Pesquisas no âmbito da ciência do solo têm como hipóteses de trabalho, relações do ambiente que possibilite a maior expressão do potencial genético das culturas implantadas. Há algumas décadas, o cuidado com o ambiente solo, visando ao melhor resultado produtivo das culturas, estava centralizado basicamente no conhecimento de aspectos da química para fins de fertilidade do solo. Isso aconteceu principalmente devido ao momento de abertura e expansão de áreas para a produção agrícola e ao maior conhecimento desta área de estudo.
No entanto, a evolução das técnicas de manejo (Sistema de Plantio Direto-SPD, Integração Lavoura-Pecuária – ILP, Integração Lavoura-Pecuária-Floresta – ILPF, cultivo mínimo, entre outros) que podem ser inseridas no sistema de produção e a necessidade recorrente de produzir com sustentabilidade econômica e ambiental, o que não condiz com a abertura desordenada de novas áreas, demonstram que essa visão pontual de solo produtivo não deve perdurar.
A compressão acerca da complexidade e da heterogeneidade do sistema solo possibilita a inserção de manejos que resultem em construção do ambiente produtivo. Nesse sentido, são importantes as questões relacionadas à aptidão agrícola de determinado solo, as necessidades de inserção de técnicas voltadas à conservação de solos (terraços, culturas de cobertura), visando conter a erosão, consequentes perdas de solo e degradação da qualidade. As exigências ambientais e nutricionais da cultura que será implantada também devem ser levadas em consideração.
Por exemplo, em ambientes restritivos, do ponto de vista de manutenção de umidade no solo, pode-se pensar na irrigação quando a declividade e o local de captação de água são favoráveis. Além de ser importante a implementação de um manejo de culturas que mantenha os resíduos de plantas na superfície, intercalando as culturas com relação ao equilíbrio da relação C/N, o que possibilitará menores perdas por evaporação, impacto da gota de chuva, erosão laminar, e aumento da atividade biológica do solo. Nestes ambientes o mais indicado em um primeiro momento, seria a implantação de plantas com sistema radicular profundo e com massa de raízes considerável, como as gramíneas.
Portanto, é fundamental para construir um solo produtivo conhecer as características e propriedades do mesmo, suas relações com o ambiente (precipitação e temperatura), além de necessidades do ponto de vista genético, características funcionais e morfológicas das culturas implantadas.
A constituição do solo, após os processos químicos, físicos e biológicos de intemperismo da rocha, pode ser acessada pelas diversas formas de avaliação direcionadas aos componentes químico, físico e biológico.
O componente químico demonstra basicamente a condição nutricional do solo, com relação à quantidade de cátions e ânions, concentração de Al e H, micronutrientes, matéria orgânica, pH do solo e capacidade de troca catiônica ou aniônica. A análise química é primordial para a recomendação de adubação de construção ou manutenção da fertilidade do solo. A física do solo fornece uma visão referente às proporções de areia, argila e silte, possibilitando o conhecimento da sua classe textural. Avaliações a cerca da resistência a penetração e densidade do solo, que são indicativos de compactação, e a distribuição de agregados (macro, meso e microagregados), também são informações relevantes no contexto físico.
Com relação à biologia do solo, por muito tempo o foco foi conhecer os grupos específicos de determinados patógenos. No entanto, com o advento dos indicadores biológicos de qualidade e saúde do solo, o acesso do componente biológico ganha uma visão funcional do sistema. Isto devido ao conhecimento referente à enorme biodiversidade presente nos solos (milhares de espécies microbianas/grama de solo), e ao potencial funcional do microbioma, que demonstra quando determinada prática ou manejo impacta de forma negativa ou positiva na qualidade biológica do sistema.
As funções que ocorrem relacionadas a química, física e biologia do solo e desenvolvimento vegetal demonstram o enorme potencial que a biologia do solo tem em melhorar o sistema produtivo. As formas de avaliação e acesso a essas informações estão em constante aperfeiçoamento e disponíveis em alguns setores de análises. Sendo importante avaliar em diferentes situações de solo, plantas cultivadas, manejos diversos, condições climáticas e ambientais, pois são responsivas a todos estes parâmetros.
Em síntese, verifica-se que o termo “solo produtivo”, mesmo sem uma definição exata, remete-nos a uma imersão de aspectos agronômicos que são dinâmicos no sistema de produção. Reforçando a importância de melhor compreensão do potencial das funções biológicas como aliado do produtor, tendo em vista as respostas positivas em diversos solos e culturas, em se tratando de um indicativo de práticas de manejo benéficas ao ambiente de produção agrícola.
Dorotéia Alves Ferreira é engenheira agrônoma, doutora em Solos e Nutrição de Plantas e gerente de Produto da Fertiláqua
A compressão acerca da complexidade e da heterogeneidade do sistema solo possibilita a inserção de manejos que resultem em construção do ambiente produtivo
As formas de avaliação e acesso a essas informações estão em constante aperfeiçoamento e disponíveis em alguns setores de análises