O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) tem suscitado algumas discussões acaloradas sobre temas de redação, ideologias explícitas nas questões e até suposta apologia à sexualidade. Até o presidente Jair Bolsonaro já veio a público dizer que pretende ler as provas antes de entregá-las aos estudantes, em uma espécie de pai da mocinha inocente para censurar o que vai contra seus princípios.
Agora, o verdadeiro cerne do problema da educação brasileira passa ignorado por todos, aparentemente de maneira proposital.
Enquanto se discutem os termos usados nas perguntas, deixam de lado as respostas, o real objetivo do exame: avaliar o nível de aprendizado dos alunos que deixam o ensino médio. Esse sim merece toda a atenção possível.
Para se ter uma ideia, dos 6,1 milhões de estudantes que fizeram o exame em 2016, apenas 77 alcançaram a nota máxima da redação, um terço a menos do registrado no ano anterior. Para ilustrar melhor, um em cada 79.220 alunos conseguiram escrever um bom texto.
Muito além do conhecimento do tema tratado, a redação exige coerência, argumentação e boa escrita. Para se ter uma ideia, a prova de linguagens alcançou os piores resultados entre as menores e as maiores notas desde que o exame foi criado. Ou seja, nossos alunos têm muita dificuldade de leitura e escrita.
De nada adianta produzirmos exames se os resultados são ignorados ou mal interpretados. A educação do Brasil vai muito mal! Até quando vamos fazer de conta que não sabemos disso?