RIO – Nos últimos dez anos, 8 mil pessoas foram mortas pela polícia no Rio de Janeiro. No ano passado, um quinto dos homicídios registrados no estado foram cometidos por policiais. Três quartos das vítimas eram negras. Em 2015, a polícia matou 645 pessoas, enquanto 26 policiais morreram. Estes são só alguns dos dados divulgados no relatório “O bom policial tem medo – os custos da violência policial no Rio de Janeiro”, produzido pela Ong Human Rights Watch e lançado na manhã desta quinta-feira na Casa do Saber O GLOBO, na Lagoa.
– Muitos policiais dizem que as mortes ocorreram em confrontos, mas o que vemos é que muitos confrontos nem existiram. Tivemos acesso a vídeos que mostram policiais atirando em pessoas desarmadas, por exemplo. Reiteradamente, policiais forjam provas, colocam armas nas mãos das vítimas, removem suas roupas, intimidam testemunhas… Em muitos casos, a força letal foi usada ilegalmente pela polícia – afirma Cesar Muñoz, responsável pela pesquisa.
Segundo a Human Rights Watch, entre 2008 e 2013, o número de mortes de civis por policiais por ano caiu “dramaticamente”, de 1300 para 400. De acordo com o diretor adjunto para as Américas da Ong, Daniel Wilkinson, o índice voltou a subir “por causa da impunidade”:
– Apenas oito dos 64 casos que examinamos foram levados a julgamento e apenas quatro resultaram na condenação dos culpados. O Ministério Público do Rio de Janeiro apresentou denúncia em apenas quatro dos 3.441 episódios de homicídios cometidos por policiais entre 2010 e 2015 (o que representa 0,1%). Quando eles sabem que não vai haver consequência, os policiais voltam a cometer esses crimes.
A Human Rights Watch no Brasil diz ter entrevistado mais de 30 policiais do Rio, alguns, inclusive, responsáveis por execuções. De acordo com a diretora da Ong no Brasil, Maria Laura Canineu, “Eles mesmos admitiram a participação em execuções e em outros crimes, como corrupção, e ainda mostraram a relação que as execuções têm com a atividade criminosa”.
– Mas muitos outros nos falaram que a atitude desses policiais que agem de uma forma fora da lei atingem a população como um todo e a própria polícia. O policial perde o principal aspecto da segurança pública que é a confiança da comunidade. E eles também ficam fragilizados e não têm o suporte necessário. Hoje, o Rio tem 48 mil policiais militares e existem apenas 70 psicólogos e nenhum psiquiatr – afirma Maria Laura.
A Polícia Militar afirma que só vai se posicionar após analisar as informações do relatório. E que o Comando da Polícia Militar tem tomado medidas para reduzir os números de autos de resistência, tais quais o Programa de Controle do Uso da Força e Disparo de Armas de Fogo, treinamentos e estágios ministrados pelo Comando de Operações Especiais (COE), a utilização do Estande Virtual de Tomada de Decisão.
Contatado pelo GLOBO, o Ministério Público ainda não se pronunciou.