Cotidiano

Uma terra de diversidade

Eles estão por aí espalhados em 3,4 mil hectares ou 8,2 mil alqueires de terras cascavelenses, cultivando o que vai à mesa do consumidor todos os dias. São os agricultores familiares, que só são considerados pequenos por conta do tamanho de suas propriedades. Porém, se levar em consideração o quanto representam ao município, eles estão bem além de qualquer definição.

Seo Cesar Kosarewicz, de 46 anos, é ‘bicho da terra’ e desde pequeno segue os passos do pai. “Sempre trabalhei na agricultura e não me vejo fazendo outra coisa”, diz. Em sua propriedade, no distrito de São Salvador, o que não falta é a diversidade de produtos, uma das principais características da AF (Agricultura Familiar). Na propriedade de cinco alqueires, o produtor cultiva alface, rúcula, beterraba, couve folha, agrião, cheiro verde, além do milho, que sozinho ocupa dois alqueires.

As hortaliças são o carro-chefe da família Kosarewicz, que mantém parte da renda mensal com a venda dos produtos na Feira do Produtor. É na praça Wilson Joffre que o agricultor está em pelo menos três dias da semana, junto com outros dois familiares. “Começo a trabalhar cedo e vou até a noite, principalmente quando tem feira. Dependemos bastante do que é vendido [na feira], pois é difícil sobrar alguma coisa. Como temos muita variedade, é fácil vender mais”, relata.

Lá no campo, a rotina de Kosarewicz é a mesma de outros 1,7 mil agricultores familiares de Cascavel. Este é o número oficial de AFs repassado pela Secretaria Municipal de Agricultura, com base na DAP (Declaração de Aptidão para Agricultura Familiar).

Conforme o secretário de Agricultura de Cascavel, Agassiz Linhares Neto, mais de 15 culturas são produzidas pela AF, entre elas alface, repolho, brócolis, acelga, batata doce, tomate, mandioca, incluindo na lista ainda o filé de tilápia e entre tantos derivados do leite como queijos, doce de leite, iogurte, derivados do trigo (pães, cucas, bolachas, macarrão), ovos, frutas (morango, laranja, banana, mexerica, poncã) e deliciosos doces e geleias.

Aprender para vender mais

O que não se pode negar é a vontade de crescer desses pequenos. Ana Kelly dos Santos é um exemplo de que é preciso aprender para vender mais. Ela conta que participou há pouco tempo de cursos de produção de queijos, uma oportunidade e tanto já que em sua propriedade, no distrito de São Salvador, o gado de leite é a principal atividade.

“No próprio curso foi dito que Cascavel será, em breve, um polo na produção de queijos. Vi aí que podia crescer ainda mais, principalmente na questão da qualidade”, comenta Ana Kelly, que além de agricultora é feirante.

Iria Vicente trouxe do campo a habilidade de fazer artesanato

Herança marcada à mão

E não é só da terra que os agricultores familiares vivem. Apesar de a agropecuária ser a grande fonte de renda, algumas mulheres dão um toque especial na profissão. É o caso da artesã Iria Vicente, que por vários anos morou na área rural de Cascavel e trabalhou duro na produção de leite. Ela conta que só mudou para a área urbana por conta do casamento, mas trouxe heranças aprendidas ainda enquanto morava com os pais.

“Faço artesanato há 25 anos, e em todo esse tempo vendi minhas artes na Feira do Produtor. Fui fazendo cursos de pintura e de técnicas de bordado e tenho aqui uma fonte de renda”, diz.

Em sua barraca tem de tudo um pouco. Toalhas de mesa, panos de prato, tapetes para a casa, uma diversidade de produtos feitos à mão com imagens que remetem às suas raízes.

Mais qualidade na mesa

A Agricultura Familiar também está presente nas escolas e Cmeis (Centros Municipais de Educação Infantil) de Cascavel. Nesses locais, parte do cardápio vem de tudo que é produzido pelos pequenos produtores. Só nas instituições, 70% do que é consumido é da AF, percentual bem acima do preconizado pelo governo federal, que prevê 30%, uma forma de escoar a produção dos agricultores familiares que atuam no município.

De acordo com o vereador Paulo Porto, em nível nacional a AF perfaz cerca de 70% da produção que alimenta o País, além de representar 75% da mão de obra no campo. O restante se refere à monocultura. “Cascavel não foge à regra por ser um município eminentemente agrícola”, afirma. Uma das vantagens desse tipo de produção, segundo Porto, é a redução do uso de agrotóxicos. “É um alimento mais saudável”, acrescenta.

O vereador ressalta que, apesar dos bons números, ainda é preciso avançar. “Faltam políticas de incentivo municipal e estadual. Hoje, temos uma gestão mais sensível ao debate, mas é necessário um projeto mais ambicioso, com parcerias com o Estado e União. Cascavel tem grandes possibilidades de avançar nessa questão”, garante. Uma das propostas, conforme Porto, é criar uma lei municipal para fixar em 70% o índice de repasse à merenda escolar. Segundo ele, é uma forma de fortalecer a AF e melhorar a renda das famílias.