ISTAMBUL ? A Justiça da Turquia ordenou a prisão de um representante da ONG Repórteres Sem Fronteiras, Erol Önderoglu, por propaganda terrorista. Ele participou de uma campanha em favor do jornal pró-curdo mais antigo do país, que já enfrentou diversos episódios de repressão. Sob a mesma acusação, também foram presos a presidente da Fundação de Direitos Humanos da Turquia, Sebnem Korur Fincanci, e o jornalista Ahmet Nesin.
Os três detidos exerceram por um dia a direção do jornal ?Özgür Gündem? para demonstrar apoio à publicação. Enquanto esperam por um julgamento definitivo, eles foram presos preventivamente nesta segunda-feira.
No total, 44 jornalistas e intelectuais já participaram da iniciativa ? dois quais 37 estão sendo investigados pela Justiça, mas ninguém havia sido preso até então.
Nas últimas duas décadas, o ?Özgür Gündem? já teve diversos profissionais presos pelas suas publicações que discutem a questão curda na Turquia. Recentemente, a repressão contra o jornal aumentou por conta da luta armada entre o PKK e as tropas turcas.
Antes de serem presos, os jornalistas afirmaram que a iniciativa da Justiça turca é uma ofensiva contra a publicação pró-curda. Com 38 anos de carreira, Nesin disse que nunca havia sido alvo de detenções pelo seu trabalho até hoje ? o que, para ele, evidencia a cada vez mais difícil situação da liberdade de imprensa no país.
? Dizer que estamos chocados com o que aconteceu é pouco ? disse ao El País o representante da RSF para a Europa Oriental, Johann Bihr. ? Fica óbvio que, quando as autoridades prendem um defensor da liberdade de imprensa tão proeminente como Erol Önderoglu, o que estão fazendo é enviar uma mensagem intimidatória ao resto. Indicar que ninguém está protegido.
REPRESSÃO À IMPRENSA
Segundo Önderoglu, 28 jornalistas turcos atualmente estão presos. A maioria deles pertence a veículos esquerdistas ou pró-curdos.
Os últimos sentenciados foram o editor-chefe do jornal ?Cumhuriyet?, Can Dundar, e o correspondente em Ancara, Erdem Gul. Detidos antes do julgamento, eles foram acusados de espionagem e de trabalhar com um clérigo baseado nos EUA contra a atual administração turca.
Em maio de 2015, Cumhuriyet publicou um vídeo com imagens da polícia encontrando armas em caminhões supostamente ligados à inteligência turca perto da fronteira com a Síria. Isso levantou suspeitas de que a Turquia estaria fornecendo armas aos rebeldes islâmicos no país vizinho.
Em resposta, as autoridades locais insistiram que os caminhões estavam, na verdade, levando suprimentos às minorias turcas no país.