Dattu Bhokanal já nutriu um dia uma relação de medo com a água. Agora, é nela que o jovem enxerga a oportunidade de sobreviver à seca indiana. Criado em um pequeno vilarejo em uma das regiões mais quentes da Índia, ele sequer sabia nadar quando decidiu se juntar às Forças Armadas do país, onde conheceria o esporte. Ainda não conhece o mar. Mas foi em 2012 que o único remador indiano classificado para o Rio-2016 pegou o remo pela primeira vez ? quando soube da garantia da vaga, nem entendia o que significavam os Jogos Olímpicos.
?Eu penso em como a minha vida mudou, e eu só rio?, disse à rede americana CNN. Ainda hoje, sua casa no estado de Maharashtra, de um só cômodo, não possui água encanada ou refrigeração. O remador alterna os treinos ao cuidado da plantação de cebola, para a qual precisa caminhar, sob o calor de 45ºC, até os poços do vilarejo dada a falta de um sistema de irrigação que responda às erráticas chuvas das monções.
O atual treinador Paul Mokha lembra do dia em que viu o remador em ação pela primeira vez: ?Eu vi todos aqueles homens no remo e imediatamente eu pensei ?Quem é aquele ali?? Ele tinha um jeito muito natural de se mover na água?, ressaltou Mokha.
?Quando eles me disseram que eu havia me classificado para a Olimpíada e que eu iria ao Rio, eu nem sabia o que queriam dizer?, disse Bhokanal, cujo objetivo do êxito no esporte era ascender nas patentes militares e melhorar o salário para ajudar a família.
Por mês, ganha US$ 400 para colaborar no sustento de duas irmãs e da mãe, hoje hospitalizada por conta de uma queda. Mesmo considerado azarão na prova olímpica, Bhokanal confia que pode levar uma medalha de volta para casa.
?Eu tenho tantos problemas em casa. Meu pai está morto, minha mãe está paralisada, nossos campos estão secos, estamos em dívidas. Preciso ganhar?, afirmou à rede americana. ?
