Cotidiano

Vitrola Sintética se prepara para ir ao Grammy Latino pelo segundo ano consecutivo

Links Vitrola SintéticaRIO ? Por muito pouco, “Deus”, música da banda paulista Vitrola Sintética indicada ao Grammy Latino na categoria melhor canção alternativa, sequer seria lançada. Repleta de intervenções eletrônicas, entre samplers e programações, a composição não encontrava pares no repertório do quarteto formado por Felipe Antunes (voz e guitarra), Otávio Carvalho (baixo e programações), Rodrigo Fuji (guitarra e piano) e Kezo Nogueira (bateria). Muito menos na sonoridade proposta por “Sintético” (2015), o segundo disco da banda, entre arranjos minimalistas e sofisticados embalando letras requintadas.

? “Deus” é uma canção bastante desconstruída, bem de estúdio mesmo. Nós tínhamos dúvidas se lançaríamos, não sabíamos se tinha ficado legal. Tanto que eu só fui botar voz bem depois de gravarmos, para ver como ficava ? lembra Felipe.

No fim das contas, a música acabou entrando no “Sintético B”, vinil de 7 polegadas lançado na última sexta-feira, que conta ainda com a bucólica “Ar e vazio” ? digitalmente, as canções saíram na versão deluxe do segundo álbum da banda.

A decisão foi recompensada com a indicação ao Grammy Latino, em que disputa com “Ángeles y serafines”, da banda argentina Sig Ragga, “Averno, el fantasma”, da consagrada big band hermana Los Fabulosos Cadillacs, “Vez primera”, da cantora e compositora mexicana Carla Morrison e “Es como el día”, do argentino Kevin Johansen e sua banda The Nada. É a primeira vez que a categoria de música alternativa tem um representante brasileiro desde 2013.

Na semana que vem, quando o Vitrola embarcar rumo a Las Vegas, onde a cerimônia do Grammy será realizada, estará repetindo uma experiência que teve no ano passado, na 16ª edição do prêmio. Com “Sintético”, a banda foi indicada como revelação e melhor engenharia de som e, apesar de não ter vencido em nenhuma categoria, aproveitou a oportunidade para fazer um miniturnê em albergues da região, trocando hospedagem por shows acústicos. Vitrola Sintética – Deus

Antes de partir para essa nova aventura, Felipe, Otávio e Rodrigo conversaram com o GLOBO.

O Sintético já tinha recebido indicações ao Grammy em 2015, e agora o “Sintético B” volta a ser indicado, com a faixa “Deus”. Apesar de já terem vivido essa experiência antes, como vocês receberam essa notícia? Foi mais surpreendente?

Otávio: Foi bem surpreendente porque a gente inscreveu a música e nem estava muito ligado na data, não tinha tanta expectativa. No dia, o Felipe Tichauer, que é o cara que masterizou o disco, mandou um print com os indicados e demorou para cair a ficha. Todo mundo ficou meio sem entender (risos).

Por englobar artistas tão variados, novos e experientes, a categoria acaba sendo completamente imprevisível. Vocês tão esperançosos? Acham que o fato de ser uma música cantada em português surge como uma barreira?

Otávio: Uma coisa bacana dessa indicação é que a gente acaba conhecendo artistas novos e que já estouraram em seus países, como foi com a Natalia Lafourcade no ano passado. Alguns artistas são muito maiores que a gente, é uma honra estar ao lado deles. Mas, é isso, a gente não faz ideia se tem chance…

Felipe: É interessante essa questão. O Otávio está falando de artistas bombados, mas, em uma categoria de canção alternativa, o fato do cara ser bombado não faz muito sentido, assim como o de ter artistas mais pop. É até meio confuso, não dá muito para entender a ideia de alternativo deles. Com “Deus”, até entendo, é uma canção que no pop não se encontraria de fato, mas fica imprevisível por não entendermos o conceito de alternativo ali.

Vocês sempre pensaram em “Deus” como uma faixa extra do “Sintético”? Por que ela acabou não entrando no disco?

Rodrigo: Para o “Sintético”, gravamos um total de 13 músicas, e “Deus” estava nesse bolo. Mas duas delas não se encaixavam dentro da temática que a gente quis para o próprio disco.

Felipe: Ao mesmo tempo, a gente percebeu que as duas, “Deus” e “Ar e vazio”, sozinhas, podiam ser mais fortes do que se diluídas dentro do “Sintético”, que já estava bem fechado em sua temática.

E que temática foi essa?

Felipe: Não sei se é uma temática literária, mas talvez de sonoridade. “Deus” é uma canção bastante desconstruída, bem de estúdio mesmo. “Ar e vazio” se aproxima mais do “Sintético”, mas “Deus” é produção pura, cheia de coisa que a gente sampleou. Tem muita viagem nesse sentido.

Otávio: A gravação do “Sintético” em si durou um ano. Começamos na primeira semana de janeiro de 2014 e terminamos em dezembro. Quando as músicas estavam editadas, entramos naquela difícil escolha da ordem delas, cada um sugerindo uma… Pensamos muito no disco como uma obra fechada, ela passa a ser uma narrativa, e, nas conversas sobre essa narrativa, surgiu a proposta de tirar essas duas faixas.

Felipe: Mas, ao mesmo tempo, tínhamos dúvidas se lançaríamos “Deus”. Não sabíamos se tinha ficado legal. Eu só fui ao estúdio gravar as vozes depois do Natal, quando a gravação do disco já tinha terminado, meio que para ver como ficava. No fim, a saída foi lançar como faixa extra. Isso rola muito em disco. “Deus te ouça”, que entrou no “Sintético”, por exemplo, podia ter entrado no disco anterior (“Expassos”, de 2013). Sintético Deluxe

O reconhecimento que a indicação ao Grammy traz pode fazer com que vocês invistam mais em uma sonoridade próxima a de “Deus” no futuro?

Felipe: Acho que podemos explorar mais isso, sim. O lance de trazer uma liberdade maior no estúdio. Para esse disco, experimentamos muitas coisas diferentes do que estávamos acostumados a fazer e percebemos que é bacana, que as pessoas curtem também. Isso traz a liberdade para experimentar.

Rodrigo: Por outro lado, esse tipo de reconhecimento nos deixa em uma situação complicada já pensando em um próximo disco. Ele nos faz questionar se devíamos fazer algo parecido ou algo diferente, então vamos ter que pensar muito nisso.

Otávio: Ou não pensar, né (risos).

No ano passado, com a indicação ao Grammy, vocês aproveitaram para fazer uma série de shows em formato acústico em hostels da Califórnia em troca de hospedagem. Já tão pensando em fazer o mesmo neste ano?

Otávio: Ano passado, fizemos essa tour e até rodamos um doc sobre essa trip toda, que está para sair. Mas estamos com planos menos ambiciosos dessa vez, sem pensar em shoes. Vamos levar os violões para o caso de surgir alguma coisa no caminho, mas não tem nada planejado.

Depois do Grammy e dessa divulgação do “Sintético B”, quais são os próximos passos do Vitrola? Já pensam em disco novo?

Felipe: Fizemos um show na semana passada para lançar esse singles e já estamos começando a montar alguma coisa de agenda para o ano que vem. Mas já pensamos, sim, em trabalhar para gravar um disco em 2017.

Otávio: Mas sentimos que o “Sintético” ainda tem um chão. Acabamos de lançar o “B”, tem o documentário que deve sair no começo do ano que vem. Ainda temos um projeto que roteirizamos em cima de músicas do “Sintético”, tipo curtas, e queremos tentar viabilizar para isso sair em vídeo. O disco novo ainda aparece como uma vontade bem prematura.