Curitiba – Embora em um formato mais dinâmico que o tradicional, o primeiro debate entre os candidatos ao governo do Paraná foi tranquilo. Com exceção de algumas alfinetadas do candidato do MDB João Arruda, que insistia no termo “velha política” e várias alusões ao Governo Beto Richa, entre si todos se trataram com exagerada cordialidade.
A Band estruturou o debate em cinco blocos, todos com embate direto entre candidatos, sem restrição à quantidade de perguntas. Cada candidato podia perguntar a quem quisesse.
A governadora Cida Borghetti (PP) começou perguntando e foi a mais incitada, assim como Arruda e Ogier Buchi (PSL).
O debate começou com o tema corrupção, levantado justamente pela atual governadora, que aproveitou para destacar a criação da divisão de combate à corrupção feita por ela tão logo tomou posse do cargo, em abril. “Quando criamos a divisão de combate à corrupção demos autonomia, integramos as forças de segurança, e as instituições têm autonomia para investigar funcionários públicos, assessores, secretários. Convido a você a denunciar qualquer tipo de crime.”
Ogier Buchi (PSL) respondeu dizendo que “o combate à corrupção será a bandeira principal da minha administração. Representa, neste momento, o maior anseio da população. Não há brasileiro que não esteja revoltado com tudo o que está acontecendo.”
Ele não quis aproveitar a deixa para atacar os escândalos recentes do Paraná. Ao contrário de João Arruda (MDB), que não perdeu oportunidade para ligar Cida e Ratinho JR (PSC) ao Governo Beto Richa e listar os casos já na Justiça, como Quadro Negro.
Já os candidatos Professor Piva (Psol) e Dr. Rosinha (PT) lembraram o confronto de 29 de abril, quando manifestantes e a polícia se enfrentaram no Centro Cívico. Piva, inclusive, chamou Ratinho de “pai da bancada do camburão”.
Piva e Rosinha também fizeram diversas alusões ao Governo Beto Richa e também ao Governo Michel Temer, nesse caso sempre que se referiam ao deputado Arruda.
Participaram do debate na Band:
Professor Piva (PSOL)
Doutor Rosinha (PT)
Ratinho Jr. (PSD)
Cida Borghetti (PP)
João Arruda (MDB)
Ogier Buchi (PSL)
foto: DIVULGAÇÃO
Desabafo de Ogier Buchi
A participação de Ogier Buchi no debate da Band foi garantida pela Justiça em cima da hora. E, ao ser questionado sobre fake news, ele fez um desabafo: “De repente o partido resolve fazer um ‘apoiamento’ diverso. Sou resiliente. O TRE determinou que eu estivesse presente, com transparência, com clareza, não admito política feita com mala de dinheiro. Fique atento. Observe. Nós precisamos definitivamente trazer uma marca política para a eleição de 2018, política limpa, franca e diversa.”
Sua declaração diz respeito às declarações públicas do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), que manifestou apoio a Ratinho Jr, no Paraná e pediu que Ogier desistisse da candidatura.
Ratinho ignora alfinetadas e foca propostas
Apesar de várias vezes relacionado ao Governo Beto Richa, no qual foi secretário de Desenvolvimento Urbano e, como deputado, atuou na base governista, Ratinho Júnior ignorou a maioria das alfinetadas desferidas contra ele, especialmente por João Arruda e Dr. Rosinha.
Em suas respostas, Ratinho aproveitava todos os segundos para apresentar propostas, citando programas e metas.
Falou sobre educação, cujo foco serão os alunos, três merendas por dia, e capacitação dos professores, e ignorou ataque do Professor Piva: “Acabou de dizer que terá o foco o aluno, mas quando o foco foram as professoras, ele meteu bomba”. Na tréplica, Ratinho lembrou que não estava na Assembleia Legislativa no confronto de 29 de abril e que por isso não tinha como determinar voto à bancada. “Nunca coloquei cabresto nos deputados”.
