Cotidiano

Turquia já passou por outros quatro golpes

Desde que foi instituída a República da Turquia, em 1923, o país já passou por quatro grandes golpes de Estado. Veja como foi:

1960: O primeiro golpe militar na História da República turca teve como alvos o primeiro-ministro Adnan Menderes e o presidente Celal Bayar, do Partido Democrático, que haviam começado a afrouxar as mais duras regras religiosas da era Atatürk, permitindo a reabertura de milhares de mesquitas, enquanto alienavam a oposição com leis de imprensa severas, ocasionalmente impedindo a publicação de jornais. As tensões crescentes levaram Menderes a instituir a Lei Marcial no começo do ano, mas em 27 de maio os militares derrubaram o governo, com o general Cemal Gursel assumindo o poder. O presidente, o primeiro-ministro e diversos integrantes do Gabinete foram presos e acusados de traição. Menderes acabou executado.

1971: Com a economia estagnada desde o fim dos anos 1960 e a inflação anual perto dos 80%, protestos se espalharam pelo país. Trabalhadores faziam manifestações frequentes, enquanto grupos de direita realizavam ataques. Assim, em março, os militares voltaram a intervir num esforço para “restaurar a ordem”. Memduh Tagmac, chefe do Estado-Maior, enviou memorando ao primeiro-ministro Suleyman Demirel acusando seu governo de levar o país à anarquia e exigindo a formação de “um governo forte e confiável, inspirado na visão de Atatürk”. Demirel renunciou horas depois, após se reunir com seu Gabinete. Os militares não assumiram o poder diretamente, pedindo a Nihat Erim, integrante do Partido Republicano do Povo, de direita, que formasse um governo provisório — o primeiro de diversos governos até 1973, quando Fahri Koruturk, oficial aposentado da Marinha, foi eleito presidente pelo Parlamento.

1980: A instabilidade política na Turquia continuou mesmo após o golpe de 1971, com 11 trocas de primeiros-ministros nos anos 1970. A economia, por sua vez, também se manteve estagnada, levando a violentos conflitos nas ruas entre grupos de direita e esquerda, com milhares de pessoas assassinadas. Assim, os militares já tinham começado a discutir a possibilidade de um golpe em 1979, até que em março de 1980 um grupo de generais decidiu seguir em frente. A ação, no entanto, acabou adiada diversas vezes até ser finalmente lançada em setembro, quando os oficiais anunciaram na TV estatal que estavam impondo Lei Marcial e dissolvendo o governo. Evren tornou-se presidente, e o oficial da Marinha Bulend Ulusu assumiu o cargo de primeiro-ministro.

1997: As eleições de 1995 deram grandes ganhos para o partido islamista Bem-estar, que assumiu o governo no ano seguinte à frente de uma coalizão. Assim, em 1997, os militares emitiram uma série de “recomendações” que o governo não teve opção senão acatá-las. O primeiro-ministro Necmettin Erbakan concordou com um programa educacional compulsório de oito anos para prevenir que os alunos se matriculassem em escolas religiosas, o hijab (lenço que as mulheres muçulmanas usam na cabeça) foi banido das universidades, entre outras medidas. Apesar disso, em 1998, o partido islamista acabou banido da política por cinco anos. Entre os antigos membros da agremiação estão o atual presidente Recep Tayyip Erdogan, que eventualmente seguiu em frente para fundar o Partido da Justiça e Desenvolvimento.