Cotidiano

Último pedido de Ferreira Gullar foi ?me leva para Ipanema?

Expo Ferreira Gullar

RIO ? O jornalista Zuenir Ventura esteve com Ferreira Gullar e sua família no hospital nos últimos dias. Ele conta que o poeta, que morreu nesta manhã de domingo, estava consciente da gravidade de seu estado de saúde e, numa decisão lúcida e corajosa, não quis prolongar sua vida por meio de aparelhos. Muito emocionado, Zuenir deu um depoimento ao GLOBO por telefone:

?O Brasil perdeu o intelectual mais lúcido e o maior poeta de sua geração. Ferreira soube como poucos conciliar ética, estética e política. Sendo que esta última levou-o à prisão e ao exílio. Inquieto, se insurgiu, em ?A luta corporal?, contra os códigos vigentes, uma atitude poética revolucionária. Depois, quando questionar virou uma categoria estética consentida, ele escreveu o ?Poema sujo?, provando que a linguagem poética pode ser também criativa ao se afirmar, não só ao se negar.

Às vésperas de morrer, consciente da gravidade de seu estado, Gullar recusou a opção que lhe ofereceram de prolongar sua vida artificialmente por meio de aparelhos. Respondeu que preferia abreviar o seu fim. Impressionado com a decisão, o médico confessou que nunca vira tanta coragem e lucidez assim. Essa vontade ele manifestou também para sua filha Luciana, que o acompanhava no hospital . A ela ele tentou confortar argumentando que tivera uma vida muito digna e não queria prorrogá-la sabendo que seria por pouco tempo.

Um de seus últimos apelos foi: ?Luciana, tudo isso é inútil. Me leva para Ipanema. Quero entrar no mar e ir embora?. Um final digno de figurar no ?Poema sujo??.