Inclusive, elaborava as perguntas para si mesmo. Quando questionou Cida Borghetti sobre biotecnologia, aproveitou a réplica para falar que vai investir em incubadoras e fazer com que as universidades públicas do Paraná colaborem com pesquisa nas áreas vegetal e animal.
Na saúde, falou em descentralização e reforço dos hospitais regionais, ênfase na atenção primária e nos “postinhos de saúde”, potencializar os hospitais municipais, implantar a telemedicina, e fechar parceria com hospitais filantrópicos e privados. “Temos que diminuir as distâncias. Nosso compromisso é fazer a descentralização da saúde no Paraná.”
Ele falou também sobre segurança pública, prometendo integração das polícias, e desoneração fiscal, com base em estudo da Fecomércio.
Cida é bastante exigida
A governadora Cida Borghetti foi a mais solicitada para responder aos questionamentos, mas com poucas alusões de ser sucessora de Beto Richa. Uma das questões repetidas foi o reajuste salarial, especialmente por Dr. Rosinha, que tratou do assunto duas vezes. Isso porque o reajuste do funcionalismo está suspenso.
“Sou do diálogo. Recebi um orçamento com previsão de 0% de reajuste e, não contente, reabri o diálogo e a discussão e chegamos a 1% para destravar a data-base. Em respeito aos mais de 11 milhões de habitantes do Paraná, mandamos uma mensagem responsável à Assembleia Legislativa, mas atitudes eleitoreiras enviaram outra mensagem. Vou reabrir a discussão após a eleição.”
Cida falou ainda sobre o agronegócio: “O Paraná é agro”, e, citando o oeste como destaque no setor, completou que vai focar investimento em logística para escoamento da safra. “Vamos fomentar ações que valorizem o setor, sem esquecer o Porto do Paranaguá, mais eficiente do Brasil, onde a safra embarca para ser exportada. Vamos fazer com que toda infraestrutura e logística possam atender a demanda, e investir na tecnologia de inovação.”
Ferroeste no centro
A Ferroeste foi citada tanto pela governadora Cida Borghetti quanto pelo candidato Ogier Buchi. Cida lembrou dos estudos em andamento para a implantação de mil quilômetros de trilhos, passando pela Ferroeste, investimento que tem interesse de coreanos. Ogier falou da importância da ferrovia, que “merece uma ação fundamental, para que nossos produtos possam chegar ao porto com competitividade”. “Temos boas estradas, mas dependem ainda de duplicação em vários trechos. Nosso grande problema é o transporte ferroviário, o grande gargalo. Transformar a Ferroeste para que permita competitividade. Resolver o problema do gargalo em Guarapuava. Estamos cansados de promessa. Eu vou fazer!”
Segurança pública
Professor Piva prometeu polícia na rua, protegendo as pessoas. “Queremos que o investigador deixe de ser babá de preso e passe a investigar, queremos uma política profissionalizada. Quando eu for governador, quem agredir um professor será punido severamente”. “Defendemos uma polícia profissionalizada. Não queremos uma polícia militar, pois militar é preparado para a guerra, no caso guerra contra quem? Pretos, pobres, pessoas da periferia. Queremos outro modelo. E os oficiais, com seus salários polpudos, aposentadorias precoces, que me perdoem, no nosso governo vamos dar valor ao cabo, que é quem vai me socorrer. E essa gente vem sendo muito maltratada pelo Governo Beto Richa”.
E voltou a criticar o Governo Beto Richa, dizendo que ele conseguiu “entregar o comando das penitenciárias ao PCC [Primeiro Comando da Capital], mais uma herança desastrosa que deixaram no nosso estado. O efetivo civil e militar é insuficiente. Hoje, eles possuem o mesmo efetivo de 20 anos atrás.”
Ratinho Jr. prometeu um centro de inteligência e planejamento de segurança pública, olho vivo, centrais de monitoramento por todo o Estado, projeto Muralha para controle da fronteira, e escola segura, com policiais da reserva na porta das escolas.
