Opinião

Coluna Amparar: motivos sistêmicos detrás das brigas de casal

Nesta reflexão, examinaremos os motivos sistêmicos que costumam estar por detrás da raiva destilada nas ofensas

Coluna Amparar: motivos sistêmicos detrás das brigas de casal

Na postagem anterior, tratamos dos efeitos negativos das ofensas e das agressões durante as discussões na relação de casal. Nesta reflexão, examinaremos os motivos sistêmicos que costumam estar por detrás da raiva destilada nas ofensas.

Quando um casal discute e briga constantemente, isso pode se dar por diferentes motivos. Nem sempre a raiva que se expressa na briga tem origem no próprio parceiro. Por isso, também, no contexto de uma terapia, de nada adiantaria estimular o cliente a extravasar a raiva contra o parceiro.

Para a identificação dos possíveis motivos sistêmicos que podem estar na origem da raiva, vamos nos apoiar nas descobertas feitas por Bert Hellinger. Ele distingue sete possíveis causas da raiva às quais ele examina na obra Ordens do Amor (São Paulo: Cultrix, 2007, p. 160-162). Na postagem desta semana, examinaremos as quatro primeiras e, na próxima, as outras três.

Uma primeira origem da raiva é aquela que emerge quando alguém sofre uma injustiça ou é agredido. Essa raiva é um mecanismo de defesa da integridade, porque leva a pessoa a se defender e a se impor. Ela leva à ação e fortalece. Acaba tão logo alcança seu objetivo. Essa é uma forma de raiva necessária e positiva, mesmo quando inflige um mal ao outro. Trata-se de uma ação estratégica que age como defesa e imposição de si sem a emoção da maldade.

Uma segunda origem da raiva é aquela que nasce quando a pessoa se dá conta de que deixou de tomar ou exigir algo que deveria ter tomado ou exigido do parceiro. Em vez de ficar zangado consigo mesmo por não ter agido quando deveria, fica enfurecida contra a pessoa da qual não tomou ou exigiu algo. Em vez de ficar com raiva de si mesmo, fica com raiva do parceiro.

Essa raiva, em geral, está associada ao movimento do amor interrompido: quando criança, sentiu-se abandonada e esse sentimento, que se converteu em raiva, é levado para a vida adulta. Nesse caso, a raiva funciona como defesa contra o amor. Em vez de expressar seu amor, fica com raiva das pessoas que ama. Assim, por exemplo, a antiga raiva em relação à mãe por ter sido abandonada é dirigida à esposa ou ao marido, embora sejam completamente inocentes. Essa raiva é um substitutivo da ação e consequência de uma omissão. Ela paralisa, incapacita e enfraquece.

Uma terceira origem da raiva é aquela que nasce quando a pessoa faz um mal a alguém, mas não quer reconhecer isso. Nesse caso, a raiva serve para evitar ter de admitir sua culpa diante de si mesmo e de assumir as consequências dessa culpa. Em vez de a própria pessoa assumir a culpa, empurra-a para o parceiro. Também essa raiva é um substitutivo da ação que paralisa e enfraquece.

Uma quarta origem da raiva é a que nasce do desequilíbrio entre o tomar e o dar. Acontece na relação de casal quando um dos parceiros cumula o outro permanentemente dos benefícios mais variados. Aquele que sempre unicamente dá, o faz porque não consegue tomar. Quando aquele que sempre unicamente toma não suporta mais a “dívida”, ele se enfurece e agride aquele que sempre unicamente dá. Este, por sua vez, entende a agressão como ingratidão. O desfecho desse desequilíbrio é, muitas vezes, a separação, cuja iniciativa é daquele que recebeu mais do que conseguiu aceitar.


JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar.

Siga nossa página no Instagram @ampararcasais