Cotidiano

Trump pode sair prejudicado por agressividade sem precedentes em debate

WASHINGTON ? Em um debate cheio de acusações na noite de domingo, o republicano Donald Trump saiu mais uma vez derrotado pela sua rival democrata, Hillary Clinton, segundo pesquisas desta segunda-feira. Para analistas, o baixo nível sem precedentes dos ataques lançados pelo magnata pode desta vez complicar ainda mais a sua campanha na reta final antes da votação. Na tentativa de reverter o escândalo provocado pelo vazamento há dois dias de declarações machistas que ele mesmo fez em 2005, Trump fez de tudo para desestabilizar Hillary ao trazer à tona o passado do seu marido, o ex-presidente Bill Clinton, acusado de assédio sexual.

Perdendo partidários e apoio dentro do seu próprio partido, o republicano apresentou poucos argumentos a potenciais novos eleitores ? sobretudo em temas importantes como saúde e segurança nacional. Para analistas, ficou claro quanto sua candidatura está encurralada a um mês das eleições de 8 de novembro pelo tom ainda mais agressivo no seu discurso do que o normal. Entre as suas ofensas a Hillary, ele disse que ela tinha ?tremendo ódio no coração?; a chamou de ?diabo? e ?mentirosa?; e, ainda, disse que em seu governo ela já estaria presa. Por fim, também prometeu delegar um procurador especialmente para investigá-la se for eleito.

Com os ataques incessantes, o empresário nova-iorquino quis mostrar que não se acovardaria pela crise na sua candidatura e não se limitaria pelas convencionais normas de boa conduta. Segundo especialistas, Trump tentou reavivar a postura que fez dele uma força política irrefreável nos últimos 15 meses ? e reforçar que não está disposto a deixar a disputa presidencial, como muitos republicanos haviam pedido desde o vazamento do áudio constrangedor em que ele se gaba, com linguagem vulgar e palavrões, dos seus métodos para seduzir mulheres.

No entanto, os ataques pessoais podem ter prejudicado ainda mais a baixa popularidade de Trump entre as mulheres. A sua campanha já tinha dificuldades de atrair o voto feminino, e a situação ficou pior nos últimos dias com o vazamento do áudio. Para recuperar os votos, analistas dizem que ele deveria começar a mostrar mais humildade e candura.

As declarações de Trump no debate sobre o áudio vazado não acrescentaram nada de novo ao seu pedido de desculpas anterior. Ele disse que não estava orgulhoso das suas declarações no passado, mas justificou que aquela era ?uma conversa de vestiário?.

Apesar dos pedidos de líderes republicanos, Trump não evitou mencionar os escândalos sexuais dos anos 1990 envolvendo o então presidente Bill Clinton. Antes do debate, ele fez uma entrevista coletiva com três mulheres que já acusaram o marido de Hillary de assédio sexual. E, depois, as colocou na primeira fila para assistir ao espetáculo.

Mais uma vez, Hillary enfrentou o discurso de Trump com sorrisos de desdém e reviradas de olhos. A democrata começou o debate citando a popular primeira-dama, Michelle Obama: ?Quando eles baixam o nível, nós subimos?. Frente às interrupções frequentes do seu rival, a ex-secretária de Estado decidiu não protestar na esperança de que ele se afogase nas próprias palavras.

No entanto, sua estratégia pode ter sido menos eficaz do que no primeiro enfrentamento direto entre os dois candidatos. Quando a conversa se voltou aos impostos, à cultura política de Washington ou ao caso dos seus emails confidenciais, Trump conseguiu lançar alguns golpes certeiros e ganhar força.