Nisso, Piva rebateu: “Tenho a impressão que estou ouvindo o Beto Richa falar. Falou igual ao Beto falou há quatro, oito anos. Só faltou falar que vai ter helicóptero. Falou e não fez. Se tivessem feito, o Paraná não era um campeão de feminicídio”.
Cida Borghetti ressaltou a integração das polícias e que nomeou uma mulher para comandar a Polícia Militar, para uma visão mais humanista.
João Arruda disse que segurança é um assunto muito sério. “É polícia na rua, queremos tecnologia, mas precisamos fazer o básico. É trocar o colete vencido que os policiais estão usando, cuidar da segurança dos policiais para que cuidem da segurança do povo. Abastecer e trocar as viaturas. A Polícia Civil não tem mais inteligência porque não tem equipamentos. Viabilidade de um novo concurso e da equiparação salarial dos policias”.
Já Ogier Buchi foi mais taxativo: “A polícia tem que baixar o leme em vagabundo, exercitar sua força para dar tranquilidade ao cidadão. Quero uma polícia forte. O Estado mostrando ao cidadão que ele existe. Quero polícia profissional, mas estou cansado de ouvir a história de que a polícia é culpada de tudo. Não! E#la recebe ordem e o faz com muita competência. Precisamos investir no policial, o policial será melhor com uma polícia forte”.
Arruda tentou buscar aliados
Acusado de fazer parte do Governo Michel Temer e do “governo golpista”, João Arruda tentava trazer o debate para o Paraná e fazer dos candidatos do PT e do Psol aliados, ao dizer que Cida Borghetti e Ratinho Jr representavam a continuidade de Beto Richa. Professor Piva chegou dizer que, se Arruda implementar aqui o que o “governo dele está fazendo com o Brasil, se ele repetir no Paraná, vamos sentir saudades do Beto Richa.”
O mais crítico no debate, Arruda falou que “o governo do Paraná potencializou a crise nacional. Vivemos momentos difíceis na crise brasileira e aqui aumentaram impostos, aumentaram a luz, e custa caro à família paranaense. Como governador, vou resgatar a política tributária que dava um incentivo maior que o Simples. Valorizar os pequenos negócios. Vou pôr fim à substituição tributária, imposto abusivo. Criar um ambiente adequado para instalação de novas empresas.”
Defendeu a reforma trabalhista e criticou a reforma previdenciária nacionais, lembrando das mudanças no Paranáprevidência: “Retira-se hoje R$ 140 milhões por mês para pagar inativos. Tínhamos há quatro anos um superávit de R$ 1 bilhão; hoje já temos déficit. Vamos zerar o fundo e o Estado vai à falência em poucos anos. A discussão é bastante complexa para quem está em casa, mas é importante que saiba que em poucos anos o que o Beto Richa fez vai fazer com que o Paraná não vai mais conseguir pagar a folha de pagamento.”
Saúde pública
Dr. Rosinha falou sobre prevenção na saúde e na aplicação correta dos recursos. “Dos três estados do Sul o Paraná tem o maior índice de mortalidade materna e infantil, isso demonstra uma falência do sistema. Mas não é só isso. Há de recompor a questão financeira, cumprir os 12% da arrecadação para a saúde, coisa que nunca foi feito. E temos que melhorar a gestão, implementando programas na área de saúde, específicos. Vou mapear os hospitais universitários, redimensionar e ver todo sistema que tem, seja de laboratório, imagens ou de tratamento de uma maneira geral, e mapear de tal maneira que em quatro anos resolveremos os problemas de saúde, 95% na área local. Temos leito, mas são mal distribuídos.”
A governadora Cida Borghetti lembrou que “a prevenção é a maneira mais rápida de salvar vidas e desonerar o serviço público. Também estamos regionalizando a saúde, que é a maneira mais eficiente”, e citou o programa Corujão, já em desenvolvimento, que visa otimizar os horários ociosos de hospitais e clínicas para cirurgias eletivas e exames de especialidades.
Confira a íntegra do debate: