Cotidiano

Turismo de luxo se consolida no Brasil valorizando experiências exclusivas

SÃO PAULO – O Brasil aos poucos vai garantindo seu lugar no mapa do turismo de luxo internacional, com novos hotéis e um crescente público interno ávido por viagens de alto padrão. Essa é uma das tendências apontadas pela 6ª edição da Travelweek, evento voltado para o setor, organizado pela International Luxury Travel Market (ILTM), que reuniu 465 expositores de 63 países em São Paulo, no início do mês.

Estão todos de olho em um mercado que não parou de crescer, mesmo com os últimos anos de crise econômica. Segundo levantamento feito pelo banco Credit Suisse e apresentado pela organização da feira, nos próximos quatro anos o número de milionários no país aumentará de 168 mil para 229 mil, ou 37%. Para a América Latina a previsão é de 52% a mais de possíveis viajantes de alto padrão até 2020.

Presidente da Brazilian Luxury Travel Association (BLTA), que reúne 31 hotéis e operadoras de luxo no país, Guilherme Padilha explica que a crise econômica dos últimos anos não chegou a afetar o segmento:

— Ao contrário da indústria do turismo em geral, o nosso mercado está numa curva crescente. O câmbio atual não só deixou o país mais competitivo no mercado externo, como também incentivou o turismo doméstico. Em 2014, pela primeira, vez 50% dos hóspedes dos nossos associados foram brasileiros.

Para Padilha, o turismo de luxo no Brasil tem se destacado sobretudo nos pequenos resorts e hotéis butique que promovem experiências exclusivas, sem necessariamente criar um ambiente de ostentação. Essa é a tendência do mercado em geral.

— As pessoas estão dando mais valor às coisas imateriais, às experiências. O turismo de luxo está mudando, de material para imaterial — disse Letícia Abraham, porta-voz da consultoria de tendências WGSN, no evento.

DA PRAIA AOS ANDES, PÁSSAROS E GELEIRAS

Na opinião de Guilherme Padilha, da BLTA, um bom exemplo nacional do turismo de luxo que valoriza a experiência do hóspede é o Cristalino Lodge, em Alta Floresta, no Mato Grosso. Localizado em uma reserva particular de 11.399 hectares no sul da Amazônia, o hotel tem no contato com a natureza seu maior atrativo.

— Os quartos não têm televisão nem ar-refrigerado. Só há wi-fi nas áreas comuns. O foco é na experiência da floresta, com caminhadas, canoagem e observação de 600 espécies de pássaros — conta o diretor Alex da Riva.

Há dois anos o hotel (diárias a R$ 930 por pessoa) passou por uma grande reforma em suas áreas comuns e, em 2015, ganhou seu 18º quarto, o Bungalô Júnior, com 60 metros quadrados, ampla varanda e uma ducha ao ar livre. A estrutura do hotel é praticamente toda de madeira, em harmonia com as altas árvores do sul da Amazônia. Duas torres de aço de 50 metros de altura foram instaladas em pontos distintos da propriedade, para que hóspedes possam observar pássaros e outros animais, além de apreciar o pôr do sol. Um deque flutuante sobre o Rio Cristalino é outro destaque.

Menos rústico, o Nau Royal (diárias a R$1.120) também usa a natureza a seu favor. Na praia de Camburi, em São Sebastião (SP), o resort reformou seis de suas 15 suítes (todas com vista para o mar) no fim de 2015. O hotel também lançou o programa 4 Days, com uma série de atividades relaxantes, como ioga, alongamento, massagens e tratamentos faciais, reunidas em um pacote de segunda a quinta-feira. E, para não se estressar nem com o trânsito, o hóspede pode optar pelo serviço de transfer de helicóptero direto de São Paulo.

O turismo de luxo e experiência tem se consolidado no continente. Em 1º de julho começa a funcionar o Explora Valle Sagrado, no Peru. O resort (pacote de três noites a US$ 4.752) fica em uma antiga fazenda de milho nos arredores de Cusco e irá oferecer atividades combinando os aspectos naturais e culturais do Vale Sagrado dos Incas, como caminhadas por geleiras, passeios de bicicletas, visitas a povoados rurais.

Integração com a natureza também é a proposta dos três hotéis do grupo chileno Tierra, no Atacama, na Patagônia e na Ilha de Chiloé. Este último, aberto em setembro de 2014, passa por uma ampliação e, em 2017, passará de 12 para 22 quartos (pacote de duas diárias a US$ 1.290) .

