Cotidiano

Viúvo de brasileira sofre para contar sobre acidente para a filha

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NOVA YORK ? Diferente dos dias normais, quem buscou a pequena Julia na creche Smart Start Academy na última quinta-feira foi Adrianus de Kroon, pai da menina de apenas um ano. Normalmente, a tarefa era cumprida pela mãe, a advogada brasileira Fabíola Bittar de Kroon, única vítima fatal do acidente de trem na estação de Hoboken, em Nova Jersey, nos EUA.

? Ele disse: ?como vou contar para ela? Como vou lidar com isso?? ? contou Karlos Magner, dono da creche, que conversou com Adrianus no dia do fatídico acidente.

Como profissional da área de educação, Magner já conheceu crianças que perderam os pais, mas nunca um caso tão repentino e violento como este:

? Eu disse a ele honestamente: ?Eu não sei. Não existe um livro. Na vida, nós não estamos treinados. Nós não sabemos ? disse em entrevista ao ?New York Times?.

Na manhã de quinta-feira, Fabíola, de 34 anos, havia deixado a pequena Julia na creche cerca de uma hora antes do acidente. Segundo Magner, Fabíola buscava a filha na creche diariamente, e enchia a menina de beijos.

? A filha é muito apegada a ela ? disse Magner, afirmando que a menina ficou inquieta na quinta-feira, após passar o horário em que a mãe vinha buscá-la normalmente. ? Ela sabia que estava faltando algo.

A família se mudou para Hoboken em abril, e Fabíola iria procurar uma casa maior no dia do acidente. ?Talvez uma casa no Brooklyn?, disse ela, em mensagem enviada à amiga Roberta Lima, que vive no Rio de Janeiro. Na última troca de mensagens entre as duas, na terça-feira, Roberta perguntou à Fabíola quando ela retornaria ao Brasil para uma visita. O plano era retornar em dezembro, a tempo de celebrar o segundo aniversário de Julia.

Segundo Roberta, Fabíola estava ?um pouco apreensiva por viver longe da família, agora que tinha uma criança?.

MUDANÇA RECENTE PARA OS EUA

Adrianus, conhecido como Daan, é holandês e conheceu Fabíola quando trabalhava em São Paulo, onde ela cursava faculdade de Direito, apesar de nascida em Santos, no litoral paulista. O casal se mudou para Miami, na Flórida, em 2007, onde os dois estudaram na Florida International University. Quatro anos depois retornaram ao Brasil.

Daan trabalhava no desenvolvimento de negócios para uma cerveja jamaicana e para uma marca de cachaça da fabricante de bebidas Diageo, dona de marcas como Johnnie Walker e Guinness. Por causa da crise econômica, Adrianus foi deslocado para o projeto de expansão da companhia em Assunção, no Paraguai. Grávida, Fabíola decidiu ficar em São Paulo, mais perto da família, e o marido voltava para casa nos fins de semana. Eles decidiram se mudar para os EUA para poderem passar mais tempos juntos em família.

? Eles estavam muito felizes, cheios de planos, realmente excitados com a mudança ? disse Roberta.

Agora, Adrianus terá que ser ?pai e mãe?, disse Magner. O único conselho que o educador conseguiu dar ao viúvo foi que ele desse o tempo necessário até sentir o tempo certo para conversar com a filha sobre o acontecido.

?Apenas o pai vai saber quando é o tempo certo para contar ? disse Magner. ? As crianças são como esponjas, elas absorvem muito, mas elas entendem.