Opinião

Coluna Amparar: A vida pode ser leve

Coluna Amparar: A vida pode ser leve

Coluna Amparar: A vida pode ser leve

 

 

José Luiz Ames

Rosana Marcelino

 

Na postagem anterior relatamos o processo de uma cliente que, após 30 anos de casamento, descobriu que a identidade sexual do marido era, na verdade, homoafetiva. Contamos que ela, após um período de acompanhamento individual e uma constelação familiar, decidiu-se pela separação. Nesta postagem trataremos dos desafios enfrentados por ela para dar efetividade à decisão.

Na sequência da constelação, a cliente permaneceu sob o nosso acompanhamento em encontros a distância, já que estávamos em plena pandemia. A decisão tomada após a constelação precisava de um tempo de “incubação”. A cliente sentiu necessidade de amadurecer a convicção. Após cerca de um ano ela se sentiu suficientemente fortalecida e deu início ao processo.

O tempo de “incubação” serviu para que a cliente tomasse consciência e levasse a efeito movimentos de cura. Promoveu uma aproximação para com seu pai em termos mais funcionais. Se antes era muito parecida a uma relação de “filhinha do papai”, a convivência nos meses finais da vida de seu pai lhe possibilitaram ver nele um pai amoroso, mas sem perder de vista a condição de filha.

Nisso foi de grande importância o reconhecimento da mãe. Reconectou-se com ela com um amor filial genuíno. Atualmente sua mãe está adoentada e passa por momentos de demência. Ambas têm uma relação conectada.

O período de maturação da decisão pela separação também lhe permitiu colocar-se no papel de mãe funcional em relação às filhas. Sua filha mais velha decidiu-se pela separação após 10 anos de união. Graças à clareza que alcançou com o acompanhamento terapêutico, nossa cliente conseguiu compreender que sua filha vivia uma “relação espelhada”: ela vivia na relação dela o mesmo caráter abusivo que marcou a relação da mãe. Ajudada pela mãe, ela liberou-se de um casamento infeliz em muito menos tempo que a própria mãe.

Finalmente, o tempo de “incubação” permitiu-lhe tomar contato com os aspectos práticos do negócio gerenciado desde o início do casamento unicamente pelo marido. As questões patrimoniais, para as quais antes não tinha olhar, passaram a merecer sua atenção e cuidado.

Como está nossa cliente hoje, passados dois anos e meio desde o início do tratamento? A separação judicial concluiu-se há meio ano. A cliente decidiu-se a mudar de cidade. Sente sua vida mais leve, feliz e fortalecida. Rompeu com os padrões de crenças e julgamentos da tradição e religião. Interiormente, sente-se aberta e fortalecida para um novo relacionamento e para oportunidades de trabalho.

Processos de separação costumam ser fonte de dor e sofrimento. Obviamente, circunstâncias como as da cliente em questão, aumentam isso em muitas vezes. Por isso é tão importante buscar acompanhamento terapêutico. Ele auxilia a ver, a compreender e a enfrentar o que sozinhos temos dificuldades. Não poucas vezes o desfecho, em vez de uma separação orientada, é a reconciliação em novas bases. Nosso trabalho é ajudar o cliente a tomar a sua própria decisão. É sempre realizador quando o desfecho traz ao cliente uma percepção da vida de modo mais leve e feliz. Seja separado da relação anterior, seja reconciliado com ela.

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JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar. Whatsapp https://bit.ly/2FzW58R (45) 9 9971-8152