Cotidiano

Tucanos querem que Meirelles cuide da economia e se distancie da política

BRASÍLIA – Nas quase quatro horas de conversa para repactuação da participação do PSDB na coligação do governo de transição, o presidente interino Michel Temer fez um balanço das concessões que disse ter sido obrigado a fazer na fase pré-impeachment e o que fará após o afastamento definitivo da presidente afastada Dilma Rousseff. Foi uma conversa franca em que os dirigentes do PSDB manifestaram apoio ao ministro da Fazenda Henrique Meirelles, mas avisaram: que ele cuide da economia e deixe a política para o núcleo político.

Nas últimas semanas o clima entre tucanos e governo azedou por conta de concessões vistas como eleitoreiras por parte de Meirelles e o desconforto foi manifestado pelo presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), que pediu a Temer que retomasse o comando de seu ?time?. Na conversa considerada de ?altíssimo nível?, coube ao senador Tasso Jereissatti (PSDB-CE) enquadrar Meirelles.

? O ministro Meirelles tem todo nosso apoio e simpatia. Mas deixa o Meirelles cuidando da economia e deixa o núcleo político cuidando da política, sem deixar 2108 contaminar o ajuste que tem que ser feito ? cobrou Tasso.

Em contagem regressiva, Temer disse que o pronunciamento à nação no dia 07 de setembro, quando voltar da reunião do G20 na China, terá três eixos: a situação que encontrou o país, o que conseguiu fazer nesse período de interinidade pré-impeachment, e o que pretende fazer nos dois anos e quatro meses de governo efetivo. Ele fará um apelo ao apoio da sociedade para as medidas ?amargas? que terá que fazer. O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB) argumentou , na conversa, que a população terá que entender que ?margo mesmo é o desemprego?.

CONCESSÕES

No balanço, Temer disse que conseguiu fazer muita coisa nesses primeiros 100 dias, montar o governo em sete dias e a maior preocupação é votar a PEC do ajuste fiscal. Falou também das concessões que teve que fazer para manter a governabilidade.

? Nesse período o mais difícil foram as concessões. Mas os reajustes de salários foram negociados e deixados em documento no governo Dilma, não foi uma coisa só verbal. Se eu descumprisse eu não estaria aqui hoje, as corporações parariam o país ? disse Temer.

Para atender as reclamações de maior participação do PSDB no núcleo de decisões, ficou acertado que o líder do governo, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) vai ser chamado a participar de núcleos de trabalho criados para formulação de políticas e reformas. O ministro Moreira Franco sugeriu e foi acatado que Temer se reúna com grupos de 50 a 60 deputados, mostrando o que acontecerá ao país se determinadas medidas amargas não forem aprovadas.

Os tucanos cobraram pulso firme de Temer para implementar as reformas e as medidas de ajuste, sem concessões vistas como populistas.

? O Brasil está numa bifurcação . Tem o caminho mais fácil, da gastança e das concessões as corporações que nos levará ao abismo, ou o caminho mais tortuoso e mais difícil , das reformas estruturantes para coibir o aumento do endividamento, que nos levará a saída do abismo ? disse, na conversa, o líder Cássio Cunha Lima.

? Ou se faz esse ajuste para conter o endividamento agora, ou em 2025 100% do orçamento da União será para pagar dívida, previdência e folha de pagamento ? concordou o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.

Além de Aécio, Cássio, Aloysio e Tasso, participaram do jantar o líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy (BA) e o senador Ricardo Ferraço (ES). Na saída, Aécio deixou claro que os desentendimentos ficaram para trás.

? Vai haver um realinhamento e uma convergência claros do PSDB com o Governo ? disse Aécio.