Policial

A lei do silêncio impera nos municípios lindeiros

Prefeitos procurados não quiseram se manifestar sobre assunto

Foz – O relato é de um ex-prefeito que, quando falou sobre o combate ao contrabando a O Paraná, há cinco anos, foi vitima de incessantes ameaças de morte. “Tentamos lutar contra, mas como se trata de um crime bem organizado, pouco se pode fazer, mas sempre soubemos que na época havia prefeitos que estavam com proteção da Polícia Federal e que tinham muito medo de falar sobre o assunto”, afirma o ex-líder público.

Aliás, contrabando é um assunto que pouco se fala em reuniões formais na região Oeste do Estado. ao menos não em encontrados portas abertas. Quando isso ocorre, geralmente são em reuniões fechadas e com nenhuma divulgação na mídia, tamanho o risco encarado pelos gestores públicos que ousam enfrentar as quadrilhas.

“Por outro lado, sabemos que existem líderes públicos, políticos que estão envolvidos com essas práticas criminosas e se utilizam de seus mandatos para incentivar a criminalidade, de uma forma ou de outra. Como exemplo, temos na região um ex-vice-prefeito que já foi preso por esse crime”, afirma um agente da Polícia Federal que atua na fronteira. “Isso sem contar nos líderes públicos que têm parte de suas campanhas eleitorais bancadas pelos cigarreiros”, segue ele.

A equipe de reportagem de O Paraná tentou contato com alguns prefeitos da região, sobretudo de municípios lindeiros ao lago de Itaipu para tratar do assunto, mas quando relatava o motivo do contato, nenhum dos procurados quis se pronunciar.

“Por outro lado, sabemos que nesse momento não há nenhum que sofre ameaças de morte, ao menos não tão abertamente e que tenha chegado ao nosso conhecimento, ao contrário do que ocorria há cinco quando alguns vieram à  Polícia Federal relatar as ameaças”, afirma o policial federal.

Assunto ainda é tabu

O assunto que é praticamente um tabu em cidades que sobrevivem do contrabando, ainda é visto como uma simples forma de ganhar a vida por muitos moradores. “Existem cidades no Oeste onde os moradores, principalmente produtores rurais, cedem suas propriedades para guardar o cigarro que vem pelos portos clandestinos, que chegam na barranca do rio Paraná. Quando os questionamos sobre isso, eles não enxergam isso como algo errado, apenas como uma forma de ampliar a renda”, afirma outro agente da Polícia Federal.

Assim como muitos produtores rurais cedem suas propriedades como depósitos temporários, há casos de aldeias indígenas, principalmente na cidade de Guaíra, onde estão caixas de cigarros guardadas a espera das quadrilhas, além, é claro, de outros produtos ilícitos. “Não se descarta a existência de drogas, armas, munições. Sabemos que na mesma rota do contrabando, o crime organizado abastece suas raízes armando-as e as deixando bem abastecidas com entorpecentes”, esclarece o PF.

Na próxima reportagem da série, a penúltima que trata do contrabando cinco anos após o jornal O Paraná ter feito a rota do contrabando na fronteira com o Paraguai, você vai saber o que o roubo e furto de carros no Brasil auxiliam as quadrilhas da fronteira.