Cotidiano

UE insiste que regras de resgate para bancos italianos não mudarão

BRUXELAS – Novas regras de resgate para bancos em risco nos 19 países que compõem a zona do euro, que busca protegar contribuintes, não serão alteradas, sustentaram autoridades do bloco nesta segunda-feira em meio a preocupações com instituições financeiras italianas. Jeroem Dijsselbloem, presidente do Eurogrupo ? grupo dos ministros das Finanças do bloco ?, afirmou que os bancos da Itália apresentam problemas com créditos podres, mas não está em jogo criar ou mudar novas regras para lidar com a questão.

A inquietação em torno da situação financeira de bancos italianos cresceu após o referendo que resultou na saída do Reino Unido da União Europeia. O primeiro-ministro da Itália, Matteo Renzi, está em busca de formas de resgatá-los de uma pilha empréstimos inadimplentes que não estão sendo quitados.

? É algo que precisa ser lidado. Isso será lidado gradualmente ? disse Dijsselbloem em uma reunião do Eurogrupo. ? Não haverá grandes soluções. Não é uma crise aguda, então também nos dá tempo de consertar as coisas.

A autoridade afirmou que é importante que a zona do euro respeite os acordos, ?do contrário, tudo será questionado na Europa, e já muitas questões na Europa, então não precisamos de mais perguntas?.

UNICREDIT: REVISÃO ESTRATÉGICA

Os bancos italianos enfrentam cerca de ? 360 bilhões (US$ 400 bilhões) em créditos inadimplentes. Várias instituições registraram queda nas ações diante da situação. Terceiro maior banco da Itália e mais antigo do mundo, o Monte dei Paschi di Siena já foi alertado pelo BCE a reduzir fortemente os créditos podres e viu seus papéis recuarem em cerca de um terço desde o referendo britânico.

Nesta segunda-feira, o Unicredit anunciou o lançamento de uma ?revisão estratégica profunda? sob a gestão do novo diretor executivo Jean Pierre Mustier. A entidade é o maior banco italiano em ativos. Em comunicado, a instituição disse que buscará ?reforçar e otimizar a posição de capital do grupo, melhorar a rentabilidade?.

O Unicredit também anunciou que venderá até 10% de sua participação na subsidiária de internet banking Fineco Bank.

As ações do banco já caíram mais de 60% nos últimos seis meses, e fecharam nesta segunda-feira com recuo de 3%, a ? 1,85.

REGRAS APÓS CRISE BANCÁRIA

Qualquer tentativa de resgate financeiro que use dinheiro público pode enfrentar resistência da União Europeia, que recentemente introduziu novas regras para evitar repetir situações de apoio financeiro que afligiram o bloco. Durante a crise da dívida da região nos últimos anos, o cenário turbulento de alguns bancos foi a raiz da necessidade de planos de resgate, principalmente na Irlanda em 2010.

O dinheiro de pagadores de impostos agora só podem ser usados após bancos credores, como detentores de títulos, terem sido resgatados, o que significa que alguns perdem dinheiro antes de contribuintes quitarem as dívidas. Essa provisão busca manter os custos de ajudar bancos ao invés de sobrecarregar as finanças governamentais.

? Estabelecemos essas regras na saída de uma enorme crise bancária na Europa ? afirmou Dijssebloem. ? Acho que o resgate é um princípio econômico sólido que basicamente diz que aqueles investidores que põem dinheiro e colhem lucros em anos bons carregam perdas em anos ruins.

Dijsselbloem também criticou banqueiros que pedem dinheiro público quando enfrentam dificuldades.

? Sempre houve e sempre haverá banqueiros que dizem que precisam de dinheiro público para recapitalizar os bancos, e eu resistirei a isso fortemente porque novamente atinge o contribuinte e novamente aumenta a dívida soberana em países que são altamente endividados.

O ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schaeuble, apoiou Dijsselbloem quanto a respeitar as regras do bloco.

? Nós todos sabemos que as regras europeias que criamos como lição da crise financeira e bancária são feitas para evitar repetições ? afirmou. ? Elas oferecem possibilidades suficientes para responder adequadamente a cada situação.

Pier Carlo Padoan, titular das Finanças da Itália, por sua vez, procurou minimizar as preocupações levantadas por investidores.

? Vivemos um período de volatilidade ? declarou. ? Estamos passando por épocas de volatilidade há meses, inclusive após o Brexit.