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Vermelho, o mecânico que fazia automobilismo por paixão

Vermelho foi um dos preparadores que contribuíram para que os motores a álcool dessem certo no Brasil

Vermelho, o mecânico que fazia automobilismo por paixão

Aldo João do Nascimento, o popular Vermelho, é daqueles que não têm tempo ruim. Sempre esbanjando alegria, desfilou pelos autódromos do Brasil nos anos 80, quando trabalhou com os pilotos Roberto Wypych Júnior, Ivo Mendes Lima, Nestor Mascarello, Jorge Rebelatto e Gerson Marques da Silva, todos na Fórmula Ford.

Wypych foi o primeiro piloto com quem trabalhou e tudo começou com um Fusca na Divisão 3. “Trabalhávamos juntos na Mecânica Azul e, quando o Wypych decidiu correr, eu e o Juvelino Poletto começamos a fazer o carro dele. Quando o Wypych foi para a Fórmula Ford, fui com ele. Assim militei no automobilismo de 1979 a 1989. Foram dez anos de muitas aventuras e alegrias”, conta.

Vermelho destaca que fazia automobilismo por paixão, pois nunca abandonou sua oficina mecânica, aberta até hoje. “Fazíamos tudo por paixão, por amor ao esporte. A nossa alegria era ver nossos pilotos no pódio. Não tinha tempo ruim. Ao mesmo tempo em que éramos hospedados em um hotel cinco estrelas, às vezes também dormíamos nos boxes, passávamos noites inteiras montando carros, fazendo motores, consertando estrados de batidas. Mas tudo valeu a pena”, acentua.

Vermelho também informa que a primeira corrida fora de Cascavel foi com Roberto Wypych no Festival do Álcool, no autódromo de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. “Fomos pioneiros nos motores a álcool. O Brasil vivia a crise do petróleo e o governo proibiu corridas com carros a gasolina. A Ford manteve a Fórmula Ford, mas os motores tinham que ser a álcool. Pilotos e preparadores abraçaram a ideia e tudo deu certo, ao ponto de hoje termos motores flex, que funcionam com os dois combustíveis”, frisa o orgulhoso Vermelho.

 

Saudades

Hoje trabalhando apenas em sua oficina e jurando que jamais voltará a fazer carros de corrida, Vermelho diz ter saudades das alegrias que teve nas pistas.

Ele frisa que Wypych, Ivo Mendes Lima, Afonso Rangel e Saul Caus travavam grandes disputas que, do autódromo de Cascavel, se estenderam para as pistas de todo o Brasil. “Eram quatro grandes pilotos. Nunca trabalhei com o Saul, mas sempre o vi como um grande piloto. Vê-los medindo forças era garantia de um grande espetáculo”, salienta Vermelho.

 

Fã de Senna

Além dos seus pilotos, Vermelho sempre via Ayrton Senna como o piloto que faria sucesso na Fórmula 1. Sempre que encontrava o jovem, exclamava para que todos ouvissem: “Esse piloto nos dará muitas alegrias. Vocês vão ver”.

Todas as vezes que se encontrava com Senna tirava foto e dizia que no dia em que ele fosse campeão mundial da Fórmula 1 pela primeira vez iria passar em todos os estabelecimento comerciais da Avenida Brasil mostrando que era o seu amigo o campeão do mundo. Senna sorria e dizia “Deus te ouça”.

Mas Vermelho não pôde cumprir a promessa. Em 1988, já com Senna brigando pelo campeonato, todas as fotos do Vermelho foram roubadas. Até hoje não apareceram. Por muitos anos o fã de Senna esperou que quem lhe pregou a peça lhe devolveria as fotos, mas ainda não aconteceu. “Acredito que quem fez essa brincadeira foi o amigo João Alfran, preparador de sucesso nos bons tempos da Fórmula Ford. Mas, como ele morreu, perdi a esperança de recuperar as fotos. O Beto Gruztmacher ficou de ver nos arquivos de filmes do jornal O Paraná algumas que ele tinha feito, mas foi morar em Rondônia e perdemos o contato. Se alguma aparecer, será um milagre”, fala Vermelho, em tom de tristeza.

 

Legado

Afastado do automobilismo há 30 anos, o legado de Vermelho continua. Seu irmão Albino Nascimento, o Bino, que foi um dos seus alunos, continuou com a paixão pelo automobilismo e se tornou uma das referências na preparação de kart. Hoje reside em Foz do Iguaçu.