindo socorro para o Moro. Deve ter uma lei, não é possível", emenda Silmara Gomes Oliveira, que relatou ainda ter sido ameaçada por um manifestante. "Fui reclamar e ele veio para cima de mim. Um repórter (da CNN espanhol) filmou, mas fizeram ele apagar o vídeo."
Nos discursos, contudo, fica evidente que a questão transcende os transtornos causados pela manifestação, evidenciando preconceitos e intolerância política. "São pessoas que dão medo na gente, dão medo de verdade. Isso é um acampamento, um assentamento de sem terra, e aqui são pessoas (os moradores) que pagam imposto, que mantém suas gramas em ordem, que mantém tudo em dia, e acabam passando por isso por um cara que roubou, gente? Não tem mais condições e se ninguém fizer nada vai começar a população a dar tiro nos caras, é simples", ameaça Viviane. "Queremos sossego, que esse povo com camisetinha vermelhinha vá trabalhar como a gente está trabalhando."
Outros moradores, contudo, já convivem de maneira mais pacífica com os manifestantes acampados. É o caso de Ricardo Luís Basílio, que afirma estar sendo bem tratado pelos 'novos inquilionos'. "Existe um certo transtorno, aqui era uma região bem calma, mas faz parte. É a luta, né, a vida é assim", conta Basílio, que teve o poste de luz de sua casa derrubado após a passagem de um ônibus com manifestantes. Situação que já estaria sendo resolvida.
"Subimos para ver o que está acontecendo, conversamos com a organização e eles trataram bem, pediram paciência que no final ia tudo ficar bem".
Outro com relado parecido é Jorge Carlo Silva. "Eles (manifestantes) estão tudo beleza, estão obedecendo, bem organizados. Inclusive eu tenho uma extensão para carregar o celular deles ali", declara. "Eles estão quietões, nao dão problema. Sou leigo nisso aí (política), estou ajudando mais por uma questão de solidariedade", diz o aposentado, que afirma ainda se sentir seguro ao ponto de poder dormir com o portão de casa aberto.
POLÊMICA DOS RATOS
Outros moradores ouvidos na região do acampamento apontaram uma versão diferente para o caso dos ratos que estariam aparecendo na região. Uma aposentada que preferiu não se identificar, por exemplo, explicou que o local onde fica o prédio da Polícia Federal, onde Lula está preso, era para ter sido construído um hospital. Como a unidade não saiu do papel, o prédio acabou virando a sede da PF em Curitiba.
Só que atrás desse prédio existe um bosque que era particular, foi desapropriada e doado para a União. No final desse bosque há um rio, de onde estariam vindo os ratos e "baratonas do mato" – algo que, segundo a aposentada, acontece desde sempre por ali.