Cotidiano

Um lar para chamar de seu

No relatório entregue aos pais adotivos, em 2008, a história do menino Kaua Rafael da Silva Santos, vítima de agressão quando tinha apenas 20 dias de vida. Aos dez anos, é possível enxergar ainda as marcas daquele dia em seu rosto, atingido por uma garrafa de bebida pelas mãos da mãe biológica.

Aos cuidados da tia, Kaua foi deixado no Lar dos Bebês, em Cascavel, com dois meses, em 2007. Somente um ano após seu nascimento é que a zeladora Sueli Fátima da Silva e o pedreiro Antonio Ferreira dos Santos puderam realizar o sonho de ter uma família.

“Foram quatro anos de espera pelo nosso filho. Entramos na fila para adoção, entregamos todas as papeladas no Fórum e em 2008 recebi uma ligação que mudou tudo”, lembra a mãe.

Foi em um dia normal de trabalho que a assistente social deu a notícia que mudaria a rotina desta pequena família. “Quando atendi ao telefone e pediram pra gente ir conhecer o Kaua não consegui nem mais trabalhar. Foi uma emoção tão grande que quando cheguei ao Lar dos Bebês ele veio no meu colo e agarrou meu pescoço, como se dissesse que não queria sair dali”, conta Sueli.

A história de Kaua é semelhante a de outras 275 crianças e adolescentes que foram adotados entre 2011 e 2016 em Cascavel, conforme o SAI (Serviço Auxiliar da Infância). Somente neste ano, 28 adoções foram registradas no município.

Quem pode adotar?

Pessoas acima de 18 anos, solteiros, casados ou em união estável podem se candidatar a adoção. É necessário ainda agendar horário no SAI pelo (45) 3392-5126, onde receberão todas as orientações necessárias para dar entrada ao processo de habilitação para adoção.

Um grupo criado para ajudar

Aos três dias de vida, Isabela foi amor à primeira vista. Sem nenhuma dúvida, os pais Gisele e Henrique Plasse a levaram para casa após quase cinco anos de espera.

O quarto de princesa, todo rosa, é onde a pequena, hoje com sete anos, guarda os brinquedos. Entre eles, uma fila de bonecas, que enfeitam as prateleiras.

Todo o processo de adoção foi uma aprendizagem à família, que já tinha um filho biológico quando Isabela chegou. Para auxiliar outras pessoas que estão em processo de adoção, Gisele preside há seis anos o Gaac (Grupo de Apoio à Adoção de Cascavel). “O objetivo maior do grupo é levar profissionais, principalmente ligados à área da saúde, para que possam tirar quaisquer dúvidas dos pais e tranquilizá-los quanto à adoção”, explica Gisele.

O Gaac existe há sete anos e conta hoje com 70 participantes. Vale lembrar que mesmo após todo o processo, os adotantes podem continuar frequentando as reuniões, que ocorrem na última quinta-feira de cada mês.

Estágio de convivência

De acordo com a psicóloga do SAI, Gisele Castanheira, após a adoção existe o estágio de convivência, que é um período de adaptação da criança ou adolescente com os adotantes. “Uma equipe técnica da Vara da Infância acompanha, auxilia, orienta e dá suporte nesse período de vinculação entre pais e filho. Quando finda o estágio de convivência, correndo tudo bem, o juiz defere a sentença da adoção, que passa a ser irrevogável. A partir desse momento não há acompanhamento por parte da Vara da Infância à família, mas é claro que a equipe se mantém aberta e disponível sempre que as famílias precisarem de algum auxílio”, explica.

Meninas brancas e recém-nascidas

Conforme a psicóloga do SAI, Gisele Castanheira, em Cascavel há atualmente 32 casais/pessoas habilitados, aguardando por uma adoção. “Enquanto isso, temos 67 crianças e adolescentes aguardando para serem adotados”, relata.

Quando o assunto é adoção os cascavelenses estão bem exigentes. Conforme o SAI, a preferência é por meninas recém-nascidas a até três anos, brancas e com saúde perfeita. Em contrapartida, crianças acima de sete anos, com doenças como HIV/Aids, deficientes ou pertencentes a grupos de irmãos estão no fim da lista.

Essa exigência é o que, em alguns casos, enrola ainda mais o processo. O tempo médio de espera das famílias, conforme Gisele Castanheira, é muito variável. “De maneira geral podemos dizer que quanto mais restrito o perfil da criança desejada, maior o tempo de espera da família”, relata.

Sueli comenta que optou por um bebê negro, igual a cor da sua pele. Segundo ela, mesmo com poucas especificações, a espera foi longa e de muita ansiedade. “Os quatro anos que ficamos na fila foi muito tempo, chegou uma hora que até pensei em desistir. Mas no fim deu tudo certo”, diz a zeladora.