Economia

Vendas do varejo voltam a subir e estão 8,2% acima da pré-pandemia

A alta nos preços dos alimentos prejudicou o desempenho dos supermercados, mas o volume vendido alcançou níveis recordes em agosto nos segmentos de móveis e eletrodomésticos, material de construção e outros artigos de uso pessoal e doméstico

Foto: arquivo
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Rio de Janeiro – Turbinadas pelo auxílio emergencial e pelo aumento nas concessões de crédito, as vendas nos comércio varejista cresceram 3,4% em agosto ante julho, para o patamar mais elevado já visto na série histórica da Pesquisa Mensal de Comércio, iniciada em janeiro de 2000 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A alta nos preços dos alimentos prejudicou o desempenho dos supermercados, mas o volume vendido alcançou níveis recordes em agosto nos segmentos de móveis e eletrodomésticos, material de construção e outros artigos de uso pessoal e doméstico. “Essas são as atividades que estão puxando essa retomada do varejo”, observou Isabella Nunes, gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE.

O bom desempenho do comércio varejista tem sido sustentado pelo pagamento do auxílio emergencial, que permitiu renda extra especialmente às famílias mais pobres, e pelo avanço nas concessões de crédito para pessoas físicas, com taxas de juros mais baixas, justificou Cristiano Santos, analista da pesquisa do IBGE.

No entanto, a principal fonte de incerteza para o restante do ano vem da redução da parcela mensal do auxílio emergencial, de R$ 600 para R$ 300.

De acordo com Luana Miranda, do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), a tendência é que, mesmo reduzido à metade, o auxílio leve a um crescimento real na massa de rendimentos da população no quarto trimestre ante igual período do ano passado, o que manteria o varejo com performance positiva ao longo dos próximos meses. A dúvida é a virada para 2021, quando os benefícios devem ser extintos sem que o mercado de trabalho tenha se recuperado o bastante para que haja uma retomada da renda do trabalho.

“A grande questão é como a economia vai reagir, como o consumo de bens e serviços vai ficar sem esse auxílio e quanto da poupança acumulada vai ajudar a suavizar essa mudança brusca do consumo, inclusive com a incerteza em relação à evolução do mercado de trabalho”, ponderou Luana.

Para o economista-sênior do Banco MUFG Brasil, Maurício Nakahodo, a redução nos juros e as condições de financiamento mais flexíveis devem ajudar a impulsionar o consumo de bens semiduráveis e manter uma expansão das vendas até o fim deste ano, mesmo que em ritmo mais moderado.

“O varejo tem desempenhado bem e, apesar desses fatores que podem tirar fôlego, como a redução da parcela do auxílio emergencial, nós também estamos vendo sinais de retomada do mercado de trabalho formal e de aumento de confiança do comércio, que é favorável a contratações”, opinou Nakahodo.

Setores

Em agosto, o volume vendido pelo varejo superou em 2,6% o recorde anterior, de outubro de 2014. As vendas já estão 8,2% acima do patamar de fevereiro, no pré-pandemia. O varejo ampliado, que inclui os setores de veículos e material de construção, cresceu 4,6% em relação a julho, superando em 2,2% o nível pré-pandemia, embora ainda opere 4,1% abaixo do pico alcançado em agosto de 2012.

Apesar da melhora em agosto em cinco dos oito setores investigados, as vendas de veículos ainda estão 12,9% abaixo do patamar pré-pandemia, assim como as de vestuário (9,4% aquém), livros e papelaria (39,2% abaixo), combustíveis (8,8% aquém) e equipamentos de informática (5,5% abaixo).