Entre as grandes cidades sul-americanas, Bogotá se destaca. Só o grupo Four Seasons abriu duas unidades na capital colombiana nos últimos meses. Em outubro foi o histórico Casa Medina, dos anos 1940, a abrir as portas com a nova bandeira. Em abril foi a vez do Four Seasons Hotel Bogotá, com uma proposta mais moderna.

Montevidéu também tem novidades. A capital uruguaia foi escolhida para receber a primeira unidade da nova marca Hyatt Centric, que valoriza ambientes cosmopolitas e urbanos, fora dos Estados Unidos. A inauguração está prevista para 1º de junho e ficará no bairro nobre de Pocitos.

COLHA SUA PRÓPRIA AZEITONA

Já que a experiência anda tão importante no turismo de luxo, que tal fazer algo diferente na próxima viagem a Portugal? Colher azeitonas é uma das atividades oferecidas pelo Convento do Espinheiro, antigo prédio religioso do século XV convertido em cinco estrelas rural com 90 quartos, em Évora.

— E no final da estada, cada hóspede volta para casa com um vidrinho de azeite feito a partir das nossas 500 oliveiras — garante a diretora geral do hotel, Maria Carapinha.

O hotel (diárias a € 170) fez parte da delegação portuguesa, uma das maiores na Travelweek. O país se consolidou como importante destino de luxo para o público europeu e vem se especializando em produtos mais exclusivos. Como é o Vila Joya (diárias a €210), nos arredores do Algarve, com apenas 22 quartos de frente para uma praia quase deserta. Mas sua fama se deve mais ao restaurante, que ostenta há 17 anos duas estrelas do Guia Michelin. Comandada pelo austríaco Dieter Koschina, a cozinha é aberta, uma vez ao ano, a outros chefs estrelados, em um festival gastronômico no segundo semestre.

Outro tradicional destino de luxo presente na Travelweek foi a Suíça. A associação Swiss Deluxe Hotels apresentou seus dois novos membros. Aberto em 2014, o Chedi Andermatt (diárias a 360 francos suíços, ou R$ 1.280) é o primeiro cinco estrelas de Andermatt, estação de esqui menos conhecida internacionalmente. Com 105 quartos, o hotel ocupa a área de uma antiga base militar. O presente, no entanto, é um luxo só, com direito a uma espécie de “mordomo de esqui”, apenas para ajudar a carregar e a preparar o equipamento dos hóspedes na montanha. Com 56 quartos, o Alpina Gstaad (diárias a 850 francos suíços, ou R$ 3.035) tem, entre outras atrações indoor, uma sala para apreciadores de charutos inspirada nas fábricas cubanas e um spa Six Senses. Mas é a vista para as montanhas a grande atração do lugar.

De 27 de maio a 14 de junho de 2017 o Four Seasons Private Jet (US$ 135 mil por pessoa) fará o um roteiro inédito em seu portfólio de volta ao mundo. O “Culinary Discoveries” passará por destinos onde uso de ingredientes locais é valorizado, em roteiro idealizado pelo aclamado chef dinamarquês René Redzepi, do Noma. A viagem começa em Seul e segue para Tóquio, Hong Kong, Chiang Mai (Tailândia), Mumbai, Florença, Lisboa, Copenhague e termina em Paris, no Le Cinq, do Hotel George V. O tour é feito a bordo de um avião com 52 lugares em primeira classe.

Antes disso, em 20 de julho de 2016, acontecerá a viagem inaugural do Seven Seas Explorer, aquele que a Regent Seven Seas promete ser o mais luxuoso navio de cruzeiros. Serão 14 noites de Monte Carlo a Veneza, passando por Saint-Tropez, Ibiza, Barcelona e Split, entre outras. Depois ficará até o fim do ano em roteiros variados pelo Mediterrâneo, com paradas da Espanha a Jerusalém. A tarifa média é de R$ 30 mil por pessoa, e inclui refeições, bebidas (inclusive alcoólicas) e todas as excursões em terra, além de atrações a bordo, como a piscina de borda infinita do spa.

Em agosto será a vez do Grand Hibernian, trem de luxo do grupo Belmond, entrar nos trilhos. Ele fará roteiros de três a cinco noites pela Irlanda, sempre a partir de Dublin e passando por destinos como Cork, lagos de Killarney, Giant’s Causeway, Galway e até Belfast, na Irlanda do Norte. O trem acomoda 40 passageiros em cabines-suítes para até duas pessoas. A grande área comum é o Observation Car, que reproduz o ambiente de um elegante bar irlandês. Tarifas a partir de € 3.160.

Eduardo Maia viajou a convite da Travelweek São Paulo.