lQuem busca um relacionamento estável e encontra uma pessoa pela qual se sente afetivamente atraída, muitas vezes é perturbado pela dúvida: será que ela é a esposa certa para mim? Será que este é o marido certo para mim? A interrogação retorna mesmo depois, durante o casamento, especialmente quando a relação entra em momentos de crise.
Geralmente, a hesitação surge quando o casal se volta para os motivos que os levaram a se unir. Sim, a hesitação tem riscos. Confira você em seu círculo de conhecidos e de conhecidas e veja o que aconteceu com as pessoas que estavam atrás unicamente da aparência física, ou do tamanho da conta bancária, ou da visibilidade social, ou da carreira promissora da pessoa, e assim por diante.
No fundo, a hesitação nos alerta de que o amor não deve ter unicamente “paixão”, mas também “cabeça”. O amor sem “cabeça” sempre dá errado. Em outras palavras, amor apaixonado não pode ter sucesso sem uma análise serena da personalidade do parceiro ou parceira. Assim, quando dizemos que o amor sem análise racional e serena tende a fracassar nos referimos ao fato de que o amor só frutifica quando está orientado por princípios como a lealdade, o respeito, a fidelidade, o cuidado, a responsabilidade, entre outros.
O amor sobrevive unicamente dentro de determinada estrutura de sustentação. Uma imagem talvez ajude a entender melhor esta ideia: a estrutura é o vaso; o amor é o líquido que assume a forma do vaso. “A estrutura precede o amor e este só pode desenvolver-se dentro dela. Quando invertemos essa relação e pretendemos mudar a estrutura através do amor, cavamos o fracasso. O amor, à semelhança de um líquido, precisa de uma estrutura para acondicioná-lo.
Quando insistimos na ideia de que a estrutura precede o amor, em nada diminui a força – nem a importância – do sentimento. É um alerta de que é preciso colocar a pessoa que amamos na “terra”. A paixão costuma produzir uma imagem idealizada do parceiro e da parceira. Mais tarde, quando as chamas da paixão perdem sua força, a pessoa muitas vezes cai na desilusão e pensa que o parceiro ou a parceira mudou! Não se dá conta de que nunca amou realmente a pessoa “tal como ela é”, e sim amou a “imagem idealizada” que fez dela! A partir desse equívoco começam as violações. A pessoa desiludida quer a todo custo que a outra pessoa mude para se transformar na imagem idealizada que fez dela. O resultado dessa atitude é uma relação feita de discussões sem fim, cobranças, reivindicações, ofensas, humilhações, ameaças de separação e, em geral, a separação definitiva.
Em suma, existe o marido certo? Existe a esposa certa? O marido certo, a esposa certa é aquele, é aquela, que amamos na sua inteireza. Aquele e aquela que queremos exatamente assim como é, sem nenhuma pretensão de mudança. Somente quando assumimos a outra pessoa tal como ela é amamos de verdade ESTA pessoa e não a sua imagem idealizada. Para isso é preciso desenvolver a capacidade de olhar a pessoa com a “cabeça”, como diz Hellinger, e não com sentimento intoxicante da paixão. Enfim, o marido certo é imperfeito! A esposa certa é imperfeita!
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JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são consteladores familiares e terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar – whatsapp: https://bit.ly/2FzW58R