José Luiz Ames
Rosana Marcelino
Quando existe uma violação entre os parceiros, esta violação se mostra em outros níveis. Por exemplo, se mostra na relação com os filhos e se mostra até na relação com os nossos colaboradores em casa. Vamos ilustrar esta situação a partir de dois exemplos da relação entre colaboradora e dona de casa.
O primeiro exemplo: a esposa tem uma conduta desrespeitosa para com o marido. Na verdade muitas vezes não precisa nem ser uma conduta. Às vezes, pode até ser só um posicionamento interno de desrespeito, de desvalidação do marido. Isso é mais desafiador ainda, porque é muito sutil. Sim, internamente a esposa desrespeita o marido e não precisa nem ser uma conduta. Neste caso, a colaboradora automaticamente se alia à esposa e tem também condutas que podem ser desrespeitosas com relação ao patrão. Vamos ilustrar isso a partir de um exemplo extraído de nossa prática.
O marido vinha almoçar em casa e tinha por hábito descansar após o almoço no sofá da sala. A colaboradora, por sua vez, tinha o hábito de limpar a sala sempre logo após o horário do almoço. Obviamente, isso implicava na necessidade de mexer os móveis, fazer ruídos, etc. O marido solicitava à esposa que conversasse com a colaboradora sobre isso. A esposa conversava com a diarista dando-lhe a orientação solicitada pelo marido. No entanto, a fala não produzia qualquer resultado prático. Por quê? Porque a esposa não tinha potência para se posicionar diante da diarista, pois internamente ela mesma tinha uma postura de desrespeito para com o marido. A diarista só complementava esse movimento.
O segundo exemplo se refere ao que aconteceu com nossa cliente – que vamos chamar de Marta. A colaboradora dela tinha um movimento desrespeitoso em relação a ela no sentido de não validar o lugar dela dentro da casa. Vejam ao ponto que chegou: nossa cliente, ao olhar as mídias sociais, viu postagens de objetos pessoais – como vasos, enfeites de mesa e até um par de tênis – em festas de aniversário de sua colaboradora! Obviamente, sem a permissão dela. O que explica essa postura de desrespeito da colaboradora para com sua patroa?
Nossa cliente tinha uma postura interna de não sentir-se “dona” da casa, de comando do lar. E por que isso? O marido tinha a postura de tomar conta da casa como se ela pertencesse unicamente a ele. Afinal, era o dinheiro que ele colocava na casa que mantinha tudo e todos! A colaboradora toma isso ficando ao lado do marido, de certa forma desrespeitando a patroa de uma forma muito intensa. Sim, a ponto de levar emprestados objetos dela sem autorização. No entendimento da colaboradora, se tratava de um “empréstimo”, pois após a festa ela devolvia tudo ao seu devido lugar.
O que “autorizava” a colaboradora a adotar esse comportamento? A postura interna da nossa cliente de não se sentir “dona” de seu próprio espaço doméstico. A postura do marido de não autorizar sua esposa a fazer qualquer modificação interna na casa, chegando ao ponto de não permitir a ela de cultivar um jardim, coloca a esposa numa posição secundária. Aí chega outra mulher e assume o papel de “dona da casa”. O marido tem uma postura que desmerece sistematicamente a sua parceira, porque não reconhece o lugar dela dentro de casa. Como ilustramos com o exemplo de nossa cliente, isso pode fazer com que essa pessoa tome um posicionamento de domínio da casa e começar a ter condutas que desvalidam a sua patroa.
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JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar – whatsapp https://bit.ly/2FzW58R (45) 9 9971-8152.