Cotidiano

Vítimas e heróis em um cenário de horror em Orlando

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ORLANDO, EUA – No início da madrugada de domingo, o celular de Mina Justice brilhou com mensagens de texto de seu filho Eddie. ?Mamãe, eu te amo?, disse o jovem, antes de contar que estava escondido no banheiro da boate Pulse, onde, armado com um fuzil AR-15, Omar Mateen disparava contra clientes, no maior ataque com armas de fogo na História dos EUA. Eddie ainda pediu à mãe que chamasse a polícia, antes de avisar: ?Ele está chegando. Vou morrer?. Links Orlando

Pouco mais de meia hora após a mensagem inicial, Eddie e Mina continuavam a trocar mensagens, quando o jovem anunciou que o atirador tinha chegado ao banheiro. Confusa, Mina tentou confirmar a informação perguntando, ?O homem está no banheiro com você??. O ?sim? enviado por Eddie seria a última mensagem que ela receberia do filho.

A conversa entre Mina e Eddie durante os momentos de terror na boate Pulse se espalhou pelas redes sociais horas depois e, com a dificuldade para identificar muitos dos corpos encontrados no clube, houve esperança entre familiares e amigos de que ele tivesse sobrevivido ao massacre. No entanto, no fim da noite de domingo, seu nome foi confirmado pelas autoridades com parte das 49 vítimas do tiroteio.

Descrito como ?um contador de 30 anos que vivia numa casa grande, e gostava de comer, malhar e fazer as pessoas rirem?, Eddie Justice se tornou um dos muitos rostos da tragédia, assim como Luis Vielma. Assistente de produção da Disaster Studios e operador de atrações no Universal Orlando Resort, Luis trabalhava no parque temático dedicado ao mundo do bruxo inglês Harry Potter, e sua morte levou a escritora J.K. Rowling, autora da saga, a prestar uma homenagem no Twitter.

?Luis Vielma trabalhava no parque Harry Potter da Universal. Ele tinha 22 anos. Eu não consigo parar de chorar?, afirmou Rowling, em sua conta na rede social. De acordo com internautas, outro funcionário do parque, identificado apenas como Tony, estaria internado em estado grave após ter sido alvejado na Pulse.

?Estou rezando por Tony. Meus pensamentos estão com todos vocês?, respondeu a autora.

Relatos de amigos, descrevem Luis como ?um jovem apaixonado pela vida, pela seleção mexicana de futebol, e que adorava dançar.

? Luis era louco pela saga de Harry Potter e adorava seu emprego ? afirmou uma amiga da família, identificada apenas como Laura. ? Qualquer coisa que ele fizesse era feita com alegria.Eddie.jpg

Demonstrações de heroísmo

Em meio ao caos que se instalou na boate Pulse durante o tiroteio, muitos dos presentes ajudaram pessoas a escaparem e socorreram feridos, evitando que o número de vítimas fatais fosse ainda maior. Ray Rivera, que trabalhava como DJ no momento do ataque, abrigou um casal na cabine e ajudou-os a escapar do clube enquanto cadáveres crivados de balas se amontoavam na pista de dança.

? Me abaixei na cabine e vi pessoas correndo para o pátio que leva para o estacionamento. Todos estavam em pânico, e o local se esvaziou rapidamente. Quando olhei, vi pessoas caídas na pista de dança ? afirmou Rivera, que trabalha sob o pseudônimo de DJ Infinite. ? Nunca imaginei que viveria algo assim.

Outros não tiveram a mesma sorte de Rivera. Conhecido pelos amigos como Eddie, o agente de viagens Edward Sotomayor foi baleado nas costas enquanto protegia o namorado, e morreu no hospital. A identidade do namorado do agente de viagens não foi revelada, mas relatos em jornais da Flórida afirmam que ele sobreviveu ao ataque. Sotomayor retornara há poucas semanas de Cuba, após organizar o primeiro cruzeiro gay a partir dos EUA rumo à ilha caribenha.

? Comecei a chorar quando vi seu nome na lista de vítimas do ataque. Você nunca imagina que um de seus amigos vai morrer num atentado terrorista ? afirmou Jason Howell, amigo de longa data de Sotomayor. ? Ele tocou a vida de muitas pessoas por ser uma pessoa extremamente positiva. Ele fazia tudo por todo mundo.

Outro frequentador da Pulse que não sobreviveu ao ataque foi Stanley Almodovar III. O técnico farmacêutico, de 23 anos, chegou a publicar um vídeo na rede social Snapchat, sorrindo e cantando a caminho da boate, horas antes do atentado. Descrito por sua mãe como ?um homem feliz com um grande coração?, Stanley, que faria 24 anos este mês, foi atingido por três tiros ao tentar escapar do banheiro da boate, mas antes de morrer, empurrou pessoas, retirando-as da trajetória das balas.

? Ele era uma pessoa incrível, de boa alma ? emocionou-se Yoli Ramos, tia do jovem. ? Tinha um futuro promissor pela frente.201606122312241257_AFP.jpg

Um estranho baleado no caminho

Funcionário da Southern Nights Orlando, outro popular bar gay da cidade, Joshua McGill, de 26 anos, aproveitou a noite de folga e foi com amigos à Pulse. A noite se aproximava do fim quando o grupo ouviu três estampidos altos, que acreditaram tratar-se de um problema no sistema de som da boate, ou de fogos de artifício. Poucos segundos depois, no entanto, os ruídos continuaram e, ao ver a multidão correndo, Joshua percebeu que um atirador havia entrado na boate.

Ele e seus amigos saíram correndo e se esconderam no estacionamento. Ao perceber que os disparos estavam ficando cada vez mais distantes, ele se levantou e correu em busca de proteção policial, mas ouviu um homem, identificado como Rodney, murmurar ?acho que fui baleado?. Usando sua camisa e gravata, Joshua improvisou bandagens para estancar o sangue nos ferimentos de Rodney, e conseguiu levá-lo ao hospital.

?Se alguém conhecer um homem chamado Rodney que foi baleado hoje à noite, por favor, avisem-me se ele está bem?, escreveu Joshua no Facebook, após declarar que não conseguia informações sobre o ferido no hospital. ?Sinto que Deus me colocou na boate hoje, e me fez ficar lá para ajudar um completo estranho, por qualquer motivo que seja. Que Ele esteja conosco nesse momento tão difícil?.

O relato de Joshua foi compartilhado por mais de 2.500 usuários, e no Twitter, muitos internautas louvaram as ações do jovem estudante de Enfermagem, classificando-o como um herói.

Horas após a publicação, um amigo de Rodney informou que ele não corria mais risco de vida e estava em situação estável.