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Zé Roberto monta time em Barueri com profissionais desempregados

INFOCHPDPICT000062905362Não tem crise nem tempo ruim para o técnico José Roberto Guimarães. Mesmo em época de dúvidas econômicas e ressaca olímpica, o treinador da seleção brasileira feminina se jogou de cabeça em projeto para uma nova equipe de vôlei em Barueri (SP), onde mantém um centro de treinamento desde 1994. Convidou jogadoras e profissionais desempregados para embarcar com ele mesmo sem garantia de salário. O time buscaria uma vaga na série B da Superliga para então sonhar com a elite na temporada 2017/2018. Paralelamente à disputa na quadra, ele batalharia por patrocínio. E não é que deu certo?

Primeiro, conseguiu montar uma comissão técnica digna de seleção ? com ele, inclusive ? e, depois, um time com 11 jogadoras, com destaque para a medalhista olímpica Érika. Zé Roberto Guimarães

Com cerca de 15 dias de treinos, o time ganhou vaga na Superliga B ao disputar o torneio de acesso Taça Prata. Agora, às vésperas do Natal, veio o presente: o patrocínio para a disputa da Superliga B, no início de 2017, de uma empresa de cosméticos que pede para não ter o nome publicado, apesar de a notícia já ter vazado.

? Mesmo na crise e numa época desfavorável, que é o fim do ano, sempre acreditei que poderia dar certo. O ?não? eu já tinha ? comenta Zé Roberto, que disse ter ficado angustiado. ? Toda vez que encontrava com as meninas nos treinos, elas me olhavam com aquela interrogação: ?você tem alguma novidade para a gente??. Estava apreensivo com essa fase de medo generalizado, mas tinha de fazer algo. Além de ajudar profissionais e jogadoras desempregadas, sempre quis montar um projeto em Barueri. Era sonho antigo. Acreditei que um anjo ia aparecer.

Zé Roberto conta ainda que pesou o fato de a cidade ter tradição no esporte e a parceria do Grêmio Recreativo Barueri com a Prefeitura ter acabado recentemente.

? Só na seleção sub-19 tem três atletas de Barueri. A cidade tem 14 ginásios cobertos com escolinhas e um total de 640 crianças jogando vôlei. Não dava para acabar. Pensei que tinha de fazer alguma coisa, fazer a minha parte ? diz o treinador , que dará prioridade ao pagamento das atletas. ? Serão as primeiras a receber. A comissão técnica terá orçamento bem mais enxuto.

A ponteira Érika, bronze nos Jogos de Sydney-2000, estava há oito meses sem treinar e lutava para não encerrar a carreira aos 36 anos. Conta que já pensava em vender seus terrenos e montar um negócio próprio quando recebeu o telefonema de Zé Roberto.

? Ainda tenho muita energia. O corpo pedia para jogar, assim como a cabeça. Eu amo o que eu faço, mas estava quase desistindo ? conta a ponteira, que tinha convites da Suíça, Turquia e Romênia (lugares onde receberia em euro), mas não queria sair do Brasil. ? Estava dividida. Não queria me aposentar, mas também não queria deixar o país e ficar longe da minha avó, que está com 89 anos, da minha mãe, do meu cachorro. Eles estão envelhecendo e quero estar com eles.

Érika, que defendeu o Bauru até março, disse sim a Zé Roberto mesmo que fosse para não ganhar um centavo. Se tudo desse errado, ao menos poderia se despedir num projeto banaca:

? Comecei a rir quando ele falou que era para jogar dali a 15 dias a Taça Prata, para chegar à Superliga B. Depois, quando eu disse que topava, ele falou que tinha um porém. Que não podia pagar nada (risos). Aceitei! Estava com o coração cheio de novo, ele me deu segurança.

PENEIRA

Wagão, assistente técnico de Zé Roberto, também não hesitou quando foi convidado para o projeto. Após temporada de clubes no Pinheiros, trabalhou na seleção sub-23 e na adulta, com Zé Roberto. Mas não tinha fechado novo contrato para a Superliga 2016/2017.

? Falei sim na hora. Primeiro pelo projeto, de começar do zero, com categorias de base. Segundo porque é o Zé Roberto. Trabalho com ele desde 2006 na seleção. Foi ele quem me trouxe de volta ao vôlei ? lembra Wagão, que nessa época estava fora do esporte, administrando quadras de futebol society e prestes a abir uma confecção. ? Depois disso, minha vida deu uma guinada no vôlei. Ele me deu a oportunidade e devo muito a ele.

Zé Roberto bancou os custos dos treinamentos, moradia e alimentação para as jogadoras durante o período em que se prepararam para a Taça Prata. A prefeitura de Barueri cedeu o ginásio para as partidas desta competição e o time teve ajuda também de uma empresa do mercado imobiliário que arcou com as despesas do evento, como a segurança.

Suplementos alimentares, uniformes e outros itens foram fornecidos por outras parceiras. Após a conquista da vaga para a Superliga B, todas as 11 jogadoras voltaram ao CT. Ainda sem patrocínio. Outras chegaram a ligar para Zé Roberto pedindo oportunidade no time. Mas ele teve de declinar.

? Quando o Zé contou que tinha fechado um patrocínio, foi a maior festa. Chorei. Sou grata a ele e agora quero ser a melhor do torneio ? promete Érika. ? Voltei a ter 18 anos.

Além da busca por patrocinadores, Zé Roberto inscreveu o projeto na Lei de Incentivo ao Esporte do governo federal (empresas podem deduzir até 1% do imposto de renda) e na Lei de Incentivo ao Esporte do Estado de São Paulo para viabilizar as categorias de base. É que o Barueri vai além do time principal, cujo objetivo é chegar à Superliga na temporada que vem. A base receberá carinho especial. E já nos dias 17 e 18 de dezembro o clube fará uma peneira para as categorias sub 15, sub 17 e sub 19, no Ginásio Sérgio Honda (Boa Vista), em Barueri. O endereço é: Rua da Prata, 01, Vila Boa Vista.