Opinião

Coluna AMC: Amor, Medicina e Milagres

Coluna AMC: Amor, Medicina e Milagres

Livro escrito pelo Dr. Bernie Siegel, um cirurgião oncológico americano, que fala de diversos aspectos do tratamento, do acompanhamento e da cura de pacientes portadores de doenças graves como vários tipos de canceres, Aids, cardiopatias debilitantes, escleroses e outras.

No livro, há diversos relatos de pacientes considerados terminais por familiares, amigos e pelos profissionais da saúde que os atendiam, mas que, ao contrário, conseguiram sobreviver, obtendo a cura total ou vivendo por um período muito mais longo do que as estatísticas mostravam, de acordo com o tipo de doença que possuíam e do tratamento a que estavam se submetendo.

Para isso, o doutor Siegel passou a questionar e a investigar mais os casos ditos de exceção, em vez de seguir o que lhe dizia a literatura médica. Os pacientes com curas “milagrosas” passaram a ser seu foco de atenção. O que eles faziam de diferentes? Como encaravam a doença? Como encaravam seus familiares e amigos, estando às portas do fim da vida?

O médico percebeu e começou a reunir características desses pacientes que os tornavam mais resistentes e com o sistema imunológico mais apto a lidar com o desequilíbrio orgânico e a debilidade quase plena.

Observara também seus colegas médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas, entre outros, que cuidavam dessas pessoas doentes e o modo como esses profissionais lidavam com as situações de doenças graves e avançadas. Notou que não era incomum que eles transmitissem muito mais desesperança e desencorajamento, baseando-se no determinismo científico, e acabavam por afastar do doente qualquer esperança de melhora, mesmo que de prolongamento da vida.

Palavras de ânimo, de coragem e fé e de mudanças de atitudes passaram a ser comuns no contato do Dr. Siegel com seus pacientes. Comentários negativos, pessimistas e de derrota, mesmo quando o paciente estava anestesiado, passaram a serem proscritos de seu dia a dia, sem, contudo, deixar de fazer o doente entender a real dimensão do seu problema, suas chances de cura ou melhora e como o tratamento seria efetuado.

Os tratamentos alternativos que os doentes empregavam, baseados na cultura popular e no seu ambiente doméstico, não foram desprezados nem desencorajados pelo Dr. Siegel, salvo claras situações e comportamentos nocivos. Desde que o paciente se submetesse ao tratamento médico tradicional, com o devido entendimento e consciência de riscos e benefícios de tratamentos quimioterápicos, radioterápicos e cirúrgicos.

Focando intensamente na questão mental do doente, na sua vontade, ou não, de continuar vivendo e lutando, o Dr. Siegel consegue se aproximar ao máximo do paciente, dando-lhe ferramentas indispensáveis para seu fortalecimento e aumentando, assim, as chances de pertencer ao seleto grupo de sobreviventes, de restabelecimento da saúde e retorno a uma vida produtiva.

Fica evidente a importância do amor, próprio e dos que o cercam, na melhora do indivíduo e na resposta física a essas doenças graves.

O médico deve se portar como um amigo e auxiliar nesse processo, abandonando sua postura paternalista, intransigente e muitas vezes inacessível. Respeitando as crenças do doente e sendo o mais verdadeiro possível no trato com o mesmo. Vendo ao seu lado o semelhante que sofre, tem medos e dúvidas, quando diante de uma situação que comprometa sua integridade e sua existência, e não apenas mais um caso em uma prancheta.

A esperança e a capacidade de dar esperança são nossas aliadas e, incontáveis vezes, tudo o que podemos oferecer aos nossos doentes.

Essas são as lições do Dr. Bernie Siegel e que devem ser recapituladas por todos nós que lidamos diariamente com a vida humana.

“Creio que existem dentro de nós dois mecanismos biológicos de vida e de morte. A paz de espírito envia ao corpo a mensagem de ‘vida’, ao passo que a depressão, o medo e o conflito transmitem-lhe o contrário. Portanto, todas as curas são científicas, embora a ciência ainda não seja capaz de explicar exatamente como ocorrem os inesperados milagres” – Dr. Bernie Siegel

 

Dr. Carlos Eduardo Martins – Médico Anestesiologista

CRM/PR 20965