São Paulo – O sétimo e último debate presidenciável desta campanha reuniu sete candidatos: Alvaro Dias (Podemos), Ciro Gomes (PDT), Fernando Haddad (PT), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB) e Marina Silva (Rede). Ficaram de fora desta vez o deputado Cabo Daciolo (Patriota), que vinha roubando as atenções com suas declarações controversas, e Jair Bolsonaro (PSL-RJ), que recebeu recomendação médica para não ir. Contudo, Bolsonaro apareceu no mesmo horário na maior concorrente da Globo, TV Record, em entrevista especial.
O que não faltaram foram críticas explícitas aos líderes das pesquisas: Bolsonaro e Haddad (leia-se PT).
Já na primeira pergunta, a bola levantada foi justamente o ódio: "Não acredito que se tenha condição de governar com essa polarização. (…) A permanecer essa guerra que alguns votam por medo do Bolsonaro e por medo do Haddad, ou estão votando porque tem raiva um do outro, o Brasil vai ficar quatro anos vivendo uma situação de completa instabilidade econômica, política e social. Temos oportunidade fazer a diferença. Essa diferença é a população que pode fazer. Temos alternativas. Desde 2010, estou dizendo que o Brasil ia para essa situação que estamos hoje. De ódio, de separação", disse Marina Silva, que mais tarde teve oportunidade de repetir na cara de Haddad, ao questionar-lhe: "25% estão votando porque não quer o Bolsonaro; 25% votam porque não querem o candidato do PT; 50% não querem nenhum dos dois. Diante dessa situação desoladora da política brasileira, qual é a autocrítica que você faz para a contribuição do PT para esse momento difícil?"
Marina Silva: "É lamentável que você não reconheça nenhum dos erros. Você tem a oportunidade de olhar para o povo brasileiro e reconhecer os erros e você não faz. Você reitera os erros cometidos. Quando estamos diante de uma crise como essa que estamos vivendo, devemos pensar em um projeto de País." E Haddad respondeu: "Eu sei o que foram os 12 anos do governo do PT. Eu vivo de salário. Sou professor universitário. Eu tenho ética, tenho história, tenho vida pública sem nenhum reparo. Não existe nada na minha vida que não seja produzir o bem".
O ausente
A ausência de Bolsonaro foi lembrada e criticada várias vezes, especialmente por Ciro e Marina. Ambos diziam que queriam lhes fazer perguntas, mas que ele fugiu do debate e preferiu dar entrevista à Record sem pressão, sem cobranças.
Ciro criticou as declarações do vice de Jair Bolsonaro, general Hamilton Mourão, e seu conselheiro econômico, Paulo Guedes, sobre 13º e imposto de renda. "O que me assusta não é a mentira. É uma equipe de três pessoas que estão brigando na véspera da eleição. Você imagina que isso vai dar certo depois da eleição?"
Henrique Meirelles disse que o "Brasil não vai enfrentar essa aventura" ao falar de Bolsonaro. "O Brasil precisa de segurança, de seriedade no que fala, de seguir a sua própria história. Alguém que apresenta propostas, que vota e depois é coerente com isso. E o que ele fala tem que estar consistente com o que ele fala com seu papel de congressista".
O petista e Geraldo Alckmin (PSDB) protagonizaram o embate mais ruidoso do bloco. O tucano responsabilizou o PT pelos "grandes equívocos" da economia nacional e disse que o partido terceiriza as responsabilidades. O petista tentou, então, ligar Alckmin aos governos de Fernando Henrique Cardoso e de Michel Temer.
Ciro Gomes, Marina e Henrique Meirelles fizeram críticas duras à polarização política e aos "salvadores da Pátria". Alvaro Dias também desfiou uma série de críticas ao PT, partido que, segundo ele, protege corruptos e quer acabar com a Operação Lava Jato.
Alvaro critica Haddad e a gestão petista, dizendo que a Petrobras foi assaltada e perdeu R$ 20 bilhões de reais. "Vocês são uma brincadeira governando. Quando você fala no seu desempenho no Ministério da Educação, fico pensando que você estava na Dinamarca".
Boulos arranca aplausos
Numa dobradinha bem ensaiada entre Fernando Haddad e Guilherme Boulos, o petista lançou uma pergunta sobre ódio a qual Boulos respondeu com um discurso emocionado, que arrancou aplausos da plateia, para desespero do mediador William Bonner: "Não dá para fingir que está tudo bem. Estamos há meses fazendo campanha marcada pelo ódio. Faz 30 anos que esse País saiu de uma ditadura. Muita gente morreu, muita gente foi torturada. Tem mãe que não enterrou o filho até hoje. Faz 30 anos, mas acho que nunca estivemos tão perto disso que aconteceu naquele momento. Se hoje podemos discutir o futuro, é porque teve gente que derrubou sangue para ter democracia. Se você vai poder votar domingo, é porque teve gente que deu a vida pra isso. Não quero que minhas filhas cresçam num país com uma ditadura. Sempre começa assim. Arma, tudo se resolve na porrada e a vida do ser humano não vale nada. Temos que dar um grito nesse momento. Ditadura nunca mais".
Lucro da Taurus
O mais crítico a Jair Bolsonaro no debate, Ciro Gomes disse que as ações da Taurus (fabricante de armas) aumentaram 180%. "Tem várias associadas ao Bolsonaro ganhando muito dinheiro com a evolução das pesquisas. Quem especulou com fábrica de armas em cima de um discurso ganhou 180%. Esse é um País assaltado".
Guilherme Boulos diz que a população de presos dobrou. "Alguém se sente mais seguro com isso? Creio que não. A ideia do Bolsonaro não resolve aqui nem em nenhuma parte do mundo". E criticou a chamada "guerra às drogas". "A gente sabe muito bem que o comando do crime organizado está muito mais perto da Praça dos Três Poderes, em Brasília, do que de qualquer favela nesse País".