Cotidiano

Velocidade da retomada do crescimento no país preocupa economistas

BRASÍLIA – Numa reunião com diretores do Banco Central, nesta segunda-feira, economistas do mercado financeiro elevaram o tom das preocupações com a retomada do crescimento. Os técnicos da autoridade monetária escutaram que os analistas já consolidaram que haverá um ajuste e que os juros cairão. A dúvida atual, segundo participantes ouvidos pelo GLOBO, é a velocidade dessas mudanças e se o presidente do Senado, Renan Calheiros, pode atrapalhar todo o processo.

O receio do mercado financeiro é se Renan é capaz de usar a tramitação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para tentar barrar investigações da Operação Lava-Jato.

? Será que Renan pode ?sequestrar? a PEC? ? questiona um dos participantes, ouvidos pelo GLOBO sob a condição de anonimato.

Na reunião, os diretores Carlos Viana (Política Econômica) e Tiago Couto Berriel (Assuntos Internacionais) ainda ouviram questões como quem voltará a consumir com um nível tão alto de desemprego e quando as empresas – que estão bastante endividadas – poderão voltar a investir.

? Os economistas mostraram uma preocupação muito intensa com o nível de atividade econômica ? resumiu uma fonte, que completou:

? O mercado está numa ansiedade de mais corte de juros.

A ideia dos analistas é que se o ciclo de corte de juros não for muito grande não haverá queda real da taxa básica (Selic). Isso porque a inflação tem diminuído.

Aliás, a alta de preços – que assombrou o Banco Central nos últimos anos – parece que saiu completamente do foco dos analistas. Com a ancoragem das expectativas já para o ano que vem, os economistas não se detém mais nessa preocupação. Falaram inclusive que preveem queda de preços de serviços.

COPOM

Normalmente, nessas reuniões trimestrais feitas entre diretores do BC e analistas do mercado, os técnicos da autoridade monetária mais escutam do que falam. No entanto, no encontro desta segunda-feira, Berriel usou a palavra para esclarecer uma grande dúvida dos analistas: se a atual diretoria usa estrategicamente algumas palavras (como a gestão anterior) para indicar qual será o próximo passo para a política de controle de inflação.

? A gente não tem um dicionário oculto. Estamos usando português mesmo ? teria dito o diretor, segundo um participante.

Na gestão anterior, os comunicados eram telegráficos e tinham alguns termos como ?parcimônia? ou ?tempestivamente?, que indicavam o que o BC deveria fazer no futuro. Tiago Couto Berriel teria tentado pacificar que o atual Comitê de Política Monetária (Copom) falará mais claramente possível.

Ele ainda teria reclamado que o mercado tem tido uma visão estreita dos comentários do Copom. Afirmou que – normalmente – os analistas dizem que o Copom olha apenas os três pontos elencados como risco para o controle de preços e que a análise tem de ser mais abrangente porque há muito mais fatores na mesa.