Cotidiano

Uma galeria a céu aberto na Marina da Glória

RIO ? Uma grande escultura azul proporciona um novo recorte ao cenário plácido. Mais ao fundo, um objeto redondo de vermelho intenso contrasta com as cores locais. Duas telas vibrantes em lona, de 24 e 29 metros quadrados, pendem como bandeiras do prédio principal. Bacias de alumínio, enfileiradas na mureta que leva ao jardim desenhado por Burle Marx, reproduzem, com seu fundo espelhado, o horizonte. Há um certo movimento na Marina da Glória, e não é o dos barcos. A partir deste sábado hoje, e até o dia 18 de dezembro, quem for ao local vai se deparar com 22 obras, entre elas as de Franz Weissmann (?Cubo azul??), Artur Lescher (?Elipse # 07??), Delson Uchôa (?Rapsódia americana?? e ?Catedral??) e Zemog (?Bacias & espelhos??), citadas acima. E ainda com trabalhos de mais 16 artistas que compõem a exposição ?Marina monumental ? Arte na Marina Glória??, primeira edição de um evento que pretende se repetir ao longo dos anos.

? Gabriela Lobato, gestora da Marina e colecionadora, quis inserir o local no mundo da cultura ? diz Marc Pottier, curador da mostra. ? A ideia é que seja anual, desdobrando-se para outras manifestações artísticas.

A mostra foi produzida em 40 dias, depois da devolução do local, cedido para competições durante a Olimpíada do Rio. Por isso, em vez de obedecer a um eixo temático, que demandaria mais tempo, Pottier reuniu um escopo diversificado de artistas, recorrendo a galeristas. Há nomes históricos, como Weissmann, Amilcar de Castro e Almandrade, e contemporâneos, como Frida Baranek, Galeno e Paulo Vivacqua ? este último adaptou para o estacionamento a instalação sonora ?Floresta imaginária?? (2016), com oito canais de áudio. Eles descrevem a paisagem sonora de uma floresta, evocando, nas palavras do artista, um estado de apreensão permanente, ?numa atmosfera onde transitam INFOCHPDPICT000062769596e cruzam cantos, pássaros e visagens??.

Alguns criaram obras especialmente para o local. Como Dirceu Maués, jovem artista de Belém, residente em Belo Horizonte, que construiu ?Caixas de ver: [in]versões na paisagem??, com 54 tambores de óleo cujos fundos funcionam como uma câmera obscura, dialogando com o espaço. Caligrapixo, nome de destaque na street art de São Paulo, hoje representado por uma galeria, produziu uma obra que ocupa a parede externa de um prédio.

FOLHETO VAI MAPEAR AS OBRAS

Embora a maior parte das obras esteja ao ar livre, algumas foram dispostas dentro do prédio. Caso da instalação ?Solidão?? (2016), do artista de Santo André (SP) Giovani Caramello, com 1.200 pequenos monges em gesso; de ?Sobre tudo, mas não sobre qualquer coisa?? (2016), de Flavio Cerqueira; e de ?Desestruturas I?? (2015), do jovem André Azevedo, de 25 anos, que costura retalhos de tecido. Também ocupa uma sala ?Xilempasto 2??, de Henrique Oliveira, em madeira compensada e pigmentos. Ainda participam da mostra Antonio Bokel, Ursula Tautz, Luiz Philippe Carneiro de Mendonça, Ivani Pedrosa e Manfredo de Souzanetto. Um folheto será distribuído aos visitantes, com a localização e informações de cada obra.

A ocupação cultural deve se estender a outras áreas artísticas. A ideia é abrigar eventos no jardim de Burle Marx, que passa atualmente por restauração, com previsão de entrega em fevereiro. Mas exposições como a que abre hoje continuarão a se estender por todo o espaço.

? Queremos realizar de três a quatro exposições por ano, para colocar a Marina como ponto forte no circuito de arte ao ar livre do Rio ? diz Pottier.