Cotidiano

Xiaofan Jiang, engenheiro elétrico: ?Ricos são extravagantes no consumo porque é barato?

?Tenho 33 anos e nasci em Nanquim, na China. Fui para os EUA aos 13, e escolhi ficar lá. Desde cedo tenho interesse pelas ciências da natureza, especialmente o uso de energia em larga escala. Gosto da ideia de que, com trabalho duro, não importam seus antecedentes, eventualmente você chegará aonde deseja. Um dia posso voltar à China.?

Conte algo que não sei.

Os prédios públicos têm sistemas de tecnologia muito antiquados. A maioria opera em um modo pré-internet, no qual todos os dados ficam presos em um sistema. Pense em como usamos diferentes aplicativos no celular ou no computador. Por que não se usar aplicativos em prédios?

Mas por que usaríamos?

Em casa, sou capaz de dizer quanta energia estou utilizando. Na maioria dos prédios públicos, não consigo determinar quanto dinheiro devo pagar pela minha parcela de energia, logo não sei as consequências das minhas ações. Todos deveriam ter uma pegada de energia, uma curva representando o uso em tempo real. Seu consumo deveria ser medido ao usar metrô, táxi ou carro. Num prédio público demanda trabalho. Temos que saber onde cada um está; chamamos isso de endolocalização, algo bem quente no meio acadêmico.

Parece que a ficção científica se tornaria parte da vida.

Alguns acham assustador, porque poderemos rastrear suas ações e responsabilizá-los. Não vamos rastreá-los em casa, ou em espaços privados. Não precisamos ter medo de fazer progressos, devemos apenas trabalhar simultaneamente na questão da privacidade. A tecnologia existe para ajudar as pessoas a entenderem o resultado de suas ações. Isso é ser um cidadão global.

O desperdício preocupa?

Conseguir um uso eficiente da energia é reduzir o consumo. Nós resfriamos uma sala, por exemplo, baseados numa configuração preestabelecida. Podemos dividir esta sala em zonas menores, de 1m², e usar dutos de ar para resfriar cada zona diretamente. Em vez de resfriar a sala inteira de modo uniforme, vamos direcionar a quantidade correta para cada área. Podemos atacar essa e outras questões com o que chamam de ?internet das coisas?.

Em que estágio esses mecanismos inteligentes estão presentes atualmente?

Estamos no estágio de coletar grandes quantidades de dados na nuvem, analisar as informações e produzir previsões úteis. Não vejo hoje um uso muito grande dessa tecnologia ao nível individual. Há produtos, como a geladeira que ajuda a fazer compras, mas não os considero uma representação verdadeira do que essa tecnologia é capaz. Ainda aguardamos um produto avassalador que use essa tecnologia.

Que produto seria esse?

É preciso atuar em duas direções: tornar as pessoas mais conscientes do ambiente ao redor, e fazer esse ambiente perceber melhor as pessoas. Com sensores inteligentes, poderíamos fazer as pessoas entenderem como regular uma lâmpada ou o ar-condicionado, e fazer o ambiente entender as preferências pessoais de temperatura e luz.

Não seriam questões ?pós-modernas?, num mundo com necessidades ainda antigas?

Você não pode sentar num escritório e pensar em questões abstratas. É preciso pegar um problema real, mergulhar nele e pensar por que ainda não foi resolvido. Se você ainda não conseguiu, está deixando algo passar.

Usar os recursos de forma mais eficiente pode reduzir a desigualdade no mundo?

Os ricos são extravagantes no consumo porque é muito barato para eles. Podemos fazer o uso da tecnologia girar em torno da responsabilidade social, não do dinheiro, que não seria o melhor incentivo para reduzir consumo de energia. Um aplicativo de Facebook que compara o consumo de energia com seus amigos poderia ser, sim, um incentivo a reduzir esse consumo.