No Brasil, esse tema pode se revestir de polêmica e causar divergências de opinião entre aqueles que defenderiam, incentivariam, ou até se colocariam contrários a essa prática por diversas razões. É fato que este tipo de prática é incomum em nosso país. No entanto, em alguns países asiáticos, como no Japão e na Coreia do Sul, é normal que os alunos cuidem da limpeza das áreas de uso comum, inclusive banheiros, da escola onde estudam. Em visita a uma instituição de Ensino Médio (chamada de High School) localizada em Incheon (uma cidade próxima a Seul), na Coreia, presenciei tal cena. É muito interessante de observar. Bate o sinal do término de uma aula e surgem grupos organizados de estudantes que se dividem para limpar e organizar a escola. Alguns alunos limpam os corredores, outros a biblioteca, escadarias, banheiros. E fica tudo muito bem limpo. Aliás, é na escola onde eles aprendem a fazer limpeza, faxina e outros afazeres domésticos.
No Brasil, alguns grupos de torcedores asiáticos chamaram muita atenção porque, ao fim de uma partida de futebol, colocaram-se a limpar a arquibancada e a recolher o lixo do estádio onde tinham acabado de torcer pelo seu país na Copa do Mundo. Isso foi notícia e muita gente elogiou e achou bonita a atitude. O que poucos se questionaram foi qual a origem ou a razão desse comportamento incomum no Brasil. Não há dúvidas de que essa cultura é fruto da educação que receberam na escola.
Essa prática no Brasil poderia produzir efeitos benéficos sob vários aspectos. O primeiro diz respeito ao cuidado, ao zelo com o ambiente da escola. Além disso, os alunos aprenderiam a valorizar e entender o trabalho de pessoas que realizam essa atividade e, muitas vezes, tornam-se invisíveis no dia a dia – e, infelizmente, às vezes sofrem desrespeito e humilhações. Situações e práticas que envolvam os alunos no cuidado com o ambiente escolar podem corroborar para a construção de uma relação de pertencimento, responsabilidade, afetividade e de identidade para com o espaço da escola. Esse espaço se transforma num lugar de valor e propicia uma formação de um cidadão que irá cuidar e ser responsável pelos mais diversos ambientes e espaços públicos.
Ao assistir aos alunos cuidando da limpeza de sua escola é impossível não relacionar essa prática ao respeito e ao cuidado que a população coreana tem pelos espaços compartilhados e públicos. Ao caminharmos pelas ruas, metrô, praças ou monumentos em grandes cidades do país, como Seul, é impossível ficar indiferente, pois esses espaços são impecavelmente limpos, bem cuidados e organizados.
Num momento em que é cada vez mais comum viralizar nas redes sociais vídeos que mostram situações de violência e depredação no espaço escolar, não seria oportuno refletir sobre estratégias para adaptar para realidade brasileira e implementar boas práticas como as observadas nas escolas coreanas?
Wilson Galvão é coordenador da Assessoria de Geografia, Tempo Integral e Livros Escolares do Sistema Positivo de Ensino