Cotidiano

?Vivemos num império da hipocrisia?, diz Neville d?Almeida

28_11_2012-_Neville_de_Almeida_(2)-665.jpgRIO – Com exibição prevista para 16 de julho, às 19h, ?Os sete gatinhos? (1980), de Neville d?Almeida, integra a programação da mostra A Vilania no Cinema Brasileiro, em cartaz no CCBB desta sexta-feira até o dia 25 de julho. Adaptação da obra de Nelson Rodrigues, o filme gira em torno de uma família patriarcal do Grajaú, e tem Lima Duarte, Antônio Fagundes e Regina Casé no elenco. Nesta entrevista, o diretor diz que vê hipocrisia no cinema brasileiro contemporâneo.

Como você vê a presença do seu filme numa mostra que tem o caráter de destacar a figura do vilão no cinema nacional?

Também não entendi muito bem. Fiquei curioso com essa palavra, ?vilania?.

Vilões podem ser personagens, mas também instituições, a burocracia…

Quando ?Os sete gatinhos? foi encenada, décadas atrás, o público ficou tão indignado que jogou sapatos no palco. Veja bem, a hipocrisia na nossa sociedade é milenar. Vivemos num império da hipocrisia, assim como o cinema. O motivo daquela revolta é o personagem do pai, que num momento da trama diz que vai criar um bordel com suas filhas para ganhar dinheiro.

Então você vê o pai como o vilão?

Claro que é simplificar demais a questão, mas, sim. No filme, ele é uma autoridade performática, e não paterna, que leva à perversão e à deformação. Nem todo pai é legal. Alguns destroem a família moral, social e espiritualmente. Existe essa sacralização burguesa e hipócrita da figura paterna.

Se você tivesse feito seu filme hoje, como acha que seria a recepção?

Seria vetado em várias instâncias. Meu filme mais recente (?A frente fria que a chuva traz?, 2015), por exemplo, foi vetado no Festival do Rio. Não passou pela curadoria. A censura, hoje, acontece nesse tipo de seleção, e também entre patrocinadores.

Vários filmes seus foram censurados pela ditadura, mas ?A dama do lotação? (1978) e ?Os sete gatinhos? foram sucessos de bilheteria. Como se sente tendo um filme seu exibido na tela grande 36 anos depois?

A maioria dos filmes brasileiros cai no esquecimento após três anos, exceto os clássicos. Pouco tempo atrás ouvi de um taxista que uma cena de ?Os sete gatinhos? o tinha marcado até hoje. As produções atuais são muito parecidas. A minha, não.

Que outros temas quer tratar nos seus próximos filmes?

Já tenho 75 anos, estou no último estágio da minha vida. Vou me dedicar a fazer filmes que precisam ser feitos. Quero tratar da mulher em ?Dama da internet?, que pretendo filmar até o ano que vem; da Floresta Amazônica, em ?Bye bye Amazônia?; e da história do negro, em ?Escravidão?.