Cotidiano

Uma cidade de contrastes

Considerada a quarta melhor cidade para negócios do Paraná, polo em ensino superior, referência à região na medicina, principalmente no tratamento de câncer, Cascavel ainda registra sérios problemas quando se olha para as minorias.

Hoje, no Dia Internacional de Combate à Erradicação da Pobreza, a dona de casa Jorgina Monteiro, que mora em uma área de invasão no Bairro Melissa, abre as portas de sua casa para lamentar uma realidade vivida há anos. Na residência, quase tudo que existe é fruto de doação, inclusive as madeiras e lonas utilizadas para a construção da casa.

“Foi o pessoal da Igreja Católica aqui do bairro que doou os materiais para que a gente pudesse erguer a nossa casa”, conta Jorgina.

No mesmo terreno e também nos que ficam mais ao lado, moram nove famílias, a maioria delas filhas e filhos de Jorgina. Entre eles, há 26 crianças, a menor com 19 dias e a mais velha com 13 anos.

Sem condições

“Faz três anos e meio que estamos aqui. Antes, eu, meu marido e meus filhos morávamos de aluguel. Com o tempo, não conseguimos mais pagar e fomos morar com minha sogra. Depois de uns meses, conseguimos um pedaço de terra aqui no Melissa e levantamos o nosso barraco”, diz Andressa Cristina Monteiro, que é filha de Jorgina e está desempregada.

Na casa de Andressa não tem banheiro. “Quando tem que usar vou na minha mãe. Como é área de invasão, a prefeitura disse que se a gente construir uma patente eles vão arrancar daqui”, afirma. O chão é batido, com muita terra. Quando chove, as goteiras alagam as casas e o barro toma conta de tudo. “É muito desagradável”, acrescenta.

Renda

O sustento dessas famílias vem basicamente da venda de recicláveis. O que para muitos representa lixo, para eles significa comida na mesa. O marido de Jorgina, que passa o dia nas ruas coletando esses materiais, arrecada todos os meses em torno de R$ 300. Ele recebe ainda um benefício de R$ 600 do INSS por conta de seus problemas de saúde. “É o que a gente tem pra passar o mês. Quando acaba, temos que dar um jeito”, afirma a dona de casa.

Já os vizinhos contam que a grande maioria dos moradores desta área de invasão tem como renda apenas R$ 500. “Não dá nem para pagar as contas, quem dirá comprar um lote, construir uma casa nova em um lugar melhor”, comenta Andressa.

Segundo a Secretaria de Assistência Social (Seaso), atualmente existem 1.390 famílias que vivem em extrema pobreza e possuem renda per capita abaixo de R$ 85 mensais. Por meio do Cras (Centro de Referência de Assistência Social), a Secretaria fornece auxílio alimentação e promove a inserção social confeccionando documentos pessoais e inscrevendo as famílias nos programas de assistência. “A secretaria ainda realiza esforços no sentido de contribuir para que a família tenha atendimento dentro da rede de serviços ofertada pelo Município”, informa a Seaso em nota.

Amarelada e com cloro

Água tratada, sem cheiro e sem cor não passa nem perto das residências desta área do Melissa. Quando se abre a torneira o cheiro e o gosto de cloro se misturam ao tom amarelado da substância. “Tem dias que não dá pra tomar, mas a gente se obriga porque só tem isso”, lamenta Andressa. Nas residências, a antiga fossa serve como sistema de esgoto.

o escritório regional da Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná), 117.091 imóveis do município são atendidos com sistema de coleta e tratamento de esgoto. As regiões que ainda não possuem sistema de coleta são algumas ruas dos bairros São Cristóvão, Canadá, Pacaembu e Morumbi. Para fechar 100% nestes locais está em curso a licitação das obras.

Já nos bairros Melissa, Julieta Bueno e Santos Dumont e parte dos bairros Esmeralda, Brasmadeira e Santa Felicidade não dispõem de sistema público de coleta e tratamento do esgoto. Para esses locais, não há prazo de implantação a curto prazo.

“Gatos”

Energia elétrica também é artigo de luxo a essas famílias. Para assistir televisão e manter os alimentos frescos na geladeira, o jeito é fazer os tradicionais “gatos” nos postes de luz. “Não tem o que fazer. Se a gente quer luz é por meio de gatos. Sei que não é o correto, mas quem mora aqui só tem essa opção”, comenta Jorgina.

A taxa de atendimento urbano da Copel (Companhia Paranaense de Energia) é de 100% em toda a área de concessão. Ligações em áreas críticas como invasões ou de preservação permanente dependem de autorização.