Cotidiano

Turquia reage a comentários do papa sobre genocídio

201606251458140236_AFP.jpgEREVÁN, Armenia ? O governo turco reagiu neste sábado às declarações feitas pelo papa Francisco sobre o genocídio armênio durante sua viagem a Armênia. O pontífice insistiu que o mundo não deve esquecer nem minimizar o massacre na Armênia, ocorrido há um século durante o Império Otomano, mas exortou os armênios a levar sua memória coletiva com amor para que possa haver paz e reconciliação com a Turquia.

Os turcos, no entanto, não cederam. Em sua primeira reação ao reconhecimento de Francisco ao genocídio de 1915, o vice primeiro-ministro turco Nurettin Canikli classificou os comentátios do papa de “enormemente infelizes”, afirmando que levavam o selo da “mentalidade das cruzadas”. Para Canikli, o termo genocídio não é o correto.

Francisco começou o segundo dia de sua viagem à Armênia homenageando os mortos no genocídio e saudando os descendentes dos sobreviventes. O papa colocou uma coroa de flores em um monumento e rezou em silêncio.

“Aqui eu rezo com pesar no meu coração para que nunca volte a ocorrer uma tragédia como essa, para que a humanidade nunca se esqueça e saiba como derrotar o mal com o bem”, escreveu Francisco no livro de visitas do monumento. “Que deus proteja a memória do povo armênio. Que ela não seja esquecida e que seja fonte de paz no futuro.”

Francisco também saudou os descendentes dos cerca de 400 órfãos armênios que os papas Bento XV e Pio XV levaram à residência de verão, ao sul de Roma, na década de 20. Com o papa estavam Sosi Habeschyan, de 68 anos, e a irmã, cuja mãe ficou órfã no genocídio e foi adotada pela missionária dinamarquesa Maria Jacobsen, que trabalhou no Império Otomano em 1915 e escreveu sobre o massacre.

“Chegou uma benção à terra do Monte Ararat”, afirmou Andzhela Adzhemyan, refugiada síria de 35 anos, que foi uma das assistentes na cerimônia.”Recebemos a força e a confiança para manter a nossa fé cristã aconteça o que acontecer.”

O papa voltou ao tema da memória do genocídio armênio em Gyumri, onde milhares de pessoas se reuniram em uma praça para a única missa pública que Francisco rezará nos três dias de visita à Armênia. Na cidade, que fica no noroeste do país, o pontífice prestou homenagem aos que mantém a fé nos períodos de dificuldades.

“Os povos, como os homens, têm uma memória”, disse à multidão diante de um altar improvisado. “A memória de seu povo é antiga e preciosa.”

O papa pediu que Armênia e Turquia tomem “o caminho da reconciliação” e disse: “Que a paz também brote em Nagorno-Karabakh”.

Há tempos o Vaticano se aproxima da causa armênia, considerando a empobrecida nação de três milhões de habitantes, em sua maioria cristãos ortodoxos, como um bastião de fé em uma região majoritariamente muçulmana. A Armênia foi o primeiro país do mundo a adotar o cristianismo como religião de Estado, no ano 301.

A Turquia rechaça o termo genocídio, afirmando que o número de 1,5 milhão de mortos, citado por historiadores, está inflado. O país assegura que, na ocasião do colapso do Império Otomano durante a Primeira Guerra Mundial, as mortes aconteceram em ambos os lados.

Francisco usou a palavra genocídio pela primeira vez no ano passado, levando o governo turco a retirar seu embaixador do Vaticano e a acusar o papa de difundir mentiras.