Cotidiano

Venezuelanos vão às ruas em memória de estudantes mortos em protestos de 2014

VENEZUELA-OPPOSITION-RALLYCARACAS ? Uma passeata, formada principalmente por estudantes, tomou as ruas de Caracas neste domingo e lembrou as jovens vítimas dos protestos de fevereiro de 2014, que deixaram 43 mortos no país, dentre eles os alunos Robert Redman, Geraldine Moreno e Bassil Da Costa. O ato foi sabotado por venezuelanos motorizados, equipados com rádios, e gorros em alusão ao chavismo, que ameaçaram os participantes. Em outra parte da capital, apoiadores ao presidente Nicolás Maduro também foram às ruas. Venezuela_1302

? Nós, estudantes, continuamos nas ruas para reivindicar nossa luta, em Caracas e por todo o país, e para demostrar que a Venezuela não está calada ou submissa, que não perdemos a esperança e continuamos de pé pela democracia e pela liberdade ? disse o líder estudantil Hasler Iglesias, presidente da Federação de Centros Universitários da Universidade Central da Venezuela.

Há três anos, no dia 12 de fevereiro de 2014, milhares de pessoas foram às ruas contra a situação econômica que começava a se complicar no país, e pedindo a saída do presidente, Nicolás Maduro. A marcha de ontem, no Dia da Juventude, aconteceu a poucos metros de onde Redman, de 31 anos, foi baleado e morto, na frente de familiares. Ele protestava contra a morte de outro estudante, Bassil Da Costa, de 23 anos, que atravessava a rua perto da Universidade Alejandro Humboldt quando recebeu um tiro na cabeça.

Na época, vídeos de segurança mostraram um grupo de coletivos motorizados disparando contra opositores, assim como funcionários do Serviço Bolivariano de Inteligencia Nacional (Sebin) e da Polícia Nacional Bolivariana (PNB) armados. José Ramón Perdomo, da Sebin, e Andry López, da PNB foram acusados e presos mais tarde.

Neste domingo, o presidente ? que culpa opositores pelas mortes, por terem liderado as manifestações ? aproveitou seu programa dominical estatal para criticar a TV americana CNN, apenas um dia depois que jornalistas brasileiros foram detidos por dez horas em Maracaibo.

? Fora CNN da Venezuela! Bem longe de nós! Os assuntos dos venezuelanos resolvemos nós, venezuelanos ? disse o presidente, em uma resposta a uma investigação da rede que implica autoridades chavistas em uma suposta venda de passaportes.

Enquanto isso, cresce o número de venezuelanos, principalmente da classe média, que deixam o país. Nos EUA, os venezuelanos lideram, pela primeira vez, os pedidos de asilo político. Segundo dados do serviço de Cidadania e Imigração, 18.155 cidadãos procuraram o país no ano passado, um aumento de 150% desde 2015 ? e seis vezes o registrado em 2014. Os chineses, até então na liderança, ficaram em segundo lugar, com 17.745 solicitações.

Após os protestos de 2014, a Venezuela emergiu entre os dez países com mais requerentes de asilo. Mesmo em meio a uma ampla campanha de detenções a críticos do governo, menos de cem venezuelanos procuravam asilo por mês até 2014. Em dezembro do ano passado, foram registradas 2.334 solicitações.

? O ritmo em que os pedidos estão crescendo é alarmante ? afirmou Julio Henriquez, diretor do Refugee Freedom Program, com sede em Boston.