Cotidiano

?Votei contra o impeachment, não contra Temer?, diz ministro do Esporte

BRASÍLIA – Em entrevista exclusiva ao GLOBO, o ministro do Esporte, Leonardo Picciani, falou sobre a relação com o governo de Michel Temer, após ter se posicionado contra o impeachment de Dilma Rousseff até o último momento. Picciani explicou ainda sua transição, em menos de dois anos, para três núcleos de apoio antagônicos: Aécio Neves nas eleições de 2014, Dilma Rousseff até 2016 e Michel Temer após o impeachment.

– Como fica a relação com o governo Temer, uma vez que o senhor foi contrário até o fim ao impeachment de Dilma?

Não foi uma eleição indireta, em que se votava na presidente ou no vice-presidente. Meu voto foi pelas razões que já manifestei, pela minha compreensão jurídica sobre o processo. Votei contra o impeachment, não contra o presidente Temer. Uma vez que meu voto foi vencido, que o Congresso decidiu afastar a presidente, que o vice-presidente assume o governo, e o vice-presidente é do PMDB, cabe a todos nós do PMDB nos empenharmos para que ele e o partido tenham sucesso nessa tarefa. É o que eu faço neste momento.

– Como fica a situação se Dilma voltar?

Esse tema não comporta trabalhar sob hipótese. Temos que aguardar a decisão definitiva do Senado. Neste momento, o importante é que este governo do qual faço parte tenha sucesso nas suas ações. Ter sucesso significa melhorar a situação econômica do país, melhorar a expectativa da população, a geração de emprego, a qualidade de vida.

– O ministério de Temer tem muitos políticos sem experiência técnica na área. É o caso do senhor. Como responde a isto?

Não vejo nenhum problema nessa área. Eu acho que o ministro deve ter capacidade de comandar a equipe, de definir prioridades. No caso do ministro político, ele deve ter capacidade de atrair investimentos para a sua pasta. É o que eu pretendo fazer. O político no ministério serei eu. Os demais serão técnicos com capacidade de gerir a área.

– Temer indica que pretende diminuir a barganha política com a redução de ministérios. O PMDB sempre lidou muito com apoio em troca de cargos. Como fica sem essa contrapartida?

O PMDB não participou dos governos em razão de ter cargos, pelo toma-lá-dá-cá. Tinha cargos, porque é natural que numa coalização os partidos ocupem espaços na gestão, à frente de algumas pastas, alguns temas. O PMDB sempre cumpriu no sistema político brasileiro o papel de moderador e garantidor da estabilidade democrática, institucional. Com 68 deputados, é natural que o partido ocupe espaços.

– Temer vai ter dificuldades de aprovar propostas no Congresso se não atender demandas por cargos?

Ele tem facilidade de diálogo com o Congresso. Sua equipe também. Se conseguirmos chamar o Congresso Nacional para ajudar, teremos mais facilidade para enfrentar questões polêmicas sem dar cargos em troca. Mas ressalvo que governo de coalizão pressupõe participação de todos.

? O senhor apoiaria o governo Temer se não fosse escolhido ministro ou não tivesse indicado alguém?

Com certeza, porque tenho absoluta confiança nele.

– Na eleição presidencial de 2014, o senhor apoiou Aécio Neves. Depois da eleição, apoiou Dilma na Câmara, e agora é ministro no governo Temer. Como fazer essa transição?

Eu tinha a impressão de que estava na hora de ter alternância de poder no país (em 2014). Só que as urnas disseram diferente. Por ser líder da bancada, e o partido era da base do governo, eu busquei a governabilidade, ajudar que o governo (Dilma) superasse seus desafios. E eu nunca deixei de apoiar Temer. Eu me sinto também no dever de dar minha pequena contribuição para o sucesso dessa tarefa, construir dias melhores para este país.

? Isto não confunde o seu eleitor?

Não, porque minhas posições são sempre transparentes. Tudo que defendi é porque acreditava. Na votação do impeachment, as mensagens que eu recebia dos meus eleitores eram: ?Tome qualquer posição, mas o que a gente não aceita é que você fique em cima do muro?.

– Como vê a polêmica sobre falta de mulheres no ministério de Temer?

É um governo transitório. Quando tem a sucessão após as eleições, tem dois a três meses para fazer a transição. Uma vez decidido pelo Senado como ocorreu, ele tinha que ter a equipe pronta. Então tem que ter essa compreensão.

– E no Ministério do Esporte?

Aqui a maioria das servidoras é de mulheres. A minha chefe de gabinete é mulher.

? Ainda descarta disputar a prefeitura do Rio de Janeiro?

Descarto absolutamente, porque pretendo estar (no Ministério do Esporte) nas Olimpíadas.

? Quem o senhor irá apoiar?

O candidato do PMDB, Pedro Paulo (secretário de Governo da prefeitura). Está definido. Prego batido e ponta virada.